Família de Nazaré: Destaques da Sacramentum Caritatis

Destaques da Sacramentum Caritatis

Há poucos minutos, o site do Vaticano disponibilizou a Exortação Apostólica Sacramentum caritatis. Acabo de ler esse belíssimo texto. Depois de muita especulação, chamo a atenção para os seguintes pontos:

1. É o povo o protagonista na eucaristia? Não. Lembrando que a transubstanciação é operada pelo Espírito Santo, o Papa afirma que "é extremamente necessária, para a vida espiritual dos fiéis, uma consciência mais clara da riqueza da anáfora" (n. 13). Em última instância, a missa não é um ato do "povo" ou do celebrante; o protagonista é o próprio Deus. Creio que isso é decisivo para compreendermos que nossa atitude é mais de contemplação de um mistério, do que a participação em um ato comunitário: "a ação litúrgica nunca pode ser considerada genericamente, prescindindo do mistério da fé" (n. 34). Isso está em consonância com a matéria que postamos em 03/12/2006, entitulada Nossa atitude na santa missa.

Tal protagonismo é reforçado pelas palavras: "a Igreja pode celebrar e adorar o mistério de Cristo presente na Eucaristia, precisamente porque o próprio Cristo Se deu primeiro a ela no sacrifício da Cruz. A possibilidade que a Igreja tem de « fazer » a Eucaristia está radicada totalmente na doação que Jesus lhe fez de Si mesmo" (n. 14)

Na segunda parte da Exortação, Bento XVI usará como título a sugestiva passagem de Jo 6, 32: "Em verdade vos digo: não foi Moisés [e eu diria, nem a comunidade] que vos deu o pão que vem do céu; meu Pai é que vos dá o verdadeiro pão que vem do céu" (n. 34 e seguintes). É nessa parte que o Papa fala bem claramente: "Visto que a liturgia eucarística é essencialmente acção de Deus (actio Dei) que nos envolve em Jesus por meio do Espírito, o seu fundamento não está à mercê do nosso arbítrio e não pode suportar a chantagem das modas passageiras. Vale aqui também, sem dúvida, a advertência de São Paulo: 'Ninguém pode pôr outro fundamento diferente do que foi posto, isto é, Jesus Cristo' (1 Cor 3, 11)" (n. 37)

2. Ao relacionar a Eucaristia com o sacramento da Reconciliação, determina: "procure-se que, nas nossas igrejas, os confessionários sejam bem visíveis e expressivos do significado deste sacramento". Assim, que não sejam apenas objetos decorativos na Igreja. Ao se ajoelhar no confessionário, o fiel percebe melhor que o perdão dos pecados é um mistério que vem de Deus; mas quando a confissão é feita na sacristia, em pé ou os dois sentados, pode levar a acreditar que se trata de uma "direção espiritual", ficando em segundo plano o protagonismo do Espírito.

3. Dentre as reflexões sobre a relação entre Eucaristia e sacramento da Ordem, o Papa se deteve no problema da falta de sacerdotes. Chama a atenção para as famílias, onde os pais precisam educar seus filhos para estarem disponíveis à vontade de Deus (n. 25). Talvez esse ponto seja o coração da educação dos filhos. Que nós nos empenhemos nisso, mais do que nos empenhamos em dar a educação escolar ou pagar cursinhos, atividades esportivas, etc.!

4. Lembra também que a Eucaristia é sacramento esponsal, nela se manifestando o amor de Cristo Esposo pela Igreja Esposa. Todo amor entre homem e mulher no matrimônio tem sua fonte na Eucaristia. A Eucaristia manifesta a irreversibilidade do amor de Deus por nós, e como conseqüência também o amor do homem e da mulher são irreversíveis. Eis o fundamento da indissolubilidade do matrimônio. Daí não poderem ser admitidos a comungar os fieis divorciados novamente casados, "porque o seu estado e condição de vida contradizem objectivamente aquela união de amor entre Cristo e a Igreja que é significada e realizada na Eucaristia. Todavia os divorciados re-casados, não obstante a sua situação, continuam a pertencer à Igreja, que os acompanha com especial solicitude na esperança de que cultivem, quanto possível, um estilo cristão de vida" (n. 29)

Também determina que os sacerdotes se abstenham de "abençoar estas relações para que não surjam entre os fiéis confusões acerca do valor do matrimónio" (n. 29). Assim, nada de o padre chamar o casal e, na impossibilidade de realizar um casamento já que os dois são divorciados, abençoá-los publicamente. Um padre pode achar que está agindo pastoralmente quando assim faz, mas deve se lembrar que o amor também implica na adesão à verdade. Isso está em perfeita consonância com o ensinamento de João Paulo II, citando o ensinamento anterior de Paulo VI: "A pedagogia concreta da Igreja deve estar sempre ligada e nunca separada da sua doutrina. Repito, portanto, com a mesmíssima persuasão do meu Predecessor: 'Não diminuir em nada a doutrina salutar de Cristo é eminente forma de caridade para com as almas'" (João Paulo II, Exort. Apost. Familiaris Consortio, 22 de novembro de 1981, n. 33).

