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03 fevereiro 2009

A "Humanae vitae": uma profecia científica

Traduzimos para o português o artigo de Pedro José María Simón Castellví, Presidente da Federação Internacinal de Associações de Médicos Católicos, publicado no L´Osservatore Romano de 4 de janeiro de 2009. Trata-se de um breve comentário ao documento "40 anos depois da Encíclica Humanae vitae: o ponto de vista médico". O original do artigo pode ser visto aqui. Em seguida, publicamos a entrevista do autor ao site Zenit.

A Federação que eu tenho a honra de presidir acaba de publicar um documento oficial para comemorar o quadragésimo aniversário da encílica Humanae vitae de Paulo VI, de venerada memória. Trata-se de um texto muito técnico, longo, de cem páginas, com trezentas citações bibliográficas, a maior parte de revistas médicas especializadas.

O documento veio à luz depois de muitos meses de investigação e de intenso trabalho de recolhimento de dados. É justo relembrar o relator, o suiço Rudolf Ehmann, que se dedicou à sua redação os mesmos meses exatos de uma gravidez. Nunca se havia feito algo siminar desde o ponto de vista médico, dado o modo de trabalhar e escrever ao qual nós, os médicos, estamos acostumados. Além disso, o texto original alemão é belo e está bem escrito. Quais são suas chaves de leitura? Diz algo novo à Igreja e à sociedade? Deve-se considerar como uma prova pericial qualificada para ponderar aspectos importantes da contracepção. Escrito com todos os requisitos científicos, sem nenhum complexo de inferioridade com relação a qualquer debate de obstretícia e ginecologia, chega a duas conclusões que não deveriam passar despercebidas nem dentro da Igreja, nem fora dela. nem foradela.

Em primeiro lugar, demostra irrefutavelmente que a pílula denominada anovulatória mais utilizada no mundo industrializado, aquela com baixas doses de hormônios estrogêneo e progesterona, funciona em muitos casos como um verdadeiro efeito anti-implantatório, ou seja, abortivo, posto que expulsa um pequeno embrião humano. O embrião, inclusive em seus primeiros dias, é algo distinto de um óvulo ou célula germinam feminina. O embrião tem um crescimento contínuo, coordenado, gradual, de tal maneira que, se nada o impedir, termina com a saída do seio materno aos nove meses, disposto a devorar litros de leite. Este efeito anti-implantatório está admitido pela literatura científica. Fala-se, inclusive sem pudor, e taxa de perda embrional. Curiosamente, no entanto, esta informação não chega ao grande publico. Os investigadores estão a par disso e está presente nos prospectos dos produtos farmacêuticos procurados para evitar um gravidez.

Outro aspecto interessante tem a ver com os efeitos ecológicos devastadores das toneladas de hormônios despejadas cada ano no meio ambiente. Temos dados suficientes para afirmar que um dos motivos, em nada irrelevantes, da infertilidade masculina no Ocidente (com sempre menos espermatozóides no homem) é o envenenamento ambiental provocado por produtos da "pílula". Estamos, aqui, diante de um efeito anti-ecológico claro, que exige ulteriores explicações da parte dos fabricantes. São conhecidos por todos os outros efeitos secundários das combinações entre estrogêneos e progestênicos. A própria Agência internacional de investigação do câncer (International Agency for Research on Cancer), com sede em Lyón, agência da Organização Muncial da Saúde (OMS), em seu comunicado de imprensa de 29 de julho de 2005, já havia constatado que os comprimidos orais de combinação entre estrogêneo e progesterona eram cancerígenos e os havia classificado no grupo um dos agentes cancerígenos...

Triste em tudo isso é que, quando se trata de regular a fertilidade, esses produtos não são necessários. Os meios naturais de regulação da fertilidade ("NPF" ou Natural Family Planning) são igualmente eficazes e, além disso, respeito a natureza da pessoa.

Neste sexagésimo aniversário da Declaração dos direitos humanos, pode-se dizer que os meios contraceptivos violam pelo menos cinco importantes direitos: o direito à vida, o direito à saúde, o direito à educação, o direito à informação (sua difusão sucede a custo da informação sobre meios naturais) e o direito à igualdade entre sexos (o peso da contracepção recai quase sempre sobre a mulher).

A FIAMC se comprometeu com a ciência e com a verdade desde suas origens. Por isso, estudamos e mencionamos tanto o efeito principal quanto os secundários desses fármacos. A chave de nossa antropologia não consiste, no entanto, somente no fato de que examinamos os produtos abortivos que têm consistenstes efeitos secundários ou que são, inclusive, inúteis. Nós vamos além.

