Família de Nazaré: Deturpações jornalísticas

Deturpações jornalísticas

Um dos maiores desafios para as famílias é conseguir uma adequada educação para a mídia. Por isso, nos dedicamos também a comentar o que acontece em todo tipo de mídia (TV, filmes, jornais, revistas, internet, etc). Publicamos abaixo um artigo muito interessante que recebemos no boletim dos Cooperatores Veritatis.

"É assim que se faz jornalismo?

A edição de 20 de setembro da Revista Isto é – considerada uma das três principais revistas semanais do Brasil – trouxe reportagem sobre o Papa Bento XVI. Intitulado “A suave rebeldia do Papa” o texto de Célia Chaim é desastroso: peca em originalidade e em veracidade. Enfim, é o mais triste exemplar do despreparo com que a imprensa brasileira – e grande parte da mundial – lidam com a temática religiosa.

A reportagem comete erros grosseiros que demonstram que a editora não tem o mínimo conhecimento da religião católica e, ainda assim, arvora-se no direito de analisar o papado de Bento XVI e questioná-lo. A mesma jornalista que afirma absurdos como o de que a primeira encíclica do Papa – Deus Caritas Est – serviu para nomear cardeais e que o sexto mandamento é “não matar”, questiona: “até quando a Igreja Católica será vítima da duradoura miopia do Vaticano, onde ainda prevalece a disciplina da Igreja e as costas viradas para o clero progressista?”

Além da total incompreensão da temática a que se propôs analisar, a reportagem assinada utiliza longos trechos de outras reportagens sem citar a fonte. O boletim Cooperatores Veritatis pesquisou e encontrou as fontes que foram (mal) utilizadas.

Cópia das palavras de Messori

Embora a editora não tenha dado nenhuma referência descobrimos que o seguinte trecho, no primeiro parágrafo, é uma cópia (em algumas partes, idêntica) das palavras do jornalista católico italiano Vittorio Messori.

Isto É:

“[o Papa] tem surpreendido muitos católicos, antes desanimados, com a simplicidade que marca seus esforços e decisões para tornar a Igreja menos "papacêntrica". Não quer que a Igreja se converta exclusivamente no homem que a guia. Procura ser o menos invasivo possível.”

Messori:

"Ratzinger quer tornar a Igreja menos ‘papacêntrica’. O carisma de Wojtyla, de alguma maneira, fez com que a Igreja se identificasse com um homem, mas Ratzinger procura ser o menos invasor possível. Não quer que a Igreja se converta exclusivamente no homem que a guia".

A entrevista de Messori – de onde saíram estas palavras - ao jornal italiano Corriere della Sera pode ser encontrada traduzida em ACI Digital (www.aciprensa.com)

Na encíclica ‘Deus é Amor’ o Papa nomeou cardeais?

O que segue – no segundo parágrafo da reportagem – é de uma ignorância inacreditável. Compare o que foi escrito – novamente sem citação – com o original (uma reportagem da BBC Brasil).

Isto É:

“As mudanças iniciadas por Bento XVI tiveram um marco: a encíclica Deus é amor, lançada no começo do ano. No documento, ele nomeia 15 novos cardeais e começa a mexer na poderosa cúpula romana.”

BBC Brasil:

“O papa Bento 16 divulgou o seu primeiro documento - a Encíclica "Deus é Amor" -, nomeou 15 novos cardeais e começou a mexer na poderosa Cúria Romana.”

“Não matar” é o quinto ou o sexto mandamento?

Neste próximo fragmento – de uma entrevista do Papa no mês de agosto à Radio Vaticano - o leitor atento se dará conta que há uma informação equivocada quanto ao mandamento “não matar”, que é o quinto e não o sexto. Mas ela está citando o Papa. Será que foi o Papa que errou a ordem dos mandamentos? Leia os dois textos e veja o que aconteceu.

Isto É:

“No que se refere ao aborto, ele [o Papa] recorre ao sexto mandamento – não matar – para reforçar sua condenação”.

Papa Bento XVI:

“No que se refere ao aborto, ele não entra no sexto, mas no quinto mandamento: "Não matar!". E isso nós devemos pressupor como óbvio, reafirmando sempre que a pessoa humana tem início no seio materno e permanece pessoa humana, até seu último suspiro. Por isso, deve ser sempre respeitada como pessoa humana”.

A ‘cegueira’ do Papa! Quem viu?

Em seguida retorna à entrevista do Papa (como se tivesse se referindo a outra entrevista, quando em verdade é a mesma). Aqui ela questiona a “cegueira” do Papa em relação aos problemas da África, citando um recorte de uma resposta de Bento XVI. Veja mais abaixo a resposta completa do Papa onde pode se notar sua preocupação ampla com a problemática africana.

Isto É:

“Numa de suas raras entrevistas, foi indagado sobre outro ponto polêmico no comportamento da Igreja Católica em relação a problemas cruciais como, por exemplo, a fome, a miséria, as epidemias. “Em toda a África e também em muitos países da Ásia temos uma grande rede de escolas de todos os níveis onde, antes de tudo, se pode aprender, adquirir verdadeiro conhecimento profissional e, com isso, obter autonomia e liberdade.” Seus críticos não o perdoaram por tamanha cegueira em relação a um povo faminto até a alma. Foi um grande deslize, para muitos imperdoável a um pastor bem-intencionado. “Foi uma demonstração de que ele ainda não se livrou completamente do elitismo de seus antecessores”, comentou um jornal italiano”.

Bento XVI:

“Nós necessitamos de duas dimensões: é preciso, ao mesmo tempo, a formação do coração – se posso assim me expressar – com o qual a pessoa humana adquire as referências e aprende, assim, a usar corretamente a técnica, que também é necessária. E é isso que procuramos fazer. Em toda a África e também em muitos países da Ásia, temos uma grande rede de escolas de todos os níveis, onde, antes de tudo, se pode aprender, adquirir verdadeiro conhecimento e capacidade profissional, e, com isso, obter autonomia e liberdade. Nessas escolas, procuramos não apenas ensinar o know-how, mas também formar pessoas humanas que queiram reconciliar-se, que saibam construir e não destruir, e que tenham as referências necessárias à convivência. Em grande parte da África, as relações entre muçulmanos e cristãos são exemplares. Os bispos formaram comissões conjuntas, com os muçulmanos, para buscar estabelecer a paz nas situações de conflito. E essa rede de escolas, de aprendizagem e de formação humana, que é muito importante, é completada por uma rede de hospitais e de centros de assistência, que alcança, de maneira capilar, até mesmo as aldeias mais remotas. E em muitos lugares, depois de todas as destruições da guerra, a Igreja permanece como único poder intacto - não poder, mas realidade! Uma realidade onde se tratam também os doentes de AIDS, e onde, por outro lado, se oferece uma educação que ajuda a estabelecer as justas relações com os demais. Por isso, creio que deveria ser corrigida a imagem segundo a qual semeamos, em torno a nós, somente rígidos "Não!". Exatamente na África, se atua muito, para que as diversas dimensões da formação possam se integrar e, assim, se torne possível superar a violência e também as epidemias, entre as quais precisamos incluir também a malária e a tuberculose”.

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