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30 abril 2007

Educação dos filhos: os exemplos arrastam

Vendo o filme abaixo, duas frases me vêm à cabeça:

  • É na educação dos filhos que se revelam as virtudes dos pais
  • Os defeitos dos filhos são filhos dos defeitos dos pais

Sei que a educação não determina ninguém. Dois irmãos podem receber a mesma educação dos pais, mas se comportarem totalmente diferente. Mas é também certo que a educação influencia muito na vida de todos nós.

Agradeço ao Silvio, por ter publicado esse video em seu Coisa Fácil.


27 abril 2007

Células-tronco embrionárias: o debate é entre cientistas x religiosos?

No interessante blog O possível e o extraordinário, Wagner Moura menciona uma verdade, trazendo vários links a respeito de sua assertiva:
Quando o assunto é “início da vida”, os principais jornais brasileiros costumam agrupar os debatedores em dois grupos: os cientistas e os religiosos.

Pois é. Existe um preconceito contra todo aquele que se diz contrário ao uso de células-tronco embrionárias em tratamentos ou em pesquisas, pois toda vez que se levanta um argumento desse tipo, seja qual for o argumento, a pessoa já é vista como "influenciada pela religião". E, como numa cascata, outras etiquetas vêm associadas à pessoa: sectária, insensível, obscurantista, descolada da realidade, etc. Ou seja, pessoa desqualificada para um debate sério.

Para desfazer essa inverdade muito bem apontada pelo Wagner, basta verificar quem foi convidado para participar da audiência pública realizada pelo Supremo Tribunal Federal sobre o uso de células-tronco embrionárias em tratamentos médicos e em pesquisa (anunciada pelo Família de Nazaré anteriormente).

Dentre aqueles que se manifestaram contrários ao uso de células-tronco embrinárias, estavam: Lenise Aparecida Martins, doutora em Microbiologia e Imunologia, professora-adjunta do Departamento de Biologia Celular da Universidade de Brasília (UnB); Cláudia Maria de Castro Batista, PhD em neurociências, professora da Universidade Federal do Rio de janeiro (UFRJ); Lílian Piñero Eça, PhD em Ciências no programa de Biologia Molecular pela Universidade Federal de São Paulo, presidente do Instituto de Pesquisa com células-tronco; Alice Teixeira Ferreira, pós-doutora na Research Division of Cleveland Clinic Foundation, Ohio, Estados Unidos; Marcelo Paulo Vaccari Mazzetti, Mestre em Cirurgia e Experimentação pela Universidade Federal de São Paulo. A lista completa dos participantes está aqui.

Para uma visão geral do assunto, você pode dar uma olhada nas Notícias do site do STF: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 20, 21, 22, 23, 24, 25, 26, 27, 28, 29, 30, 31, 32, 33.

Não deixe de ler também A que espécie pertence o embrião humano?, da Dra. Lenise Aparecida Martins, participante da audiência, escrevendo já depois dela.

Há também uma interrantíssima discussão no Orkut sobre o tema, também com a participação da Dra. Lenise.

Também vale a pena dar uma olhada no blog O possível e o extraordinário na postagem Dá pra ouvir!!!

(a foto que ilustra essa postagem é de um embrião estourado para que fossem retiradas suas células-tronco)



25 abril 2007

Emissoras de TV não querem classificação indicativa

Em 8 de março, escrevi o post Educomunicação, no qual me referi à Portaria nº 264/02, do Ministério da Justiça, que trata da classificação indicativa da programação de TV, tendo em vista os direitos da criança.

Naquela época, convidei o amigo leitor a se informar sempre sobre o assunto. Agora, venho indicar as notícias que aparecem hoje na imprensa a respeito da batalha que está sendo travada entre os meios de comunicação e o Ministério de Justiça sobre o assunto. Veja as seguintes matérias:

1. Justiça libera programação na TV aberta
As redes de TV obtiveram liminar em mandado de segurança que anula a obrigatoriedade de exibir programas nos horários determinados pelo governo. Com a decisão, mesmo a programação classificada como imprópria a crianças e adolescentes fica autorizada a ir ao ar em horário livre (antes das 20h). Lei mais.

2. Emissoras de TV não admitem regras, diz especialista
Para o sociólogo e professor de comunicação da USP Laurindo Lalo Leal Filho, a movimentação das redes de TV para barrar classificação indicativa na TV aberta é "uma demonstração pública do atraso cultural do país". Leia mais.

3. Cabe aos pais decidir o que crianças vêem na TV, diz Abert em nota
A Abert (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e TV) divulgou nota em que reafirma sua posição contrária à obrigatoriedade de exibir programas nos horários determinados pelo governo. Leia mais.

4. Liberação de programação na TV será prejudicial, diz ministério
A decisão do STJ (Superior Tribunal de Justiça) que libera as emissoras de TV da classificação feita pelo Ministério da Justiça terá um "efeito deletério para a criança e o adolescente, caso as emissoras usem conteúdo inadequado". A avaliação foi feita nesta quarta-feira pelo diretor do Departamento de Justiça e Classificação do ministério, José Eduardo Romão. Leia mais.

Todas as notícias foram retiradas do Folha On Line.


24 abril 2007

Camisinha nas escolas e cartilha sexual para os jovens. Você aprova?


É. Parece que o governo está realmente empenhado em dar uma educação bem variada aos nossos jovens.

Leia Mais e Veja um Vídeo...

comentei aqui o projeto do governo de colocar máquinas automáticas para distribuir camisinhas nas escolas. Volto ao tema, que está ganhando cada vez mais projeção, por sua evidente importância.

