Relacionamento familiar, educação, saúde, comportamento, e tudo aquilo que permite que nossas famílias sejam lugar de encontro com os irmãos e com Deus.
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Materialismo e mentalidade contraceptiva entre católicos
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Alterações no site
27 maio 2009
Teologia do corpo: "Na segunda narrativa da Criação encontra-se a definição subjetiva do homem"
1. Referindo-nos às palavras de Cristo sobre o tema do matrimônio, em que Ele apela para o "princípio", dirigimos a nossa atenção, há uma semana, para a primeira narrativa da criação do homem no Livro do Gênesis[i]. Hoje passaremos à segunda que, sendo Deus nela chamado "Javé", é muitas vezes denominada "javista".
A segunda narrativa da criação do homem (ligada à apresentação tanto da inocência e felicidade original como da primeira queda) tem, por sua natureza, caráter diverso. Embora não querendo antecipar as particularidades desta narrativa —porque nos convirá apelar para elas nas outras análises— devemos reconhecer que todo o texto, ao formular a verdade sobre o homem, nos maravilha com a sua profundidade típica, diversa da do primeiro capítulo do Gênesis. Pode-se dizer que é profundidade, de natureza sobretudo subjetiva, e portanto, em certo sentido, psicológica. O capítulo 2º do Gênesis constitui, em certo modo, a mais antiga descrição e registro da autocompreensão do homem e, juntamente com o capítulo 3º, é o primeiro testemunho da consciência humana. Com aprofundada reflexão sobre este texto —por meio de toda a forma arcaica da narração, que manifesta o seu primitivo caráter mítico[1]— encontramos nele "in nucleo" quase todos os elementos da análise do homem, aos quais é sensível a antropologia filosófica moderna e sobretudo contemporânea. Poder-se-ia dizer que Gn. 2 apresenta a criação do homem especialmente no aspecto da sua subjetividade. Confrontando entre si ambas as narrativas, chegamos à convicção que esta subjetividade corresponde à realidade objetiva do homem, criado "à imagem de Deus". E também este fato é —doutro modo— importante para a teologia do corpo, como veremos nas análises seguintes.
2. É significativo, na sua resposta aos fariseus em que apela para o "princípio", indicar Cristo primeiramente a criação do homem com referência a Gn 1, 27: O Criador no princípio criou-os homem e mulher; só em seguida cita o texto de Gn 2, 24. As palavras, que diretamente descrevem a unidade e indissolubilidade do matrimônio, encontram-se no contexto imediato da segunda narrativa da criação, cuja passagem característica é a criação separada da mulher[ii], ao passo que a narrativa da criação do primeiro homem (macho) se encontra em Gn 2, 5-7. A este primeiro ser humano chama a Bíblia "homem" ('adam), ao passo que, desde o momento da criação da primeira mulher, começa a chamar-lhe "macho", 'is, em relação com 'issâh ("fêmea", porque foi tirada do macho, 'is)[2]. E é também significativo que, referindo-se a Gn 2, 24, Cristo não só liga o "princípio" com o mistério da criação, mas também nos conduz, por assim dizer, ao confim entre a primitiva inocência do homem e o pecado original. A segunda narrativa da criação do homem foi fixada no Livro do Gênesis exatamente em tal contexto. Nele lemos, primeiro que tudo: Da costela que retirara do homem, o Senhor Deus fez a mulher e conduziu-a até ao homem. Ao vê-la, o homem exclamou: "esta é, realmente, osso dos meus ossos e carne da minha carne. Chamar-se-á mulher, visto ter sido tirada do homem"[iii]. Por este motivo, o homem deixará o pai e a mãe para se unir a sua mulher; e os dois serão uma só carne[iv].
Estavam ambos nus, tanto o homem como a mulher, mas não sentiam vergonha[v].
3. Em seguida, imediatamente depois destes versículos, começa Gn 3, a narrativa da primeira queda do homem e da mulher, narrativa ligada com a árvore misteriosa, que já antes fora chamada árvore da ciência do bem e do mal[vi]. Cria-se com isto uma situação completamente nova, essencialmente diversa da precedente. A árvore da ciência do bem e do mal é uma linha de demarcação entre as duas situações originais, de que fala o Livro do Gênesis. A primeira situação é de inocência original, em que o homem (macho e fêmea) se encontra quase fora da ciência do bem e do mal, até ao momento em que transgride a proibição do Criador e come o fruto da árvore da ciência. A segunda situação, pelo contrário, é aquela em que o homem, depois de transgredir o mandamento do Criador por sugestão do espírito maligno simbolizado pela serpente, se encontra, em certo modo, dentro do conhecimento do bem e do mal. Esta segunda situação determina o estado de pecaminosidade humana, contraposto ao estado de inocência primitiva.
Se bem que o texto javista seja no conjunto muito conciso, basta contudo para diferenciar e contrapor com clareza aquelas duas situações originais. Falamos aqui de situações, tendo diante dos olhos a narrativa que é descrição dos acontecimentos. Apesar de tudo, através desta descrição e de todas as suas particularidades, surge a diferença essencial entre o estado de pecaminosidade do homem e o da sua inocência original[3]. A teologia sistemática descobrirá nestas duas situações antitéticas dois estados diversos da natureza humana: status naturae integrae (estado de natureza íntegra) e status naturae lapsae (estado de natureza decaída). Tudo isto deriva daquele texto "javista" de Gn 2 e 3, que encerra em si a mais antiga palavra da revelação, e tem evidentemente um significado fundamental quer para a teologia da homem quer para a teologia do corpo.
