Família de Nazaré: Exposição de cadáveres e o mistério do corpo humano

Exposição de cadáveres e o mistério do corpo humano

A Veja On Line vem essa semana tratando da exposição "Corpo humano: real e fascinante", em que cadáveres verdadeiros são expostos. Também a Folha On Line traz matéria a respeito. O curioso é que no mesmo local também está iniciando uma exposição de obras de Leonardo Da Vinci.

O autor é também cientista, professor de anatomia e biologia molecular. Um desafio ético da ciência de hoje é conseguir reconhecer o aspecto transcendente do corpo humano. Desde que o pensamento moderno reduziu o conceito de verdade só àquilo que pode ser empiricamente demonstrado, o corpo humano passou a ser estudado e visto apenas como uma máquina. Pode até ser reconhecido como uma máquina "fascinante" (como diz o título da exposição), mas máquina enfim. Uma máquina não tem dignidade, não inspira respeito.

Da parte da Igreja, porém, o ponto de vista é radicalmente distinto: o homem todo (em sua unidade de corpo e alma) é digno. Não se pode afirmar que a dignidade está apenas em um aspecto do ser humano, pois ele é uma unidade, e é essa unidade que foi feita à imagem e semelhança de Deus. Mais do que isso: com a ressurreição de Cristo, a Igreja entende que o corpo humano ganhou uma dignidade altíssima, pois destinado a refletir a presença de Deus já neste mundo e, com total transparência, no vindouro.

De uma maneira ou de outra, muitas outras pessoas se alinham ao pensamento da Igreja, haja vista a polêmica que essa exposição causou em outros lugares do mundo onde foi apresentada. Esse desconforto gerado em tantas pessoas, de credos e visões de mundo diferentes, pode ter sua raiz justamente naquela espécie de "instinto" que o ser humano sente a respeito da dignidade do corpo de seus semelhantes. Coloco a palavra instinto entre aspas, evidentemente, apenas para ressaltar que a razão humana vê, com clareza, que algo está errado numa exposição como essa. É o sentido da transcendência humana que está em jogo aí. Aliás, trata-se do mesmo sentido que nos faz enterrar nossos mortos, pois o corpo humano - esse mistério que manifesta a pessoa - também goza da mesma transcendência da pessoa, pois ele é pessoal.

Em uma notícia, fiquei sabendo que os cadáveres dessa exposição foram tratados com alguns produtos químicos, o que lhes deu a aparência de plástico. Talvez assim os que assistirem poderão ficar tranqüilos, convencendo-se de que se trata de algo artificial. Mas não. São pessoas como eu e você, que foram amadas, queridas, que sonharam, sofreram, sorriram, choraram, viveram. E que mereceriam ser tratadas com a dignidade que se devota a um irmão.

E com um efeito colateral muito ruim, simbolizado pela foto que ilustra essa postagem: exposições como essa acabam disseminando uma visão da realidade em que não existe o mistério e a dignidade humana, uma visão do corpo apenas como objeto de manipulação, uma visão de mundo em que não se consegue ver os sinais de Deus nas pessoas e nas coisas criadas. E quando não se consegue ver Deus, o próprio sentido do homem fica eclipsado. Filosófico demais? Imagine como seria a vida do menino que está na foto se ele perder a capacidade de enxergar o mistério e a transcendência em sua futura esposa, seus filhos, seus pais e irmãos!

4 comentários:

  1. Normalmente eu concordo com tudo o qu vc fala, mas nesse caso sabe como eu vejo? A oportunidade de mostrar às crianças o nada que o corpo é e o importante que a alma e o espírito são. Uma grande chance de dizer, veja o que vc é sem o que Deus infundiu em você. Veja o que acontece com as Xuxas e os Brad Pitts da vida... etc.

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  2. E, só por curiosidade, o que é que acontece com as Xuxas e os Brad Pitts da vida?

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  3. Acho que ele quis dizer que as Xuxas e Brad Pitts da vida também morrem. Parece que usou uma figura de linguagem para dizer que aquilo que essas pessoas representam (beleza, status, sucesso...) é "vento que passa", pois todos nós nos igualamos na morte. Pelo menos, foi o que eu entendi.

    Queria agradecer o comentário. De fato, essa vida é passageira. O corpo humano, no entanto, possui dignidade, de modo que merece ser sepultado com respeito. Foi isso que a matéria quis destacar. No meu entender, essa exposição reforça uma certa mentalidade dualista, segundo a qual o corpo é um objeto.

    Como tal, poderia ser "usado" à vontade. Não me parece uma visão cristã, nem, pois, uma visão antropologicamente adequada.

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  4. Acho que ele quis dizer que as Xuxas e Brad Pitts da vida também morrem. Parece que usou uma figura de linguagem para dizer que aquilo que essas pessoas representam (beleza, status, sucesso...) é "vento que passa", pois todos nós nos igualamos na morte. Pelo menos, foi o que eu entendi.

    Queria agradecer o comentário. De fato, essa vida é passageira. O corpo humano, no entanto, possui dignidade, de modo que merece ser sepultado com respeito. Foi isso que a matéria quis destacar. No meu entender, essa exposição reforça uma certa mentalidade dualista, segundo a qual o corpo é um objeto.

    Como tal, poderia ser "usado" à vontade. Não me parece uma visão cristã, nem, pois, uma visão antropologicamente adequada.

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