O Globo on line publicou uma matéria muito estranha. Segundo uma pesquisa realizada, 63% dos pais seriam favoráveis a essa medida. Quando aparecem pesquisas, estatísticas, números, as pessoas têm a tendência de acreditar cegamente, como se fossem coisas exatas. Mas é necessário cuidado, pois a exatidão é só aparente, já que tudo depende da maneira como a pesquisa é realizada. Como dizia o estadista inglês Benjamin Disraeli (1804-1881) a respeito do perigo desse tipo de informação: "Existem três tipos de mentira: mentira, mentira deslavada e estatística". Diante de toda pesquisa devemos sempre nos perguntar: quais os critérios usados, como as pergundas foram formuladas, etc.

E basta ver os comentários na própria matéria do Globo on line para verificar que não é bem verdade que os pais aprovem tal medida. As pessoas costumam se manifestar de forma bastante contrária ao projeto.

Jozão é um deles. De maneira bastante plástica, faz uma analogia:

Essa situação é comparável a se entrar em um avião que não recebe manutenção, pilotos não são capacitados, operadores estressados, transponders desligados, pistas alagadas, etc., e dar um pára-quedas aos passageiros.
E Weslei Vaz Esteves, no mesmo sentido:
Uma iniciativa deste tipo só faz aumentar o número de jovens "irresponsáveis" que fazem de uma relação sexual uma brincadeira. Para dar ao jovem um conhecimento maior sobre a sexualidade a educação deve partir dos pais, com uma orientação saudável sem colocar um objeto (camisinha) nas mãos de "crianças" que muitas vezes são estimuladas por este, a uma relação irresponsável, sem a devida preparação, incentivando uma prostituição maquiada, fazendo de seus corpos objetos.
E não é só. Reinaldo Azevedo, em seu blog da Veja on line, publica o artigo chamado Salvem as suas crianças de Lula. Ou não. Eu salvo as minhas. Convido você a ler com atenção essa matéria (clicando nesse link, você será levado à página. Basta ir descendo para encontrar o texto. Veja também os comentários).

Ele é um dos primeiros que aborda de maneira crítica a cartilha que o governo pretende distribuir nas escolas. Segundo ele:
A cartilha sexual de Lula é destinada a jovens entre 13 (!!!) e 19 (!!!) anos, como se essa faixa etária existisse. Observem: estamos falando praticamente de uma criança e de um adulto, ambos expostos à mesma informação e, lamento dizer, estimulados a praticar sexo, inclusive entre si — o que pode até configurar crime. Tanto uns quanto outros lerão nas cartilhas entregues por Lula coisas assim:

- O beijo é como chocolate por "aguçar todos os sentidos" e "liberar endorfinas". E tem uma vantagem: "queima calorias", ao contrário do doce.

- Há espaço na cartilha para o estudante — de 13 a 19 anos, reitero — relatar suas “ficadas”. E o governo federal ensina que ficar compreende “beijar, namorar, sair e transar”.

- O pênis com a camisinha é chamado de “O pirata de barba negra e de um olho só [que] encontra o capuz emborrachado". A associação entre pênis e pirata merece um estudo...

- O uso dos verbos no imperativo não deixa a menor dúvida: “Colocar o preservativo pode ser uma excelente brincadeira a dois. Sexo não é só penetração. Seduza, beije, cheire, experimente!".

A cartilha de Lula é pornografia pura e simples. E eu não lastimo apenas o gosto estético de quem redigiu, mas também a saúde mental. Quem se dirige a crianças e adolescentes nessa linguagem tem problema. Precisa se tratar. Se algum adulto, na minha presença, referir-se a sexo, nesses termos, com as minhas filhas no ambiente, leva um tapão na orelha. Leva um pé no traseiro.
(Veja aqui um video sobre a cartilha)

Algumas autoridades já se posicionam contrários à medida. A Tribuna de Vitória publicou a reportagem Sedu proíbe camisinhas em escolas, noticiando que as unidades da rede pública do Espírito Santo não distribuirão preservativos. Segundo a subsecretária da Secretaria de Estado da Educação (Sedu), “nós entendemos que nossos alunos têm diferenças culturais e religiosas que devem se respeitadas. Por isso, optamos por não distribuir”.

O G1, site de notícias da Globo, também noticiou o posicionamento contrário de Cristóvam Buarque. Segundo a notícia:
Para o senador e ex-ministro da Educação Cristovam Buarque (PDT-DF), o plano de implantar máquinas de camisinhas na rede pública é superficial e não toca na questão fundamental: a conscientização dos adolescentes. “O problema não é a falta de dinheiro para a compra de preservativos, mas a falta de educação sexual.” O senador diz temer os efeitos que o contato direto de crianças e adolescentes com as máquinas poderia trazer. “Temo que isso estimule a iniciação sexual precoce dessas crianças.”
O problema da AIDS ou gravidez precoce não é um problema técnico (do tipo como fazer) mas um problema ético (do tipo o que devo fazer). Acho que apostar as fichas nos preservativos é encarar a questão de modo equivocado. O governo americano tem se empenhado em uma educação sexual que privilegie a abstinência. Embora recentemente tenha sido divulgado que tais programas não têm alcançado resultados positivos, acredito que é necessário se aprofundar mais nesta linha de ação. Especialmente, devem ser fomentadas aquelas instituições civis que favoreçam essa educação - família, grupos de apoio, igrejas -, uma vez que nesta matéria não basta uma informação tecnicamente adequada, mas principalmente a presença de pessoas com vínculo real com o jovem. Penso, assim, que o Estado deve fomentar a educação na abstinência, apoiar instituições que o façam de maneira mais eficiente.