4. Quando Cristo, referindo-se ao "princípio", manda os seus interlocutores para as palavras escritas em Gn 2, 24, ordena-lhes, em certo sentido, que ultrapassem o confim que, no texto javista do Gênesis, se interpõe entre a primeira e a segunda situação do homem. Não aprova o que "por dureza do coração" Moisés permitiu, e refere-se às palavras da primeira ordem divina, que neste texto está expressamente ligada ao estado de inocência original do homem. Significa isto que tal ordem não perdeu o seu vigor, ainda que o homem tenha perdido a inocência primitiva. A resposta de Cristo é decisiva e sem equívocos. Por isso, devemos tirar dela as conclusões normativas, que têm significado essencial para não só a ética, mas sobretudo para a teologia do homem e para a teologia do corpo, a qual, como um momento particular da antropologia teológica, se constitui sobre o fundamento da palavra de Deus que se revela como é. Procuraremos tirar essas conclusões durante o próximo encontro.
[1] Se na linguagem do racionalismo do século XIX, o termo "mito" indicava aquilo que não se encontra na realidade, o produto da imaginação (Wundt) ou o que é irracional (Lévy-Bruhl), o século XX modificou o conceito de mito.
L. Walk vê no mito a filosofia natural, primitiva e arracional; R. Otto considera-o instrumento de conhecimento religioso; enquanto para C. G. Jung, o mito é a manifestação de arquétipos e a expressão do "incônscio coletivo", símbolo dos processos interiores.
M. Eliade descobre no mito a estrutura da realidade que é inacessível à investigação racional e empírica: o mito transforma de fato o acontecimento em categoria e torna uma pessoa capaz de atingir a realidade transcendente; não é apenas símbolo dos processos interiores (como afirma Jung), mas ato autônomo e criativo do espírito humano, mediante o qual se realiza a revelação (cfr. Traité d'histoire des religions, Paris 1949, p. 363; Images et symboles, Paris 1952, pp. 199-235).
Segundo P. Tillich o mito é um símbolo, constituído por elementos da realidade, para apresentar o absoluto e a transcendência do ser, aos quais tende o ato religioso.
H. Schlier insiste em que o mito não conhece os fatos históricos e não precisa deles, pois descreve o que é destino cósmico do homem que é sempre o mesmo.
Por fim, o mito tende a conhecer o que é incognoscível.
Segundo P. Ricoeur: "Le mythe este autre chose qu'une explication du monde, de l'histoire et de la destinée: il exrpime, en terme de monde, voire d'outre-monde ou de second monde, la compréhension que l'homme prend de lui-même par rapport au fondement et à la limite de son existence. (...) Il exrpime dans un langage objectif le sens que l'homme prend de sa dépendance à l'égard de cela qui se tient à la limite et à l'origine de son monde" (P. Ricoeur, Le conflit des interprétations, Paris, Seuil, 1969, p. 383).
"Le mythe adamique est par excellence le mythe anthropologique; Adam veut dire Homme; mais tout mythe de l'"hommr primordial" n'est pas "mythe adamique", qui... est seul proprement anthropologique; para là trois traits sont désignées:
- le mythe étiologique rapporte l'origine du mal à un ancêtre de l'humanité actuelle dont la condition est homogène à la nôtre (...)
- le mythe étiologique est la tentative la plus extrême pour dédoubler l'origine du mal et du bien. L'intention de ce mythe est de donner consistance à une origine radicale du mal distincte de l'origine plus originaire de l'être-bon des choses. (...). Cette distinction du radical et d'originaire este essentielle au caractère anthropologique du mythe adamique; c'est elle qui fait de l'homme un commencement du mal au sein d'une création qui a déjà son commencement absolu dans l'acte créateur de Dieu.
- le mythe adamique subordonne à la figure centrale de 'homme primordial d'autres figures qui tendent à décentrer le récit, sans pourtant supprimer le primat de la figure adamique. (...)
Le mythe en nommant Adam, l'homme, explicite l'universalité concrète du mal humani; l'esprit de pénitence se donne dans le mythe adamique le symbole de cette universalité. Nous retrouvons ainsi (...) la fonction universalisante du mythe. Mais en même temps nous retrouvons les deux autres fonctions, également suscitées par l'expérience pénitentielle (...). Le mythe proto-historique servit ainsi non seulement à généraliser l'expérience d'Israël à l'humanité de tous les temps et de tous les lieux, mais à étendre à celle-ci la grande tension de la condamnation et de la miséricorde que les prhphètes avaient enseigné à discerner dans le propre destin d'Israël.
Enfin, dernière fonction du mythe prépare la spéculation en explorant le point de rupture de l'ontologique et de l'historique" (P. Ricoeur, Finitude et culpabilité: II. Symbolique du mal, Paris 1960, Aubier, pp. 218-227).
[2] Quanto à etimologia, não se exclui que o termo hebraico 'is derive duma raíz que significa "força" ('is ou 'ws); e 'issa está ligada a uma série de termos semitas, cujo significado oscila entre "fêmea" e "esposa".
A etimologia proposta pelo texto bíblico é de caráter popular e serve para insistir na unidade da proveniência do homem e da mulher; isto parece confirmado pela assonância de ambas as palavras.