5. Quanto ao canto litúrgico, o Papa lembra: "Verdadeiramente, em liturgia, não podemos dizer que tanto vale um cântico como outro; a propósito, é necessário evitar a improvisação genérica ou a introdução de gêneros musicais que não respeitem o sentido da liturgia. Enquanto elemento litúrgico, o canto deve integrar-se na forma própria da celebração; consequentemente, tudo — no texto, na melodia, na execução — deve corresponder ao sentido do mistério celebrado, às várias partes do rito e aos diferentes tempos litúrgicos" (n. 42). Alguns andaram especulando que o Papa faria voltar o canto gregoriano como única forma de canto na liturgia. Não foi isso que aconteceu, pois o Santo Pedre apenas manifestou o desejo de "que se valorize adequadamente o canto gregoriano, como canto próprio da liturgia romana" (n. 42).

6. As leituras devem ser feitas por pessoas bem preparadas, pois é Deus quem fala através da leitura (n. 45). É errado, portanto, colocar crianças que mal saibam ler, ou jovens que estão participando de um encontro mas que tampouco estão preparados para ler. Pode parecer que se está valorizando o moço, mas no fundo está se desvalorizando a Eucaristia.

7. E a saudação da paz? Em nosso tempo de tantos conflitos, é natural que os fiéis manifestem de modo especial o desejo pela paz. Mas isso não pode transformar a saudação da paz em "comemoração de gol" da paz. Não se pode perder a sobriedade nesse momento. Sair dos bancos, dar tchauzinho para trás, são atitudes que nos fazem perder o foco principal. E diz o Santo Padre: "durante o Sínodo dos Bispos foi sublinhada a conveniência de moderar este gesto, que pode assumir expressões excessivas, suscitando um pouco de confusão na assembleia precisamente antes da comunhão. É bom lembrar que nada tira ao alto valor do gesto a sobriedade necessária para se manter um clima apropriado à celebração, limitando, por exemplo, a saudação da paz a quem está mais próximo" (n. 49).

8. Todos devem participar ativamente da missa. Mas o que é participação ativa? Seria fazer com que alguém da comunidade fizesse a homilia? (eu já vi isso acontecer). Ou deixar que pessoas não ordenadas - os chamados ministros extraordinários da Eucaristia - sejam as únicas a dar a comunhão? (também já vi isso acontecer, o padre foi para junto dos músicos cantar, enquanto a Eucaristia era distribuída por algumas senhoras). Certamente, não é esse o significado de "participação ativa". Diz o Pontífice que a participação ativa "deve ser entendida, em termos mais substanciais, a partir duma maior consciência do mistério que é celebrado e da sua relação com a vida quotidiana" (n. 52). Na verdade, trata-se de uma celebração interiormente participada (n. 64). Uma condição especial para que essa partipação ativa aconteça é o desejo sincero de conversão por parte do fiel (n. 55). E Bento XVI diz mais ainda: "a participação ativa na mesma não coincide, de per si, com o desempenho dum ministério particular; sobretudo, não favorece a causa da participação activa dos fiéis uma confusão gerada pela incapacidade de distinguir, na comunhão eclesial, as diversas funções que cabem a cada um. De modo particular, convém que haja clareza quanto às funções específicas do sacerdote" (n. 53).

9. Missa em latim? Muito se falou sobre isso ultimamente. Mas não, o Papa não fez retornar a missa em latim. O que fez foi solicitar que seja usado o latim naquelas missas em que participam pessoas de várias partes do mundo, como no caso de encontros internacionais (n. 62)

Ficam aqui esses destaques. Você chamaria a atenção para algum outro ponto do documento? Pode deixar no espaço reservado aos comentários!

2 comentários:

  1. Primeiro de tudo obrigado pela visita ao Dominus Vobiscum! Muito interessante seu Blog. Certamente visitarei mais vezes!

    Abraços
    Cadú - Comunidade Canção Nova
    http://blog.cancaonova.com/dominusvobiscum

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  2. Muito boa a maneira que o documento nos é apresentado: de forma sucinta.

    É importante divulgarmos isso, pois muitos católicos não tem a menor idéia...

    Silvio

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