20 abril 2007

Ouça o hino da visita do Papa ao Brasil

Clique aqui para ouvir o hino da visita do Papa ao Brasil. Antes mesmo de ser lançado, o CD já vendeu mais de 50 mil cópias, tornando-se, assim, um Disco de Ouro.

Por incrível que pareça, a CNBB publicou a letra do hino errada, no que foi seguida por outros órgãos de comunicação.

No site do Governo do Estado de São Paulo, você pode ver o roteiro da viagem do Sumo Pontífice. Um dos momentos que promete ser de grande emoção é a visita à Fazenda da Esperança, em Guaratinguetá, uma belíssima experiência do poder do Evangelho também junto aos traficantes e viciados em drogas.

16 abril 2007

A Igreja achava que os índios não tinham alma?

É uma das grandes e numerosas inverdades que alguns livros didáticos apresentam para nossas crianças. Chegando o dia do índio (19 de abril), penso ser oportuno levantar essa questão para que observemos o material didático de nossos filhos e procuremos restabelecer a verdade para eles.

Evaristo Eduardo de Miranda, doutor em ecologia e pesquisador do Embrapa, escreveu o artigo Em defesa dos indefesos, no jornal Ciência e Fé. Ali, afirma:

Em abril, comemora-se o dia do Índio. Existem muitas lendas. Já escrevemos aqui sobre uma delas, segundo a qual, no momento da descoberta da América, a Igreja teria discutido se os índios eram seres humanos, com alma. A tese era relevante pois permitiria escravizá-los. Quem defendia tal tese, eram os verdadeiros desalmados. E com eles, a Igreja discutiu e enfrentou-se. Sua defesa dos povos indígenas foi uma constante, até hoje.

Apesar dos relatos poéticos e enfáticos de Pero Vaz de Caminha sobre os gentios da Terra de Santa Cruz, os índios foram escravizados, mesmo se defendidos pelos padres. O Papa Paulo III (veja gravura ao lado) foi obrigado a intervir, a sustentar seus missionários, a sua Igreja e a afirmar, solenemente, em sua bula Sublimis Deus, de 1537, que os índios eram homens e tinham alma. E naquele tempo, uma bula papal contava muito mais do que nos dias de hoje. Era como se fosse uma espécie de resolução da assembléia geral da ONU. Aliás, a bula Sublimis Deus é considerada pelos juristas a primeira declaração universal dos direitos humanos, enfrentando grupos que só viam seus interesses, lucros e negócios.

Essa Carta Magna dos índios, proclamou solenemente: "Nós, ainda que indignos, exercemos na terra o poder de Nosso Senhor (...) consideramos que os índios são verdadeiros homens". Sabendo daqueles que desejavam impedir a atuação da Igreja junto aos índios, obstaculizar sua defesa e evitar a denúncia de seus crimes contra grupos indefesos, o Papa afirmava que os índios "não somente são capazes de entender a fé católica, como, de acordo com nossas informações, acham-se desejosos de recebê-la."

Na defesa de seus direitos e de seus bens, o Papa agregava em sua bula "que os ditos índios e todas as outras gentes (...) ainda que estejam fora da Fé de Cristo não haverão de ser privados de sua liberdade e do domínio de suas coisas, antes bem podem livre e licitamente usar, possuir e usufruir de tal liberdade e domínio, e não se deve reduzi-los a servidão".

Essa bula papal é considerada por juristas um marco que deu início ao direito internacional no mundo moderno. Ela foi a primeira proclamação intercontinental dos direitos inerentes a todos os homens e da liberdade das nações, acima dos sistemas políticos e interesses econômicos. A Igreja e, em seguida, a legislação portuguesa vão defender o direito originário dos indígenas independentemente da tutela do Estado ou de quem quer que seja.

(...)

Em 22 de abril de 1639, na data em que festeja-se o descobrimento do Brasil, o Papa Urbano VIII expediu um Breve (Commissum Nobis) proibindo, sob pena de excomunhão, "cativar os sobreditos índios, vendê-los, comprá-los, trocá-los, dá-los, apartá-los de suas mulheres e filhos, privá-los de seus bens e fazenda, levá-los e mandá-los para outros lugares, privá-los de qualquer modo da liberdade, retê-los na servidão e dar a quem isto fizer, conselho, ajuda, favor e obra, com qualquer pretexto e color, ou pregar, ou ensinar que seja isso lícito, ou cooperar no sobredito".

Essa resolução papal detonou revoltas, lideradas por Câmaras municipais, em São Paulo, Santos e Rio de Janeiro. Padres jesuítas foram expulsos de seus colégios e sofreram barbaridades. Os índios eram usados como serviçais domésticos e na agricultura. A população branca era toda católica "de modo que as disposições da Igreja, se não impediram de todo o comércio de escravos naqueles centros, dificultaram a organização de novas bandeiras de preia". O rei da Espanha, atendendo às súplicas dos jesuítas, autorizou o uso pelos índios de armas de fogo nas Missões paraguaias. Elas terão participação decisiva em várias derrotas dos paulistas escravizadores de índios, como nas batalhas de Caaçapá-Guazú e em Mbororé em 1641.

Num século neopagão como o nosso, os simplismos de certos manuais de história e o abuso de pessoas de má fé, ditas evangélicas, contra a Igreja devem trazer a memória um conhecimento mínimo dos fatos e da coragem de pontífices como Paulo III e Urbano VIII, e de seus missionários.