[3] "A própria linguagem religiosa exige a transposição de 'imagens' ou, melhor, 'modalidades simbólicas', para 'modalidades conceituais' de expressão.
À primeira vista esta transposição pode parecer mudança puramente extrínseca (...). A linguagem simbólica parece inadequada para tomar o caminho do conceito por um motivo que é peculiar da cultura ocidental. Nesta cultura, a linguagem religiosa foi sempre condicionada por outra linguagem, a filosófica, que é a linguagem conceitual por excelência (...). Se é verdade que um vocabulário religioso é compreendido só numa comunidade que o interpreta e segundo uma tradição de interpretação, é também verdade que não existe tradição de interpretação que não tome como intermediário alguma concepção filosófica.
A palavra 'Deus', que nos textos bíblicos recebe o próprio significado da convergência de diversos modos do falar (narrativas e profecias, textos de legislação e literatura sapiencial, provérbrios e hinos) —vista, esta convergência, seja como o ponto de interseção seja como horizonte a fugir de toda e qualquer forma— teve de ser absorvida no espaço conceitual, para ser reinterpretada nos termos do Absoluto filosófico, como primeiro motor, causa primeira, Actus Essendi, ser perfeito, etc. O nosso conceito de Deus pertence, por conseguinte, a uma onto-teologia, na qual se organiza toda a constelação das palavras chaves da semântica teológica, mas numa moldura de significações ditadas pela metafísica" (Paul Ricoeur, Ermeneutica biblica, Brescia 1978, Morcelliana, pp. 140-141; título original: Biblical Hermeneutics, Montana 1975).
A questão sobre se a redução metafísica exprime realmente o conteúdo que a linguagem simbólica e metafórica esconde em si, é assunto à parte.
26 maio 2009
Políticas familiares: investir na qualidade do grupo familiar reduz gravidez na adolescência
Em um período de dez anos, o número de adolescentes paulistas que ficaram grávidas pela segunda vez teve uma queda de 48%, aponta levantamento da Secretaria de Estado da Saúde com base em dados da Fundação Seade. No mesmo período, as taxas de primeira gravidez na adolescência caíram 34%.
Há vários fatores que contribuíram para isso, segundo a reportagem. A ênfase está na distribuição de preservativos e anticoncepcionais. Mas destaco um trecho que me parece importantíssimo:
Para a socióloga Mary Garcia Castro, pesquisadora da Universidade Federal da Bahia, abandonar a escola é um dos principais fatores de risco para a garota voltar a engravidar. "Já a melhoria da qualidade do grupo familiar e um maior grau de escolaridade funcionam como fatores de proteção", avalia.
Investir na família, esse é - pelo menos - um caminho muito promissor. Precisamos de políticas familiares!
Fonte: Folha On Line
25 maio 2009
Ditadura dos filhos 2
Javier Urra, O pequeno ditador. Da criança mimada ao adolescente agressivo.
Capítulo 2: Os príncipes da casa
Ideias-chave:
- A educação de um filho deve preocupar os pais ainda antes da criança nascer.
- É preciso saber o que se responde às “exigências” do bebé.
- Nos últimos tempos, fomentou-se a permissividade absoluta que colocou a criança no alto da pirâmide, na tirania.
- A frustração, como sanção, faz parte da educação.
- O choro do bebé é um comportamento reflexo que se transforma na mais precoce comunicação da criança com o ambiente. O choro, por muito que custe, não pode condicionar os pais: estes é que têm de condicionar o choro do bebé.
- Criança precisa de vinculação e afecto com os pais mas também de protecção e segurança.
- É fundamental pôr limites ao bebé entre os 6 meses e os dois anos. Aqui a criança sente que os pais podem ser dominados.
- O sono é outra condicionante na primeira etapa da vida do bebé. É preciso educá-lo. O autor dá concretas possibilidades para se fazer isso correctamente.
- A partir dos 18 meses a criança tem consciência de que o seu eu é diferente do mundo circundante. Procurará fazer o que é proibido e tentará ver as reacções e concluir até onde pode ir. Não é propriamente um desafio, embora o pareça. A criança precisa aqui de ver as consequências das suas acções nas respostas dos pais. É a hora de saber dizer não quando é preciso. A criança precisa que o critério dos pais seja mais forte que os seus impulsos.
Inibição:
Os três primeiros anos são fundamentais na aprendizagem da criança e nas marcas que está a adquirir e que conformarão a sua personalidade. É fundamental colocar normas básicas de disciplina: obedecer aos pais, não bater em ninguém, não mentir, não responder com maus modos, não gritar ao zangar-se, não interromper os mais velhos quando estão a falar, não estragar coisas de cada ou da escola, não tirar nada a ninguém, respeitar os horários das refeições, estudos, jogos e de deitar…
A birra:
É uma reacção infantil que revela que a criança não é capaz de controlar a sua ira.
É preciso ensiná-la a vencer a raiva: o desgosto e a frustração é aceitável e até aconselhável mas as birras não.
Os pais, face à primeira birra necessitam duma resposta calma mas com absoluta determinação e resoluta inflexibilidade.
Por nada se deve permitir que a criança consiga o que quer por meio da birra. Esta deve reconhecer que a birra não leva a lado nenhum.
Os pais devem estimular e reforçar as condutas positivas da criança e desincentivar as negativas.
A criança não se pode converter em vítima por meio da birra fazendo com que os que a rodeiam se tornem escravos da sua tirania.