A sexualidade é um dom maravilhoso de Deus aos cônjuges. Une-os tanto que qualquer elemento externo que se interponha entre eles é um terceiro sem direitos. Os cônjuges se dão totalmente um ao outro, também a própria capacidade generativa. Se uma nova vida não for possível por graves motivos, também forma parte da intimidade conjugal utilizar os períodos não fecundos da mulher para ter relações, que devem ser sempre satisfatórias para ambos e uní-los sempre mais. A quantos veem alguns documentos da Igrea como compêndios de proibições, pedimos vivamente que leiam os códigos civis, penais ou mercantis dos países ocidentais. Ali, sim, há proibições! Não discuto sua oportunidade, mas creio que estes mesmos códigos se baseiam mais sobre as premissas fundamentais da liberdade pessoal e do comércio que apontam à felicidade das pessoas e para a eficiência das sociedades e que, definitivamente, justificam algumas proibições. A Igreja tem em grande estima a sexualidade e creio que, se uma formação e hábitos corretos forem adquiridos, a vida é mais fácil e são positivamente julgados alguns limites que efetivamente existem.

Nós, os méditos católicos, somos plenamente conscientes de dever investir muito mais na maternidade. Mas também em recursos humanos, na educação e em recursos financeiros. A doutrina da Humanae vitae é pouco seguida e, entre outras coisas, porque, em seu tempo, muitos médicos não a aceitaram. A pergunta oposta pode nos ajudar a ver quâo profético foi Paulo VI. Se ele tivesse aceitado a "pílula", será que hoje teríamos podido prescrever cm consciência alguns produtos que sabemos que são anti-implantatórios? O prestígio do médico lhe permite oferecer aos cônjuges, com autoridade, alternativas à contracepção. A relação entre médico e paciente é tão forte que dificilmente se rompe, inclusive se houver no meio um teólogo dissidente. Para tal fim, é, no entanto, necessário formar e informar mais e melhor os médicos sobre a fertilidade. Creio que nós, os médicos católicos, continuaremos desenvolvento nossa profissão. No entanto, vista a situação atual - com progressos muito lentos, com reticências e milhões de pessoasi mplicadas - ouso pedir respeitosamente à Igreja a criação de uma comissão especial para a Humanae vitae.

Segue, abaixo, a entrevista do autor ao site Zenit.


«Humanae Vitae»: profecia científica

O presidente dos médicos(*) católicos denuncia os perigos da pílula anticoncepcional

Por Antonio Gaspari

ROMA, quinta-feira, 8 de janeiro de 2009 (ZENIT.org).- Apesar de ter sido publicada há 40 anos, a encíclica Humanae Vitae ainda suscita um forte debate. Para alguns, inclusive dentro da Igreja Católica, trata-se de um texto inadequado aos tempos e insuficiente nas respostas, enquanto outros sustentam que se trata de uma encíclica «profética».

Para estes últimos, o Papa Paulo VI fez bem em advertir contra o uso de anticoncepcionais, já que estes são perigosos para a saúde da mulher e para a relação dentro do casal.

Neste contexto, o doutor espanhol José María Simón Castellví, presidente da Federação Internacional das Associações de Médicos Católicos (FIAMC), anunciou um texto em 4 de janeiro passado, com o título «40 anos depois da Encíclica Humanae Vitae, do ponto de vista médico», no qual se ilustram todos os problemas relativos à saúde da mulher, à contaminação ambiental e ao enfraquecimento e banalização das relações de casal que a pílula contraceptiva provocou.

Sobre esta questão, o dr. Simón Castellví concedeu esta entrevista à Zenit.

Os críticos da Humanae Vitae sustentam que os anticoncepcionais trouxeram a emancipação feminina, progresso, saúde médica e ambiental. Mas segundo o informe da FIAMC, isso não é verdade. Pode explicar-nos por quê?

– Simón Castellví: Os anticoncepcionais não são um verdadeiro progresso nem para as mulheres nem para o planeta. Compreendo e sou solidário com as mulheres que deram a vida a muitos filhos, mas a solução não está na contracepção, e sim na regulação natural da fertilidade. Esta respeita os homens e as mulheres. O estudo que apresentamos é científico e nos diz que a pílula é contaminadora e em muitos casos anti-implantatória, ou seja, abortiva.

O estudo sustenta de fato que a pílula denominada anovulatória, a mais utilizada, que tem como base doses de hormônios de estrogênio e progesterona, funciona em muitos casos com um verdadeiro efeito anti-implantatório. É verdade?

– Simón Castellví: É verdade. Atualmente, a pílula anticoncepcional denominada anovulatória funciona em muitos casos com um verdadeiro efeito anti-implantatório, ou seja, abortivo, porque expele um pequeno embrião humano. E o embrião, inclusive em seus primeiros dias, é um pouco diferente de um óvulo ou célula germinal feminina. Sem essa expulsão, o embrião chegaria a ser um menino ou menina.