Mírian Macedo escreveu o artigo Luta sem classe em 01 de abril, no site Escola sem partido. Ali, ela diz que acabou de tirar sua filha de 14 anos do colégio Pentágono/COC (unidade Morumbi-São Paulo) em protesto contra o método pedagógico adotado pela escola. Em um trecho, escreve:

As apostilas de História e Geografia, pontilhadas de frases-epígrafes de Karl Marx e escritas em 'português ruim', contêm gravíssimos erros de informação e falsificação de dados históricos. Não passam, na verdade, de escancarados panfletos esquerdejosos que as frases abaixo, copiadas literalmente, exemplificam bem:

"Sabemos que a história é escrita pelo vencedor; daí o derrotado sempre ser apresentado como culpado ou condições de inferioridade (sic). Podemos tomar como exemplo a escravidão no Brasil, justificada pela condição de inferioridade do negro, colocado (sic) como animal, pois era ‘desprovido de alma’. Como catequizar um animal? Além da Igreja, que legitimou tal sandice, a quem mais interessava tamanha besteira? Aos comerciantes do tráfico de escravos e aos proprietários rurais. Assim, o negro dava lucro ao comerciante, como mercadoria, e ao latifundiário, como trabalhador. A história pode, dessa forma, ser manipulada para justificar e legitimar os interesses das camadas dominantes em uma determinada época".

Sandice é dizer que a Igreja legitimou a escravidão. Em 1537, o Papa Paulo III publicou a Bula Veritas Ipsa (também chamada Sublimis Deus), condenando a escravidão dos 'índios e as mais gentes'. Dizia o documento, aqui transcrito em português da época que "com authoridade Apostolica, pello teor das presentes, determinamos, & declaramos, que os ditos Indios, & todas as mais gentes que daqui em diante vierem á noticia dos Christãos, ainda que estejão fóra da Fé de Christo, não estão privados, nem devem sello, de sua liberdade, nem do dominio de seus bens, & que não devem ser reduzidos a servidão".

Se você tem interesse em se aprofundar no assunto, veja também o interessante texto de 81 páginas A Igreja e os índios, de Jean Dumont, traduzido ao português por Joel Tang Jr.

Leia o livro de história de seu filho. Se encontrar alguma acusação infundada contra a Igreja, converse com o professor de história, peça para que ensine seus alunos sobre os fatos verdadeiros. E, claro, não deixe de conversar também com seu filho!


11 abril 2007

Vote no Cristo Redentor

O Cardeal do Rio, D. Eusébio, pediu que votássemos no Cristo Redentor de forma a elegê-lo uma das 7 maravilhas do mundo. Ele afirmou que: "Cristo nos elegeu primeiro e agora é hora de nós, brasileiros e cariocas, elegermos o Redentor como a primeira e grande maravilha do mundo..."

A votação está aberta e o resultado será divulgado em 07/07/07 pela organização do concurso que é a New Seven Wonders. Para votar gratuitamente e em poucos minutos, além do site da organização foi disponibilizado um outro site que é mais fácil de lembrar e que contém informações de como se dá a votação.

Devemos escolher 7 monumentos dentre os 21 finalistas apresentados, sendo um deles, obviamente, o Cristo Redentor. O movimento é feito em parceria com a UNESCO para despertar o interesse mundial pela cultura e a preservação desses monumentos.

Os organizadores estimam que são necessários cerca de 10 milhões de votos. Portanto, há muito que fazer que elegermos o Cristo como a maravilha do mundo. Não deixem de votar... É rápido e grátis...

Por que o Cardeal pediu isso?

Certamente, não é intenção do Cardeal favorecer o turismo no Rio de Janeiro. Embora o turismo na cidade e no Brasil ganhe com isso, a importância do pedido está na presença de símbolos religiosos no mundo. Para entender a importância do assunto, leia essa nossa matéria (que traz links para outras postagens).
Participando da votação, estaremos ajudando a tornar o Senhor de alguma maneira mais presente no mundo.

Audiência sobre uso de células-tronco

No próximo dia 20, o Supremo Tribunal Federal realiza sua primeira audiência pública. O debate com diversos especialistas, que falarão sobre o uso de células-tronco de embriões humanos em pesquisa, foi convocado pelo ministro Carlos Ayres Britto, relator da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 3510, em que a Procuradoria Geral da República (PGR) contesta dispositivos da Lei de Biossegurança (Lei 11.105/05).

A audiência ocorrerá das 9h às 12h e das 15h às 19h, no auditório da 1ª Turma do STF. Os interessados em assistir o evento poderão se dirigir ao local. Os lugares serão ocupados por ordem de chegada. Além disso, a audiência poderá ser acompanhada por um telão montado no auditório da 2ª Turma, bem como pela TV Justiça (SKY, canal 95, e DirecTV, canal 209) e pela Rádio Justiça (91.1 FM, em Brasília), que transmitirão a audiência ao vivo.

Essa audiência foi solicitada pela Procuradoria Geral da República (PGR), ao propor a ação contra o artigo 5º e parágrafos da Lei de Biossegurança.

Na ADI é questionada a permissão legal para utilização de células-tronco de embriões humanos em pesquisas e terapias. A PGR sustenta que os dispositivos dessa Lei ferem a proteção constitucional do direito à vida e a dignidade da pessoa humana, pois a vida humana acontece na, e partir da, fecundação, ressaltando que "o embrião humano é vida humana".

Não deixe de assistir!


09 abril 2007

A família geradora de vida para uma verdadeira Páscoa

A Agência Ecclesia divulgou a homilia do Arcebispo de Braga na Vigília Pascal, pronunciada por Jorge Ferreira da Costa Ortiga (foto ao lado). Traz pontos muito relevantes a respeito dos diversos desafios e possibilidades da família católica no mundo de hoje. Pretendo abordar alguns desses pontos em postagens próximas-especialmente, os relativos às políticas familiares .

Abaixo, está a cópia do texto. Como sou resistente a apenas copiar textos, pois acho que a colaboração pessoal é sempre muito importante, salpiquei o texto com alguns links não constantes do original, para páginas que me parecem interessantes a quem desejar ter um primeito contato com os diversos temas linkados.

A Páscoa, para os cristãos, nunca poderá ser apenas uma evocação dum acontecimento passado. Ela encerra uma força que a tornar-se dinamismo permanente como compromisso para que a vida vença a morte. Partindo das trevas e da luz que se acende no início da celebração, não permitimos que a densidade escura dos problemas nos resigne ou sufoque. A sua espessura não atemoriza mas dá, na força da fé, um alento renovado.

Como Arquidiocese temos procurado interiorizar a realidade da família e o lugar que ela ocupa e deve ocupar na sociedade e na Igreja. Reconhecemos as forças adversas. Sabemos, porém, que ela é a única esperança que poderá dar à vida a um sentido pascal, característico de quem sabe ultrapassar os sinais da morte e proclamar a festa do viver cristão.

Não somos ingénuos. Conhecemos os seus dramas e a sua problemática. Temos, porém, uma mensagem capaz de a definir e de a apresentar como única alternativa. Em poucos anos passamos duma família fortemente radicada em valores cristãos para modelos antes impensados que parecem retirar-lhe a missão de célula e fundamento dum viver em sociedade. Muitos pretendem que ela se torne um mundo particular onde cada um faz o que quer e como quer, segundo os próprios gostos e inclinações. Se não reconhecemos a validade desta postura, também não podemos cair em exaltações fáceis que não consideram adequadamente a nova complexidade da sociedade. Corremos, deste modo, o risco de atribuir-lhe tarefas e missões sempre muito exigentes, sem a contrapartida de lhe proporcionar ajudas e apoios, vindos da comunidade civil e religiosa, capazes de a defender e dar consistência. Não basta pressupor que ela tem capacidade para enfrentar todos os problemas. Teremos de contribuir para que se situe nas novas transformações que estão a acontecer.

Para que se torne força renovada da sociedade, não a podemos considerar um mero espaço e lugar. Ela é essencialmente espaço de relacionamento de pessoas para a concretização dum projecto de vida.

A Páscoa é notícia alegre dum mundo novo. Por Cristo Ressuscitado teremos de fazer com que a família se torne agente desta vida nova. Importa, por isso, dar voz à família. O Concílio Vaticano II apontou uma doutrina de plena actualidade e eficácia: “A família recebeu de Deus a missão de ser a célula primeira e vital da sociedade”(A. A. 11). Só que a força e pressão dos factores externos impedem que ela realize esta missão. As estruturas da sociedade – escola para os filhos, trabalho para os adultos – operam, muitas vezes, não considerando as suas exigências.

Compete à Igreja proporcionar a ajuda necessária para que conjugue a fidelidade ao projecto cristão com a capacidade de iluminar as condições de vida onde vivem. Trata-se dum diálogo positivo que a família deve efectuar desde que a Igreja não parta do pressuposto de que a família tem capacidades e forças para “evangelizar” os mundos onde os seus membros operam. A Páscoa deve, por isso, exigir uma evangelização, um anúncio convincente como “Boa Nova”. Os problemas são imensos. A luz de Cristo Ressuscitado tem capacidade para apontar caminhos de solução.

A família cristã tem de mergulhar nos meandros da sociedade e ser capaz de assumir a responsabilidade que lhe compete. A família é “a primeira célula” de que vive a sociedade. Só as células sãs conseguem revitalizar o corpo inteiro; as doentes provocam a morte. Nesta perspectiva ela necessita de assumir para poder transmitir, não só os valores humanos mas também os morais e éticos e a sociedade caminhará por compromissos novos que a dignifiquem pois fieis a uma matriz cultural já confirmada por uma experiência de felicidade multisecular.

Este é o papel primordial que a Igreja deve assumir. Mas, na reciprocidade de funções, não bastam estes princípios. São necessárias políticas familiares que reconheçam, respeitem e promovam os direitos das famílias.

“O serviço da sociedade à família concretiza-se no reconhecimento, no respeito e na promoção dos direitos da família. Tudo isto requer a realização de políticas familiares autênticas e eficazes com intervenções precisas, aptas a responder às necessidades que deveriam dos direitos da família como tal. Neste sentido, é necessário o pré-requisito, essencial e irrenunciável, do reconhecimento – que comporta a tutela, a valorização e a promoção – da identidade da família, sociedade natural fundada sobre o matrimónio. Tal reconhecimento traça uma linha de demarcação clara entre a família propriamente entendida e as outras convivências, que da família – pela sua natureza – não podem merecer nem o nome, nem o estatuto” (Compêndio da Doutrina Social da Igreja 253)

Mais ainda, não podemos ter medo de proclamar “a prioridade da família sobre qualquer outra comunidade e sobre a própria realidade estatal” para que ultrapassemos “as concepções meramente individualistas” e assumir “a dimensão familiar como perspectiva, cultural e politica, irrenunciável na consideração das pessoas” (Compêndio da Doutrina Social da Igreja 254).

Se anunciamos a família como comunidade de pessoas, não podemos ignorar as suas necessidades concretas. Ninguém ignora as grandes dificuldades com que se debatem os agregados familiares, particularmente os mais jovens e as pessoas avançadas em idade. A Páscoa não está na miséria e nas condições indignas de vida. Os custos para viver com o mínimo de dignidade estão em vertiginoso crescimento. Projectar um futuro numa atenção aos filhos é não só uma operação de engenharia económica mas quase um milagre. Só um trabalho adequado e um salário justo, num cuidado às políticas fiscais que agravam permanentemente os agregados familiares, defendem e promovem a família. Só um “salário-família, ou seja, um salário suficiente para manter e fazer viver dignamente a família” (Compêndio da Doutrina Social da Igreja 250) poderá garantir o futuro.

Numa palavra, para que a família possa ser intérprete duma boa-nova devemos conjugar os dois princípios fundamentais da Doutrina Social da Igreja. Nesta noite, para que seja Noite Pascal para as nossas famílias, quero proclamá-los com toda a solenidade de que sou capaz: o princípio de Subsidiariedade e o princípio da Solidariedade.

O Princípio de Subsidiariedade consiste:

“Com base neste princípio, todas as sociedades de ordem superior devem pôr-se em atitude de ajuda (subsidium) – e portanto de apoio, promoção e incremento em relação às menores. Desse modo os corpos sociais intermédios podem cumprir adequadamente as funções que lhes competem, sem ter que cedê-las injustamente a outras agregações sociais de nível superior, pelas quais acabariam por ser absorvidos e substituídos, e por ver-se negar, ao fim e ao cabo, dignidade própria e espaço vital” (Compêndio da Doutrina Social da Igreja 186).

“À subsidiariedade entendida em sentido positivo, como ajuda económica, institucional, legislativa oferecida às entidades sociais menores, corresponde uma série de implicações em negativo, que impõe ao Estado abster-se de tudo o que, de facto, restrinja o espaço vital das células menores e essenciais da sociedade. Não se deve suplantar as suas iniciativa, liberdade e responsabilidade” (Compêndio da Doutrina Social da Igreja 186).

Por outro lado, e, na lógica deste princípio, “A Solidariedade confere particular relevo à intrínseca sociabilidade da pessoa humana, à igualdade de todos em dignidade e direito ao caminho comum dos homens e dos povos para uma unidade cada vez mais convicta” (Compêndio da Doutrina Social da Igreja 192).

Estes dois princípios são fundamentais. Como função subsidiária, o Estado deve dar à família a prioridade. Muitos poderão não concordar mas o primado da família em relação à sociedade é indispensável. À sua luz há aspectos e dimensões a que o Estado não pode subtrair-se nem abster-se ou quanto muito limitar-se ao mínimo.

A solidariedade vem completar o princípio da subsidiariedade. Encontramos sempre condições de fragilidade e de debilidade que não permitem que a família consiga realizar um estilo de vida digno. Há fenómenos de marginalidade ou de situações estranhas onde a família nunca poderá chegar e só modalidades concretas de apoio moral, caritativo, jurídico, económico poderão ser resposta adequada.

“Esta solidariedade pode assumir o rosto do serviço e da atenção a quantos vivem na pobreza e na indigência, aos órfãos, aos deficientes, aos enfermos, aos anciãos, a quem está de luto, a todos os que estão na dúvida, na solidão ou no abandono; uma solidariedade que se abre ao acolhimento, à guarda ou à adopção; que sabe fazer-se voz de toda a situação de mal-estar junto das instituições, para que estas intervenham de acordo com as próprias finalidades específicas.” (Compêndio da Doutrina Social da Igreja 246).

No caminho pastoral que estamos a percorrer, a solidariedade não pode ser vivenciada só nestas situações extremas. Ela deve modelar uma figura de sociedade efectivamente solidária onde cada um se sente responsável pelos outros. Não se trata dum mero esquema “caritativo” no sentido convencional. Temos de ir mais além para chegar a um empenho mais radical. Trata-se duma missão árdua, impossível para as pessoas isoladamente mas que se torna efectiva se a solidariedade for a lógica da vida das pessoas e das famílias que sabem colocar as suas vidas em real comunhão com todos os outros.

Aqui está a Páscoa: a Família, célula da sociedade e geradora de vida nas pessoas e nas estruturas. Eu acredito neste milagre.

Senhora, da manhã alegre da Páscoa, concede-nos o dom de famílias unidas e responsáveis pelo mundo que as rodeia. Faz com que Cristo entre em suas casas e que as leis permitam e estimulem uma política de amor e fraternidade para todos. Existem “pedras” pesadas em muitos lares. Elas teimam em tornar o ambiente familiar um “túmulo”. Maria retira todas as pedras, grandes e pequenas, que impedem a Ressurreição de Cristo nos lares e por eles o florir duma Primavera para a humanidade.

Sé Catedral 07/04/2007

01 abril 2007

Função social da maternidade e função social da empresa: aspectos da civilização do amor

Em nossa seção Textos recomendados, você encontra a conferência pronunciada por Janne Haaland Matlary, membro do Pontifício Conselho Justiça e Paz, entitulada Os direitos da maternidade. Um desses direitos é o de poder combinar a maternidade com o trabalho remunerado.

Trata-se de um tema sentido muito vivamente pelas mães, quando precisam deixar seus filhos para voltar ao trabalho.

Abordando um assunto correlato, a revista IstoÉ desta semana traz a matéria Licença-maternidade de seis meses. Refere-se a um projeto de lei a ser votado nas próximas semanas, aumentando o período da licença-maternidade, que é atualmente de quatro meses.

Diz a reportagem:
Pela proposta, os empresários privados não serão obrigados a conceder os meses adicionais – eles poderão fazer acordo com a funcionária –, mas o benefício estará garantido a todas as servidoras públicas. A empresa privada que aderir à nova licença poderá deduzir no Imposto de Renda o dinheiro gasto com salários e obrigações trabalhistas nos 60 dias a mais. O governo do Amapá e 37 municípios do País já adotaram a medida.
Veja o teor do projeto e sua justificativa clicando aqui.

Creio que isso não deve ser visto apenas como um "direito da mulher" (até porque o certo seria dizer "direito da mãe"). Trata-se, na verdade, de um verdadeiro direito da família, pois, como diz o preâmbulo da Carta dos Direitos da Família, "os direitos da pessoa, ainda quando expressos como direitos do indivíduo [no caso, a mãe], têm uma dimensão fundamentalmente social que encontra sua expressão inata e vital na família".

No entanto, a revista IstoÉ traz alguns dados preocupantes sobre a forma como as empresas tratam suas funcionárias quando voltam da licença-maternidade. Afirma a revista:
Técnicos do Ministério do Trabalho, especialistas e advogados ouvidos por ISTOÉ admitem que a gravidez é o motivo oculto de grande parte das demissões de mulheres nas semanas ou meses seguintes ao retorno ao trabalho após a licença-maternidade. Alguns estudos radiografaram esse risco. Um deles, realizado pelo Instituto de Saúde de São Paulo em 13 indústrias, mostrou que pelo menos uma em cada dez mulheres que perdem o emprego é dispensada neste período.
O trabalho da mulher (melhor, da mãe) é um dos temas mais difíceis para quem lida com políticas familiares. As mães deveriam, antes de tudo, ter a liberdade de escolher se preferem trabalhar fora de casa ou desempenhar o duro trabalho doméstico. Este último, deveria também ser valorizado, pois sua importância é capital para o bem da criança e da sociedade.

No entanto, as mães que preferem cuidar de seus filhos em tempo integral costumam sofrer sério preconceito social. Creio que isso se dá, em última análise, por uma mentalidade difusa em nossa cultura, segundo a qual só tem valor aquilo que é produtivo. É a lógica do mercado permeando outros âmbitos da vida humana: viva o que é eficaz, útil, remunerado; abaixo o que não é produtivo, não gera renda, é "inútil"!

As mães que desejam dedicar-se integralmente aos filhos são apenas um exemplo de vítimas desse modelo cultural. Há outros. Basta pensar nos idosos, marginalizados como "inúteis". É a tendência cada vez maior (decorrente da lógica do mercado) de considerar que o ser humano vale pelo que "faz" e não pelo que "é".

Seria interessante pensar em formas de compensar a mãe pelo trabalho doméstico, pela dedicação integral aos filhos. Repita-se que isso não é só questão de interesse da mulher, da criança, da família. É também de interesse social, tanto do ponto de vista da saúde pública quanto da formação dos jovens naquelas virtudes cívicas que se aprendem no lar: solidariedade, respeito, tolerância, compreensão, coisas que melhor se aprende da mãe, pois as mães foram dotadas de grande capacidade para a vivência dessas virtudes. A maternidade possui uma função social.

Para aquelas que desejam trabalhar profissionalmente fora do lar, também devem ser dadas as garantias suficientes. Todos sabem que as mulheres sofrem pressão por parte da "lógica do mercado" para não terem os filhos que gostariam de ter, e a notícia de que muitas perdem o emprego logo depois de voltarem da licença é mais um exemplo disso. Seria interessante procurar proteger as mães durante esse período. Por exemplo, impondo restrições para a demissão sem justa causa. Os trabalhadores em geral já gozam de uma proteção nesse sentido, pois a demissão sem justa causa acarreta a multa de 40% sobre o FGTS já recolhido; quem sabe, se durante o período de 6 meses, no caso de uma mãe que retorna da licença-maternidade, essa multa não poderia ser aumentada, desestimulando, assim, a demissão?

O assunto é realmente complexo, pois também poderia reforçar o preconceito contra o trabalho profissional da mãe. Seria mais um motivo para que os patrões preferissem empregar homens, aumentando o desequilíbrio que já se verifica nessa área.

O projeto para aumentar a licença-maternidade para 6 meses me parece bastante interessante. Especialmente porque, na iniciativa privada, aposta na consciência dos empregadores; na responsabilidade social das empresas; na consciência de que a empresa, também ela, possui uma função social. Isso vem ao encontro da Doutrina Social da Igreja, para a qual a empresa não pode ser apenas um estabelecimento que vise ao lucro; deve ser, antes, um meio para a realização da pessoa através do trabalho:

A empresa deve caracterizar-se pela capacidade de servir o bem comum da sociedade mediante a produção de bens e serviços úteis. Procurando produzir bens e serviços em uma lógica de eficiência e de satisfação dos interesses dos diversos sujeitos implicados, ela cria riqueza para toda a sociedade: não só para os proprietários, mas também para os outros sujeitos interessados na sua atividade. Além de tal função tipicamente econômica, a empresa cumpre também uma função social, criando oportunidades de encontro, de colaboração, de valorização das capacidades das pessoas envolvidas. Na empresa, portanto, a dimensão econômica é condição para que se possam alcançar objetivos não apenas econômicos, mas também sociais e morais, a perseguir conjuntamente.

O objetivo da empresa deve ser realizado em termos e com critérios econômicos, mas não devem ser descurados os autênticos valores que permitem o desenvolvimento concreto da pessoa e da sociedade. (texto retirado do Compêndio da Doutrina Social da Igreja).

Como dizia o Servo de Deus João Paulo II, "a empresa não pode ser considerada apenas como uma 'sociedade de capitais'; é simultaneamente uma 'sociedade de pessoas'" (Centesimus annus, 43).

Enfim, é necessário construirmos na sociedade uma consciência da função social da maternidade e da função social da empresa, a fim de construirmos uma verdadeira civilização do amor.

Timidez nas crianças

A revista Veja deste domingo publica a matéria chamada Antídoto contra a timidez, dando destaque à informação de que "o comportamento da mãe é decisivo para evitar que a inibição natural das crianças se transforme em fobia".

Na matéria, é dito que, nos primeiros anos de vida, a mãe é o modelo de socialização da criança. Penso que isso não deva levar à conhecida tendência de alguns homens de se desonerar de sua responsabilidade. Se é a mãe o modelo, o marido é o companheiro dela, com o qual pode ela dialogar, ser incentivada, melhorar suas atitudes com o filho. A família é sempre uma comunidade de vida e amor, não podendo o pai se ausentar também nesse aspecto.

Também me parece interessante a seguinte informação: "Exigir de uma criança o que ela não pode dar só aumenta a sua angústia e reforça o seu comportamento retraído" (afirmação do psiquiatra infantil Francisco Assumpção Júnior, professor do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo). Isso significa que não podemos querer que nosos filhos sejam extrovertidos de uma hora para a outra. Seria uma violência, por exemplo, puxá-los à força em uma festa junina para que participem de uma brincadeira com o restante dos colegas na escola. Há pais e, principalmente, mães que fazem isso. Por um lado, está o desejo de ver a criança bem integrada em seu meio; mas também existe aquele espírito competitivo que nos leva a querer exibir nossos filhos, mostrar como são os melhores, etc. Devemos estar atentos à pureza de nossas intenções com nossos filhos.

Muitas vezes, a timidez está acompanhada do medo de errar, da vergonha, de uma espécie de "intuição" de que se falarem alguma coisa estarão dizendo bobagem. Quem será que as levou a acreditar nisso?

Não estou aqui para atirar a primeira pedra, mas se a timidez for decorrência da baixa autoestima, os pais devem se perguntar com muita seriedade qual sua parte na visão negativa que a criança tem de si mesma. Destacar apenas o lado negativo ("você não faz nada direito", "você não presta", "ai, que saco, você só sabe me irritar"...) é uma violência muito grande, porque a criança não tem a capacidade de olhar as coisas com objetividade e perceber que tais palavras são, acima de tudo, injustas. Todo rótulo é injustiça! Ela acredita piamente no que lhe dizem a mãe e o pai. Uma variante disso é a superexigência que certos pais impõem aos filhos. Tais pessoas têm menos de pais do que de tiranos. Acinzentar a infância com exigências descabidas para a idade é também uma maneira de violentá-las.

Tais atitudes são uma espécie de abandono das crianças. Porque o abandono é mais do que deixá-las fisicamente sozinhas. É ser-lhes indiferente, é não reconhecer sua mesmidade e sua vocação. É, antes de tudo, não reconhecer que pertencem a Deus. Nunca me esquecerei das terríveis palavras que ouvi de João Paulo II no Maracanã, na festa testemunho por ocasião do encontro com as famílias: "Os lares que não educam integralmente seus filhos, que os abandonam, cometem uma gravíssima injustiça de que deverão prestar contas diante do tribunal de Deus". Diante do tribunal do Pai, aliás, tribunal daquele que é a paternidade por excelência, nós deveremos prestar contas de nossa própria paternidade.

Uma maneira inteligente de ajudar as crianças a vencer a timidez é apontar o lado positivo de seus feitos, elogiar suas conquistas, incentivá-las positivamente. Isso não significa passar a mão sobre suas cabeças quando cometem seus erros. As crianças precisam ser educadas, precisam de limites e aprender a viver na liberdade dos filhos de Deus. Não se trata, portanto, de não educar, mas ajudá-las a ter um conhecimento integral de si mesmas (naquilo que é bom -para reforçá-lo- e naquilo que é ruim -para melhorá-lo).

Para terminar, queria destacar uma informação que, na metéria mencionada, aparece de maneira muito passageira. No quadro abaixo, retirado da revista, há o seguinte conselho: "Encoraje seu filho a ajudar os outros. O altruísmo, dizem os especialistas, é um antídoto contra a timidez".

A palavra altruísmo é pobre quando comparada com essa outra: caritas. Caridade! Ensiná-los a amar, por exemplo ajudando a praticar as obras de misericórdia. Você se lembra quais são elas? Vale a pena relembrá-las, e pensar em como levar seu filho a praticá-las (começando, claro, pelo seu exemplo). São elas:

Obras de misericórdia espirituais: ensinar ao que não sabe (por exemplo, ensinando a uma criança menor que não se deve pôr o dedo na tomada), dar bons conselhos ao que necessita (a um amiguinho que não gosta de estudar, por exemplo), corrigir aquele que erra, perdoar as injustiças, consolar quem está triste, tolerar os defeitos do próximo e rezar pelos falecidos.

Obras de misericórdia corporais: visitar os doentes, dar comida a quem tem fome, dar bebida a quem tem sede, dar assistência a quem está preso (por exemplo, um coleguinha que está de castigo), vestir quem está nu, dar abrigo ao peregrino, enterrar os mortos (aqui vale também enterrar os bichinhos).

Claro que a vida cotidiana traz um sem-número de ocasiões para educar os filhos na bondade com os demais. O importante é estarmos espiritualmente alimentados pela graça, a fim de que nossos olhos estejam sensíveis às oportunidades que Deus nos dá para educarmos nossos filhos dia a dia.