Duas condutas concretas de difícil acção: as refeições e o egoísmo da criança.
Em relação à alimentação deve dizer-se que esta é fonte de muitos problemas. Os pais devem ensinar que as refeições são prazer, não castigo.
Não permitir birras em relação à comida. Se não quiser comer não se façam tragédias mas na refeição seguinte seja servida, em boas condições, a mesma comida que não comeu antes.
Sobre a partilha, os pais devem ensinar os seus filhos a partilhar.
Dos 4 aos 6 anos a criança descobre o sentimento de propriedade.
Hoje há crianças que não partilham. Fazer crianças egoístas é uma desgraça para a sociedade e uma infelicidade futura para elas.
Atenção à chantagem afectiva! Os pais podem usá-la com moderação para manifestar desgosto por algumas condutas dos filhos.
Não são os filhos que têm de modelar os pais, estes é que devem controlar as situações não permitindo o menor vislumbre de violência. Os pais devem demonstrar equilíbrio, moderação e amor.
A mensagem deve ser: “Sanciono-te porque gosto de ti” e “mesmo que te zangues continuo a gostar de ti”.
Numa criança tirana observa-se: capricho, irrequietude, agressividade, tirania. As crianças manipuladoras são espertas, ágeis e reactivas. Por norma, esquecem os deveres que têm. Utilizam a perseverança como um dos recursos para conseguirem o que querem. A criança tirana reina no quotidiano, é autoritária e sedutora. Mostra pseudomaturidade (precocidade aparente), vive na impunidade, nunca se põe em causa, é sobrevalorizada, consegue o que quer, desmotiva-se, é insaciável, procura o prazer imediato, é materialmente muito mimada, é intolerante e perturbadora, é capaz de destruir para se divertir... mas é INFELIZ!
José António Carneiro
a partir da leitura da obra
21 maio 2009
Câmara aprova fim do prazo para requerer divórcio
20 maio 2009
Teologia do corpo: "Na primeira narrativa da Criação encontra-se a definição objetiva do homem"
Veja todas as catequeses que o FN publicou até agora clicando em Teologia do Corpo.
1. Na quarta-feira passada iniciamos o ciclo de reflexões sobre a resposta dada por Cristo Senhor aos seus interlocutores acerca da pergunta sobre a unidade e indissolubilidade do matrimônio. Os interlocutores fariseus, como recordamos, apelaram para a lei de Moisés; Cristo, pelo contrário, referiu-se ao "princípio", citando as palavras do Gênesis.
O "princípio", neste caso, diz respeito àquilo de que trata uma das primeiras páginas do Livro do Gênesis. Se queremos fazer uma análise desta realidade, devemos sem dúvida referir-nos primeiramente ao texto. De fato, as palavras pronunciadas por Cristo na conversa com os fariseus, que nos conservaram o capítulo 19 de Mateus e o capítulo 10 de Marcos, constituem uma passagem que por sua vez se enquadra num contexto bem definido, sem o qual não podem ser nem entendidas nem exatamente interpretadas. Este contexto é dado pelas palavras: Não lestes que o Criador, desde o princípio, os fez homem e mulher...?[i], e faz referência à chamada primeira narrativa da criação do homem, inserida no ciclo dos sete dias da criação do mundo[ii]. Pelo contrário, o contexto mais próximo das outras palavras de Cristo, tiradas do Gên. 2, 24, é a chamada segunda narrativa da criação do homem[iii], mas indiretamente é todo o terceiro capítulo do Gênesis. A segunda narrativa da criação do homem forma unidade conceitual e estilística com a descrição da inocência original, da felicidade do homem e também da sua primeira queda. Dada a especificidade do conteúdo expresso nas palavras de Cristo, tomadas do Gênesis 2, 24, poder-se-ia também incluir no contexto pelo menos a primeira frase do capítulo quarto do Gênesis, que trata da concepção e do nascimento do homem por parte dos pais terrestres. Assim pretendemos fazer na presente análise.
2. Do ponto de vista da crítica bíblica, urge recordar que a primeira narrativa da criação do homem é cronologicamente posterior à segunda. A origem desta última é muito mais remota. Este texto mais antigo define-se como "javista", porque para nomear a Deus serve-se do termo "Javé". É difícil não se ficar impressionado com que a imagem de Deus nele apresentada encerre traços antropomórficos bastante marcados (entre outros, lemos nele que... o Senhor Deus formou o homem do pó da terra e insuflou-lhe pelas narinas o sopro da vida[iv]). Em confronto com esta descrição, a primeira narrativa, isto é, exatamente a considerada cronologicamente como mais recente, é muito mais amadurecida quer no que diz respeito à imagem de Deus, quer na formulação das verdades essenciais sobre o homem. Provém da tradição sacerdotal e ao mesmo tempo "eloísta": de "Eloim", termo por ela usado para denominar Deus.
3. Dado que nesta narrativa a criação do ser inteligente como homem e mulher, a que se refere Jesus na sua resposta segundo Mt 19, está inserida no ritmo dos sete dias da criação do mundo, poder-se-lhe-ia atribuir sobretudo caráter cosmológico: o homem é criado na terra juntamente com o mundo visível. Ao mesmo tempo, porém, o Criador ordena-lhe que subjugue e domine a terra[v]: ele é portanto colocado acima do mundo. Embora o homem esteja tão intimamente ligado ao mundo visível, a narrativa bíblica não fala todavia da sua semelhança com o resto das criaturas, mas somente com Deus (Deus criou o homem à Sua imagem, criou-o à imagem de Deus...[vi]). No ciclo dos sete dias da criação manifesta-se evidentemente uma gradualidade nítida[1]; o homem, pelo contrário, não é criado segundo uma sucessão natural, mas o Criador parece deter-se antes de o chamar à existência, como se tornasse a entrar em si mesmo, para tomar decisão: Façamos o homem à Nossa imagem, à Nossa semelhança...[vii].