O efeito anti-implantatório destas pílulas está reconhecido na literatura científica. Os investigadores o conhecem, está presente nos prospectos dos produtos farmacêuticos dirigidos a evitar uma gravidez, mas a informação não chega ao grande público.

O estudo em questão sustenta que a grande quantidade de hormônios no ambiente tem um efeito grave de contaminação meio-ambiental que influi na infertilidade masculina. Você poderia nos explicar por quê?

– Simón Castellví: Os hormônios têm um efeito nocivo sobre o fígado, e depois se dispersam no ambiente, contaminando-o. Durante anos de utilização das pílulas anticoncepcionais se verteram toneladas de hormônios no ambiente. Diversos estudos científicos indicam que isso poderia ser um dos motivos do aumento da infertilidade masculina. Pedimos que se façam pesquisas mais precisas sobre os efeitos contaminadores desses hormônios.

O estudo elaborado pela FIAMC retoma as preocupações expressas em 29 de julho de 2005 pela Agência Internacional de Pesquisa do Câncer (International Agency for Research on Cancer), a agência da Organização Mundial da Saúde (OMS), segundo a qual os preparados orais de combinados de estrogênio e progesterona podem ter efeitos cancerígenos. Você poderia ilustrar-nos a gravidade destas implicações?

– Simón Castellví: É grave que se esteja distribuindo um produto não indispensável para a saúde e que poderia ser cancerígeno. Esta não é uma opinião dos médicos católicos, mas da Agência da OMS que luta contra a difusão do câncer. Nós só citamos suas preocupações ao respeito.

Você e a associação que você representa sustentam que a Humanae Vitae foi profética ao propor os métodos naturais de regulação da fertilidade. Pode explicar-nos por quê?

– Simón Castellví: O Papa Paulo VI foi profético também do ponto de vista científico. Com essa encíclica, ale alertou sobre os perigos da pílula anticoncepcional, como o câncer, a infertilidade, a violação dos direitos humanos, etc. O Papa tinha razão e muitos não quiseram reconhecer isso. Quando se trata de regular a fertilidade, são muito melhores os métodos naturais, que são eficazes e respeitam a natureza da pessoa.

Em um artigo publicado pelo L'Osservatore Romano («L'Humanae vitae. Una profezia scientifica», 4 de janeiro de 2009), você sustenta que os métodos anticoncepcionais violam os direitos humanos. Pode precisar-nos por quê?

– Simón Castellví: No 60º aniversário da Declaração dos Direitos do Homem se pode demonstrar que os meios anticoncepcionais violam pelo menos cinco importantes direitos:

O direito à vida, porque em muitos casos se trata de pílulas abortivas, e cada vez se elimina um pequeno embrião.

O direito à saúde, porque a pílula não serve para curar e tem efeitos secundários importantes sobre a saúde de quem a utiliza.

O direito à informação, porque ninguém informa sobre os efeitos reais da pílula. Em particular, não se adverte sobre os riscos para a saúde e a contaminação ambiental.

O direito à educação, porque poucos explicam como se praticam os métodos naturais.

O direito à igualdade entre os sexos, porque o peso e os problemas das práticas anticoncepcionais recaem quase sempre sobre a mulher.

A Humanae vitae sustenta que os anticoncepcionais influenciam negativamente na relação do casal, separando o ato de amor da procriação. Você poderia explicar-nos, como homem de ciência, esta afirmação?

– Simón Castellví: A relação entre os esposos deve ser de total confiança e amor. Excluir com meios impróprios a possibilidade da procriação prejudica a relação de casal. O doar-se um ao outro deveria ser total e enriquecer-se pela capacidade da transmissão da vida.

Substancialmente, a Humanae vitae é um documento que une e reforça os casais; por que então tantas críticas?

– Simón Castellví: Muitas das críticas foram sugeridas pelos interesses econômicos que estão por trás da venda da pílula. Outras críticas surgem daqueles que querem reduzir e selecionar a fertilidade e o crescimento demográfico. Finalmente, as críticas procedem também daqueles que querem limitar a autoridade moral da Igreja Católica.

O que teria acontecido se a Igreja não tivesse se oposto à difusão da pílula?

– Simón Castellví: Não quero sequer pensar nisso. Só considerando o efeito abortivo das pílulas, a própria Igreja Católica seria hoje menos numerosa. Posso compreender o pensamento de milhões de mulheres que usam a pílula, mas quero sugerir que existe uma antropologia melhor para elas, a que a Igreja Católica propõe.

Fonte: ZENIT.ORG

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