4. O nível daquela primeira narrativa da criação do homem, embora cronologicamente posterior, é sobretudo de caráter teológico. Indica-o principalmente a definição do homem baseada na sua relação com Deus ("à imagem de Deus o criou"), o que encerra ao mesmo tempo a afirmação da impossibilidade absoluta de reduzir o homem ao "mundo". Já à luz das primeiras frases da Bíblia, não pode o homem ser compreendido, nem explicado até ao fundo, com as categorias deduzidas do "mundo", isto é, do conjunto visível dos corpos. Apesar de também o homem ser corpo. Gn 1, 27 verifica que esta verdade essencial acerca do homem se refere tanto ao homem como à mulher: Deus criou o homem à sua imagem... criou-os homem e mulher[2]. É preciso reconhecer que a primeira narrativa é concisa, livre de qualquer vestígio de subjetivismo: contém só o fato objetivo e define a realidade objetiva, quer ao falar da criação humana, do homem e da mulher, à imagem de Deus, quer ao acrescentar pouco depois as palavras da primeira bênção: Abençoando-os, Deus disse-lhes: "crescei e multiplicai-vos, enchei e dominai a terra"[viii].
5. A primeira narrativa da criação do homem, que, segundo verificamos, é de índole teológica, encerra em si abundante conteúdo metafísico. Não se esqueça que precisamente este texto do Livro do Gênesis se tornou a fonte das inspirações mais profundas para os pensadores que têm procurado compreender o "ser" e o "existir". (Talvez só o capítulo terceiro do Livro do Êxodo se possa comparar ao presente texto)[3]. Não obstante algumas expressões particularizadas e plásticas do trecho, o homem é nele definido primeiramente nas dimensões do ser e do existir ("esse"). É definido de modo mais metafísico que físico. Ao mistério da sua criação ("sede fecundos e multiplicai-vos, enchei a terra"), a perspectiva daquele suceder-se no mundo e no tempo, daquele "fieri" que está necessariamente ligado à situação metafísica da criação: do ser contingente (contingens). Precisamente nesse contexto metafísico da descrição de Gn 1, é necessário entender a entidade do bem, isto é, o aspecto do valor. De fato, este aspecto repete-se no ritmo de quase todos os dias da criação do homem: Deus, vendo toda a sua obra, considerou-a muito boa[ix]. Por este motivo é lícito dizer com certeza que o primeiro capítulo do Gênesis formou um ponto inexpugnável de referência e a base sólida para uma metafísica e também para uma antropologia e uma ética, segundo a qual "ens et bonum convertuntur". Sem dúvida, tudo isto tem significado próprio, também para a teologia e sobretudo para a teologia do corpo.
6. Nesta altura interrompemos as nossas considerações. Daqui a uma semana ocupar-nos-emos da segunda narrativa da criação, isto é, daquilo que, segundo os biblistas, é cronologicamente mais antigo. A expressão "teologia do corpo", usada recentemente, merece explicação mais exata, mas deixamo-la para outro encontro. Devemos primeiro procurar aprofundar aquela passagem do Livro do Gênesis, a que se referiu Cristo.[1] Falando da matéria não vivificada, o autor bíblico usa diferentes predicados, como "separou", "chamou", "fez" e "pôs". Pelo contrário, falando dos seres dotados de vida, usa os termos "criou" e "abençoou". Deus ordena-lhes: "Sede fecundos e multiplicai-vos". Esta ordem refere-se tanto aos animais como ao homem, indicando que a corporalidade lhes é comum (cfr. Gn 1, 22.28).
Todavia a criação do homem distingue-se essencialmente, na descrição bíblica, das obras precedentes de Deus. Não só é precedida por uma introdução solene, como se se tratasse duma deliberação de Deus antes deste ato importante, mas sobretudo é posta em relevo a excepcional dignidade do homem pela "semelhança" com Deus, de quem é a imagem.
Criando a matéria não vivificada, Deus "separava"; aos animais ordena que sejam fecundos e se multipliquem, mas a diferença de sexo é sublinhada apenas a respeito do homem ("macho e fêmea os criou") abençoando ao mesmo tempo a fecundidade deles, isto é, o vínculo das pessoas (Gn 1, 27-28).
[2] O texto original diz: "Deus criou o homem (ha-adam -substantivo coletivo: a "humanidade"?); à sua semelhança; à imagem de Deus o criou: macho (zakar -masculino) e fêmea (uneqebah -feminino) os criou" (Gn 1, 27).
[3] "Haec sublimis veritas": "Eu sou Aquele que sou" (Êx 3, 14) constitui objeto de reflexão para muitos filósofos, a começar por Santo Agostinho, que julgava ter Platão conhecido este texto, tão próximo ele lhe parecia das concepções do filósofo grego. A doutrina augustiniana da divina "essentialitas" exerceu, por meio de Santo Anselmo, influxo profundo na teologia de Ricardo de S. Vítor, de Alexandre d'Halès e de S. Boaventura.
"Pour passer de cette interprétation philosophique du texte de l'Exode à celle qu'allait proposer saint Thomas il fallait nécessairement franchir la distance que sépare 'l'être de l'essence' de 'l'être de l'existence'. Les preuves thomistes de l'existence de Dieu l'ont franchie".
Diversa é a posição do Mestre Eckart, que, baseado neste texto, atribui a Deus a "puritas essendi": "est aliquid altius ente..." (cfr. E. Gilson, Le Thomisme, Paris 1944, Vrin, Pedro. 122-127; E. Gilson, History of Christian Philosophy in the Middle Ages, London 1955, Sheed and Ward, p. 810).
19 maio 2009
Padre é preso na Universidade de Notre Dame por protestar contra o aborto
O texto dessa matéria é composto pelas mensagens enviadas por Adriano e por Lenise em uma comunidade do Orkut
17 maio 2009
ADPF nº 54: você já pensou seriamente sobre o aborto de anencéfalos?
15 maio 2009
Ditadura dos filhos
A partir de um comentário que o JAC fez aqui no blog, trocamos alguns e-mails sobre um livro que ele está lendo -"O pequeno ditador"-, sobre a tirania dos filhos (assunto que me interessa, como você vê em Meu pequeno ditador). À medida de suas possibilidades, o JAC está enviando textos a respeito do livro. Abaixo, você pode ver o resumo do capítulo 1, com informações muito preciosas. Valeu, JAC!!
Javier Urra, O pequeno ditado. Da criança mimada ao adolescente agressivo.
Capítulo 1: Filhos agressivos
Ideias base: Existem filhos agressivos nas famílias. Se em muitos casos os filhos são vítimas, noutros, cada vez mais, são tiranos e agressores, caprichosos, que dão ordens aos pais, desobedientes, desafiadores…
Três tipos de maus tratos dos filhos em relação aos pais:
Condutas tirânicas: procuram causar dano ou incómodo utilizando a incompreensão como axioma; evitam responsabilidades, culpabilizando os outros.
Utilização dos pais: como se os pais fossem usufruto dos filhos ou caixas automáticas….
Desapego: transmitem aos pais que não gostam deles.
Causas da tirania:
Sociedade permissiva que educa para os direitos e não para os deveres. O corpo social perdeu força, perdeu autoridade. Há uma crise de responsabilidade, de falta de compromisso; sociedade do bem estar e do prazer.
Meios de comunicação são uma cascata de actos violentos
Crianças passam muito tempo sozinhas
Estrutura familiar modificou-se: desestruturação de muitos casais
Diferenças educativas entre os pais, e diferenças educativas entre os pais e os professores.
Excessiva permissividade dos pais – das três formas clássicas de controlo (autoridade, competência e confiança), parece que só há lugar para a última.
As crianças podem ser inofensivas, mas não são inocentes. Deve-se responsabilizar no processo educativo quem tem a missão primeira de educar, e esses são os pais. Deve educar-se nos deveres e nos direitos, na tolerância, marcando regras, exercendo controlo, e sabendo dizer “não”.
A tirania infantil reflecte uma educação (se assim se pode chamar) familiar e ambiental distorcida que aponta para o mais deplorável e paradoxal resultado, dando assas à expressão “cria corvos e eles te comerão os olhos”.
Por José António Carneiro - A partir da leitura da obra
E não deixe de ler Meu pequeno ditador
13 maio 2009
Direito de criticar a homossexualidade
Teologia do corpo: "Em colóquio com Cristo sobre os fundamentos da família"
Veja todas as catequeses que o FN publicou até agora clicando em Teologia do Corpo.
1. Há tempos que estão em curso os preparativos para a próxima Assembléia ordinária do Sínodo dos Bispos, que se realizará em Roma no outono do ano que vem. O tema do Sínodo "De muneribus familiae christianae" (Deveres da família cristã) concentra a nossa atenção nessa comunidade de vida humana e cristã, que desde o princípio é fundamental. Exatamente esta expressão "desde o princípio" empregou o Senhor Jesus no diálogo sobre o matrimônio referido pelo Evangelho de São Mateus e pelo de São Marcos. Queremos perguntar-nos que significa esta palavra "princípio". Queremos, além disso, esclarecer porque apela para o "princípio" exatamente nesta circunstância e, portanto, propomo-nos análise mais precisa do referido texto da Sagrada Escritura.
2. Durante a conversa com os fariseus, que o interrogavam sobre a indissolubilidade do matrimônio, duas vezes se referiu Jesus Cristo ao "princípio". O diálogo decorreu da maneira seguinte:
Alguns fariseus, para O experimentarem, aproximaram-se d'Ele e disseram-lhe: "É permitido a um homem repudiar sua mulher por qualquer motivo?". Ele respondeu: "Não lestes que o Criador, desde o princípio, os fez homem e mulher, e disse: Por isso, o homem deixará o pai e a mãe, e unir-se-á a sua mulher, e serão os dois uma só carne? Portanto, já não são dois, mas uma só carne. Pois bem, o que Deus uniu, não o separe o homem". "Por que foi então, perguntarem eles, que Moisés preceituou dar-lhe carta de divórcio ao repudiá-la?". Respondeu Jesus: "Por causa da dureza do vosso coração, Moisés permitiu que repudiásseis as vossas mulheres: mas ao princípio não foi assim"[i].
Cristo não aceita a discussão ao nível que os seus interlocutores procuram dar-lhe, em certo sentido não aprova a dimensão que eles se esforçam por conferir ao problema. Evita embrenhar-se nas controvérsias jurídico-casuísticas; e, em vez disso, apela duas vezes para o "princípio". Procedendo assim, faz clara referência às palavras sobre a matéria no Livro do Gênesis, que também os seus interlocutores sabem de cor. Dessas palavras da revelação antiquíssima, tira Cristo a conclusão, e o diálogo termina.
3. "Princípio" significa, portanto, aquilo de que fala o Livro do Gênesis. É, portanto, o Gênesis 1, 27 que cita Cristo, em forma resumida: O Criador desde o princípio fê-los homem e mulher; mas o trecho originário completo soa textualmente assim: Deus criou o homem à Sua imagem, criou-o à imagem de Deus; Ele os criou homem e mulher. Em seguida, o Mestre refere-se ao Gênesis 2, 24: Por este motivo, o homem deixará o pai e a mãe para se unir à sua mulher; e os dois serão uma só carne. Citando estas palavras quase "in extenso", por inteiro, Cristo dá-lhes ainda mais explícito significado normativo (dado que era admissível a hipótese de no Livro do Gênesis figurarem como afirmações unicamente de fatos: "Deixará... unir-se-á... serão uma só carne"). O significado normativo determina-se uma vez que não se limita Cristo somente à citação em si, mas acrescenta: "Portanto, já não são dois, mas uma só carne. Pois bem, o que Deus uniu, não o separe o homem". Este "não o separe" é determinante. À luz desta palavra de Cristo, o Gênesis 2, 24 enuncia o princípio da unidade e indissolubilidade do matrimônio como o próprio conteúdo da palavra de Deus, expressa na mais antiga revelação.
4. Poder-se-ia, nesta altura, defender que o problema está terminado, que as palavras de Jesus Cristo confirmam a lei eterna, formulada e instituída por Deus "desde o princípio", desde a criação do homem. Poderia também parecer que o Mestre, ao confirmar esta lei primordial do Criador, não faz senão estabelecer exclusivamente o próprio sentido normativo dela, apelando para a autoridade mesma do primeiro Legislador. Todavia, aquela expressão significativa "desde o princípio", repetida por Cristo, leva claramente os interlocutores a refletirem sobre o modo como no mistério da criação foi moldado o homem, precisamente como "homem e mulher", para se compreender corretamente o sentido normativo das palavras do Gênesis. Ora isto não tem menor valor para os interlocutores de hoje do que teve para os de então. Portanto, no presente estudo, considerando tudo isto, devemos colocar-nos exatamente na posição dos atuais interlocutores de Cristo.
5. Durante as sucessivas reflexões das quartas-feiras, nas audiências gerais, procuraremos, como atuais interlocutores de Cristo, deter-nos demoradamente nas palavras de São Mateus (19, 3 ss.). Para responder à indicação, que encerrou Cristo nelas, procuraremos penetrar naquele "princípio", a que Ele se referiu de modo tão significativo; e assim seguiremos de longe o grande trabalho, que sobre este tema, agora precisamente, empreendem os participantes no próximo Sínodo dos Bispos. Ao lado deles, tomam parte nele numerosos grupos de pastores e até de leigos, que sentem especial responsabilidade acerca das obrigações impostas por Cristo ao matrimônio e à família cristã: as obrigações que Ele impôs sempre, e ainda impõe na nossa época, no mundo contemporâneo.
O ciclo das reflexões que iniciamos hoje, com a intenção de continuá-lo durante os seguintes encontros das quartas-feiras, tem ainda, além do mais, como finalidade, por assim dizer, acompanhar de longe os trabalhos preparatórios do Sínodo, não entrando porém diretamente no seu tema, embora dirigindo a atenção para as raízes profundas de que ele brota.
10 maio 2009
Qual é o momento certo para aplicar castigo nos filhos?
06 maio 2009
Teologia do corpo: catequeses do Papa João Paulo II sobre o amor humano, a redenção do corpo e a sacramentalidade do matrimônio
A partir da próxima quarta-feira, publicarei semanalmente uma daquelas catequeses. O título será sempre "Teologia do corpo..." seguido do título da catequese, tal como publicado pelo L'Osservatore Romano, que serviu como minha fonte direta.
Gostaria, hoje, de fazer uma rápida apresentação. Na verdade, esse material foi feito por mim há muitos anos, e o texto que coloco abaixo já foi escrito há bastante tempo. Visa a dar uma visão geral sobre os temas.
O presente trabalho recolhe a grande catequese feita pelo Papa João Paulo II sobre a família, à qual o próprio deu o nome de O amor humano no plano divino, analisando o tema: A redenção do corpo e a sacramentalidade do matrimônio.
Trata-se de uma longa catequese, iniciada em 1979 e terminada em 1984. Esse aspecto histórico é importante, pois neste ínterim ocorreram dois acontecimentos de grande relevância. O primeiro foi o Sínodo dos Bispos de 1980, que cuidou da missão da família cristã; o segundo foi a Exortação Apostólica Familiaris consortio, publicada em 1981 como fruto daquele Sínodo.
Nessa Exortação, publicada, pois, na época em que era proferida a presente catequese, o Papa sugere "uma autêntica e profunda espiritualidade conjugal e familiar, que se inspire nos motivos da criação, da aliança, da cruz, da ressurreição e do sinal" (Familiaris consortio, 56c).
Parece-me, de fato, que nesta indicação do Santo Padre podemos encontrar luzes para construir uma espiritualidade que responda aos desafios enfrentados pela família às portas do Terceiro Milênio cristão. E essas luzes parecem brilhar com mais intensidade na presente catequese, na qual João Paulo II desenvolveu e aprofundou, justamente, os temas propostos, sobre uma base personalística.
De fato, assim está disposto o trabalho: são 127 pronunciamentos, divididos em três grandes partes: a primeira, com 85 pronunciamentos, trata do tema da Redenção do corpo; a segunda, com 27 textos, se refere à Sacramentalidade do matrimônio; em 14 catequeses, o Papa responde a alguns questionamentos hodiernos, formando a terceira parte; ao final, numa importante síntese conclusiva, o Papa termina o longo ciclo explicando alguns conceitos para que o texto integral seja bem compreendido.
A primeira parte, é dividida em três capítulos, que se dedicam à análise de três textos-chaves do Evangelho. Temos, antes de tudo, o texto em que se refere Cristo "ao princípio" no colóquio com os fariseus sobre a unidade e indissolubilidade do matrimônio (cf. Mt 19, 8; Mc 10, 6-9). Prosseguindo, temos as palavras pronunciadas por Cristo no Sermão da Montanha sobre a "concupiscência" como "adultério cometido no coração" (cf. Mt 5, 28). Por fim, temos as palavras transmitidas por todos os sinóticos, em que Cristo faz referência à ressurreição dos corpos no "outro mundo" (cf. Mt 22, 30; Mc 12, 25; Lc 20, 35). Vê-se, pois, que nesta primeira parte, foram desenvolvidos os temas da criação e da ressurreição, todos sob as luzes da redenção operada por Cristo na cruz.
A segunda parte, dedica-se à análise do sacramento com base na Epístola aos Efésios (Ef 5, 22-33). As reflexões serão conduzidas na consideração das duas dimensões essenciais deste sacramento, isto é, a dimensão da aliança e a dimensão do sinal. O Papa, com esses dois capítulos, completa o desenvolvimento dos temas por ele mesmo sugeridos para se construir uma autêntica e profunda espiritualidade conjugal e familiar. Embora esta catequese sobre O amor humano no plano divino não esgote completamente os temas sugeridos, não se pode deixar de considerá-la como valioso material de estudo e de formação.
A essas reflexões, o Papa somará alguns enfoques da Encíclica Humanae vitae, procurando responder, sobre uma base personalística e bíblica, os interrogativos do homem de hoje. Segundo o Papa, a doutrina desta Encíclica se mantém em relação orgânica quer com a sacramentalidade do matrimônio, quer com toda a problemática bíblica da teologia do corpo, centralizada nas palavras-chaves de Cristo. Em certo sentido, dirá o Papa "pode-se até dizer que todas as reflexões que tratam da 'redenção do corpo e da sacramentalidade do matrimônio', parecem constituir um amplo comentário à doutrina contida precisamente na Encíclica Humanae vitae" (O amor humano no plano divino, 127, 2).
Umas palavras sobre o modo de apresentação do trabalho: ele é formado pelo que consta do jornal L'Osservatore Romano, em sua edição em português. Foi passado para o português do Brasil, procurando-se manter fidelidade máxima ao texto da maneira em que foi publicado. No entanto, por se tratar de catequeses que foram sendo proferidas num espaço de tempo tão longo, é fácil compreender que, em alguns momentos, a própria edição original não tenha seguido um padrão único. Isso de dá, por exemplo, ao se referir aos escritos neo-testamentários, que algumas vezes são chamados "Cartas" e, outras vezes, "Epístolas". Como o presente trabalho quis dar uma coesão orgânica aos textos, e não obstante o fato de tais termos serem sinônimos, houve-se por bem sempre chamá-los pelo nome de "Epístolas".
Da mesma forma, o leitor poderá perceber que no trabalho constam duas categorias de notas. Para facilitar a leitura, as notas remissivas foram colocadas ao final de cada capítulo e enumeradas com numerais arábicos. As notas explicativas, por serem comumente de maior interesse imediato para a compreensão do texto, foram colocadas no rodapé das páginas e enumeradas com letras.
Espero que este material, tão rico e profundo, possa ser útil a todos os que dele fizerem uso. De fato, ele pode ajudar na compreensão do Magistério de Sua Santidade sobre a família e, portanto, no discernimento dos rumos que o Senhor quis dar à sua Esposa na alvorada do Terceiro Milênio. E a compreensão é o primeiro passo para amar e agir.
Petrópolis, 18 de dezembro de 1998
Danilo Badaró Mendonça
Veja todas as catequeses que o FN publicou até agora clicando em Teologia do Corpo.
04 maio 2009
Especialistas falam da relação da família com a chegada do segundo filho
Aqui em casa, desde que soubemos da gravidez, tomamos algumas providências. Colocamos o João Paulo (o mais velho) na escola, para que ele não associasse a saída de casa com a chegada da irmãzinha ("ela nasceu, e agora estou saindo de casa para estudar enquanto ela fica com papai e mamãe"). Além disso, compramos uma caminha para ele, a fim de que a irmãzinha passasse a usar o berço. Quando ela nasceu, ele nem se dava mais conta de que aquele tinha sido o seu berço. Para ele, sempre foi o berço da Isabela.
Veja um video interessante: