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30 janeiro 2009

O valor da oração familiar

Angelus. Alocução mariana de domingo, 30 de janeiro de 1994

Caríssimos Irmãos e Irmãs

Queridos Jovens da Ação Católica

1A A família está, desde sempre, no centro da atenção eclesial. De modo particular o está no decurso deste Ano a ela dedicado. Se nos perguntarmos o "porquê" de tanto interesse, não será difícil encontrá-lo no amor e no serviço que a Igreja deve ao homem. O Cristianismo é a religião da encarnação, é o anúncio jubiloso de um Deus que vem ao encontro do homem e se faz homem. Por isso, desde a minha primeira Encíclica, não hesitei em afirmar que o homem é a "via da Igreja" , tencionando assim evocar e quase seguir a via percorrida por Deus mesmo, quando, mediante a Encarnação e a Redenção, se pôs no caminho da sua criatura.

1B Mas como se pode encontrar o homem, sem encontrar a família?

1C O homem é essencialmente um ser "social"; com maior razão pode-se defini-lo um ser "familiar". A família é o lugar natural da sua vinda ao mundo, é o ambiente no qual, normalmente, recebe quanto lhe é necessário para se desenvolver, é o primordial núcleo afetivo que lhe dá consistência e segurança, é a primeira escola de relações sociais.

1D De tudo isto a Igreja colhe a raiz última no projeto de Deus, ou melhor, no mistério mesmo da sua vida. Deus, de fato, mesmo sendo uno e único, revelou-se como inefável mistério trinitário, de três Pessoas Pai, Filho e Espírito Santo em recíproca relação de amor. O amor dos cônjuges, como o que une todos os membros da família, pais e filhos, é um reflexo no tempo desta comunhão eterna.

2A Podemos dizer: eis o "Evangelho da família", que a Igreja tenciona propor com renovado impulso. Eis o Ano da Família! Este ano iniciou com uma solene celebração em Nazaré, berço da Sagrada Família. Este ano, que o Senhor nos oferece, quer ser testemunho e anúncio, quer ser tempo de reflexão e tempo de conversão: tempo de especial oração, oração pelas famílias, oração nas famílias e oração das famílias.

2B É hora de redescobrir, queridos Irmãos e Irmãs, o valor da oração, a sua força misteriosa, a sua capacidade não só de nos reconduzir a Deus, mas de nos introduzir na verdade radical do ser humano. Ela encaminha para a conversão, para a conversão à sua plena humanidade cristã, e, depois, conversão à família, à solidariedade, ao amor, próprio deste núcleo de todas as relações sociais no mundo.

2C Quando o homem ora, põe-se diante de Deus, de um Tu, um Tu divino, e colhe ao mesmo tempo a íntima verdade do próprio "eu": Tu divino; eu humano, ser pessoal criado à imagem de Deus.

2D Acontece o mesmo na oração familiar: pondo-se na luz do Senhor, a família experimenta profundamente, como sujeito comunitário, um "nós" consolidado por um eterno desígnio de amor, que nada no mundo pode destruir.

3A E como costume, antes do Angelus, olhemos para Maria, esposa e mãe da Família de Nazaré. Ela é ícone vivo de oração, numa família de oração. Precisamente por isto, é também imagem de serenidade e de paz, de dedicação e de fidelidade, de ternura e de esperança. E isto é, isto deve ser também cada família.

3B A Ti, Virgem Santa, pedimos que nos eduques para a oração. A Ti, pedimos o grande dom do amor em todas as famílias do mundo. E com esta intenção, recitamos agora juntos o Angelus Domini.


28 janeiro 2009

Homens resistem mais à fome do que as mulheres

Acho que descobri meu lado feminino... A pesquisa é contestada, como se vê abaixo, mas pode explicar muita coisa.

Do Yahoo Notícias

Um estudo publicado na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences mostrou uma experiência feita nos Estados Unidos que pediu a cerca de 20 voluntários que não comessem por um dia.

Depois das 24 horas, que passaram, vários testes revelaram que os homens tiveram muito menos atividade em regiões do cérebro associadas ao desejo por comida do que as mulheres. Alguns especialistas afirmam que esta pesquisa não leva em conta diferenças hormonais e usa uma amostragem pequena demais. No entanto, os responsáveis pelo estudo dizem que, se comprovada, a aparente habilidade do homem de se "desligar" das idéias de comida talvez possa explicar índices menores de obesidade em pessoas do sexo masculino e também por que a maioria das mulheres apresenta mais dificuldade para perder peso do que os homens.

O principal autor da pesquisa, Gene-Jack Wang, afirma que estes resultados podem ajudar a compreender mecanismos neurobiológicos associados à habilidade de controlar a quantidade de comida ingerida. De acordo com Wang, o estudo também pode "sugerir novos métodos farmacológicos ou outras intervenções para ajudar a pessoa a emagrecer e conseguir adquiri uma reeducação alimentar".

Para Wang, a diferença entre os sexos na habilidade de inibir as respostas do cérebro à comida e à fome é surpreendente e deve ser estudada mais a fundo.

Como os testes foram realizados

Para fazer os testes, todos os voluntários - dez homens e 13 mulheres - tinham peso considerado normal. Após permanecer em jejum por pelo menos 20 horas, cada um deles ficou diante de seus pratos favoritos - como pizza, bolo de chocolate e costela na brasa -, aquecidos para produzir aroma e gosto agradável. A partir daí seus cérebros estavam sendo monitorados e os voluntários eram obrigados a cheirar, provar, observar e reagir à comida, mas não comê-la.

No segundo dia da pesquisa, cada voluntário foi orientado a
inibir seu desejo pela comida antes de ficar diante de seus pratos preferidos. Já no terceiro dia, nenhum alimento foi apresentado aos participantes.

Após receber ordens de resistir ao desejo de comer, os voluntários homens apresentaram muito menos atividade nas regiões do cérebro conhecidas como hipocampo, amígdala, córtex órbito-frontal e striatum.

Estudos anteriores associaram essas áreas do cérebro à regulação emocional e à ativação da memória - o que sugere que os homens estavam acessando menos memórias da comida desejada e talvez sendo menos afetados pela idéia de comer. "Embora as mulheres tenham dito que estavam menos famintas quando tentavam inibir sua resposta à comida, seus cérebros continuavam ativos nas regiões que controlam o desejo de comer", disse Wang. A equipe de pesquisadores admite, no entanto, que mudanças sutis na forma como mulheres respondem à comida, determinadas por mudanças hormonais em diferentes fases do seu ciclo mentrual, podem distorcer os resultados do estudo e precisam ser melhor investigadas.

24 janeiro 2009

"Televisão e família: critérios para saber ver"

Mensagem do Papa João Paulo II em preparação para o XXVIII Dia Mundial das Comunicações Sociais, 24 de janeiro de 1994.

Queridos irmãos e irmãs

A Nas últimas décadas, a televisão provocou uma revolução no mundo das comunicações e afetou profundamente a vida familiar. Atualmente, a televisão é a principal fonte de notícias, de informação e de entretenimento para inumeráveis famílias, modelando as suas atitudes e opiniões, os valores e os modelos de comportamento.

B A televisão pode enriquecer a vida familiar. Pode aproximar mais os membros da família e promover a sua solidariedade com outras famílias e com a comunidade mais vasta. Pode incrementar não só o seu conhecimento geral, mas também religioso, tornando possível a escuta da palavra de Deus, o aprofundamento da própria identidade religiosa e fornecendo alimento para a vida moral e espiritual.

C Mas a televisão pode também prejudicar a vida familiar: propagando valores e modelos de comportamento degradantes, transmitindo pornografia e imagens de violência brutal, inculcando formas de relativismo moral e de ceticismo religioso, difundindo informação distorcida ou manipulada sobre acontecimentos e questões correntes, propondo formas de propaganda que se baseiam e exploram os instintos de base, e enaltecendo imagens falsas da vida que impedem a realização do respeito mútuo, da justiça e da paz.

D Mesmo quando os programas televisivos não são em si mesmos moralmente censuráveis, a televisão ainda pode ter efeitos negativos sobre a família. Ela pode isolar os membros da família nos respectivos mundos fechados, impedindo relações interpessoais autênticas, e pode também dividir a família alheando os pais dos filhos e os filhos dos pais.

E Dado que a renovação moral e espiritual da família humana no seu conjunto se deve enraizar numa autêntica renovação de cada uma das famílias, o tema para o Dia Mundial Das Comunicações Sociais de 1994 "Televisão e família: critérios para saber ver" é muito oportuno, especialmente durante o Ano da Família, quando a comunidade mundial procura maneiras de reforçar a vida familiar.

F Com esta Mensagem, desejo evidenciar especialmente as responsabilidades dos pais, dos responsáveis pela indústria televisiva, das autoridades públicas e daqueles que, na Igreja, assumiram responsabilidades no campo pastoral e da educação. Nas mãos dessas pessoas reside o poder de tornar a televisão um meio cada vez mais eficaz para ajudar as famílias a desempenharem o próprio papel como força para a renovação moral e social.

G Deus confiou aos pais a grave responsabilidade de ajudar os próprios filhos "a procurarem a verdade desde os primeiros anos e a viverem em conformidade com a verdade, a procurarem o bem e a promovê-lo" . Por isso, é seu dever levar os próprios filhos a apreciar "tudo quanto é verdadeiro, nobre, justo, puro, amável, honroso, virtuoso e digno de louvor" .

H De fato, além de eles mesmos se servirem da televisão de maneira criteriosa, os pais deveriam ajudar ativamente a formar nos seus filhos hábitos de visão que conduzam a um saudável desenvolvimento humano, moral e religioso. Os pais deveriam informar-se antecipadamente sobre o conteúdo dos programas, escolhendo depois conscientemente se ver ou não, com base no bem da família. As revistas e apreciações críticas fornecidas por agências religiosas e outros grupos autorizados bem como os programas educativos sérios dos meios de comunicação podem ser úteis neste sentido. Os pais deveriam discutir com os filhos sobre televisão, orientando-os na escolha da quantidade e qualidade daquilo que vêem, bem como a compreenderem e avaliarem os valores éticos veiculados por determinados programas, pois que a família é "o meio privilegiado para transmitir os valores religiosos e culturais que ajudam a pessoa a adquirir a sua identidade própria" .

I. Formar nas crianças hábitos de saber ver televisão poderá por vezes significar simplesmente desligar o televisor: ou porque há outras coisas melhores a fazer, ou pela consideração devida a outros membros da família, ou ainda porque ver televisão indiscriminadamente pode ser prejudicial. Os pais que se servem da televisão de maneira regular e prolongada como de uma espécie de ama eletrônica para os próprios filhos renunciam ao papel de serem eles os seus primeiros educadores. Uma semelhante dependência da televisão pode privar os membros da família de oportunidades de interagir uns com os outros através da conversação, de atividades partilhadas e da oração comum. Os pais sábios também têm consciência de que mesmo os bons programas televisivos deveriam ser integrados com outras fontes de informação, entretenimento, educação e cultura.

J Para garantir que a indústria televisiva salvaguarde os direitos da família, os pais deveriam manifestar as próprias legítimas preocupações aos dirigentes e produtores dos meios de comunicação social. Por vezes, poderá ser útil formar com outras pessoas, associações que representem os seus interesses em relação aos meios de comunicação social, aos patrocinadores e anunciantes de publicidade e às autoridades públicas.

L O pessoal da televisão funcionários e dirigentes, produtores e diretores, escritores e investigadores, jornalistas, responsáveis pelas filmagens e operadores técnicos todos têm graves responsabilidades morais para com as famílias, que constituem uma parte preponderante do público televisivo. Na sua vida profissional e pessoal, as pessoas que trabalham no mundo televisivo deveriam sentir-se comprometidas com a família enquanto comunidade de vida, de amor e de solidariedade basilar da sociedade. Reconhecendo a influência do meio em que trabalham, deveriam promover os valores morais e espirituais saudáveis, e evitar "tudo quanto possa prejudicar a família na sua existência, a sua estabilidade, o seu equilíbrio e a sua felicidade", incluindo "o erotismo ou a violência, a defesa do divórcio e de comportamentos anti-sociais entre os jovens" .

M A televisão é muitas vezes procurada para abordar questões sérias, tais como a fraqueza humana e o pecado, e as suas consequências para os indivíduos e a sociedade; os insucessos das instituições sociais, incluindo o governo e a religião; ou questões de peso, como por exemplo o significado da vida. Estes temas deveriam ser enfrentados com responsabilidade, evitando formas de sensacionalismo, e com uma preocupação sincera pelo bem da sociedade, e ainda com uma consideração escrupulosa pela verdade. Jesus afirmou que "a verdade vos libertará" , e em última análise toda a verdade tem o seu fundamento em Deus, que é também a fonte da nossa liberdade e criatividade.

N Ao cumprir os seus deveres públicos, a indústria televisiva deveria desenvolver e respeitar um código ético que comporta um compromisso de servir as necessidades das famílias e de promover os valores em que se apóia a vida familiar. Os Conselhos dos órgãos de comunicação, integrados por representantes tanto da Empresa como do público em geral, constituem igualmente uma forma altamente desejável de fazer com que a televisão corresponda melhor às necessidades e aos valores de seu público.

O Os canais de televisão, quer pertençam ao setor público ou privado, representam uma forma de confiança pública no serviço que eles prestam ao bem comum: não constituem uma reserva particular para interesses comerciais ou um instrumento de poder ou propaganda para elites sociais, econômicas ou políticas, mas existem para servir o bem-estar da sociedade no seu conjunto.

P De fato, enquanto "célula" fundamental da sociedade, a família merece ser assistida e defendida através de medidas adequadas do Estado e de outras instituições . Esta exigência aplica-se a certas responsabilidades das autoridades públicas relativamente à televisão.

Q Reconhecendo a importância de um intercâmbio livre de idéias e de informação, a Igreja defende a liberdade de palavra e de imprensa . Ao mesmo tempo, porém, insiste em afirmar que devem ser respeitados "os direitos dos indivívuos, das famílias e da própria sociedade à privacidade, à decência pública e à proteção dos valores de base" . As autoriadas públicas são convidadas a estabelecer e fazer respeitar padrões éticos razoáveis, para a programação que deverá reforçar os valores humanos e religiosos, sobre os quais se constrói a vida familiar, desencorajando simultaneamente tudo quanto lhe possa ser prejudicial. As autoridades deveriam igualmente promover o diálogo entre a indústria televisiva e o público, pondo à disposição estruturas e ocasiões de encontro para o tornar possível.

R As agências ligadas à Igreja prestam por sua vez um serviço excelente às famílias, oferecendo-lhes formas de educação sobre os meios de comunicação e uma avaliação sobre os programas e os filmes. Quando os recursos de que dispõem o permitem, as agências de comunicação da Igreja podem igualmente ajudar as famílias através da promoção e difusão de programas orientados para a família, ou promovendo esse tipo de programação. As Conferências Episcopais e as Dioceses deveriam incluir de maneira relevante a "dimensão familiar" da televisão na respectiva planificação pastoral relativa às comunicações sociais .

S Dado que os profissionais de televisão se esforçam por apresentar uma visão da vida a um vasto público, o qual abrange crianças e jovens, podem beneficiar do ministério pastoral da Igreja, capaz de os ajudar a valorizar aqueles princípios éticos e religiosos que dão um significado pleno à vida humana e familiar. "Com efeito, estes programas pastorais deveriam comportar uma formação permanente, que possa ajudar estes homens e mulheres muitos dos quais desejam sinceramente conhecer e praticar o que é justo nos planos ético e moral a estarem cada vez mais impregnados de critérios morais, tanto no setor profissional como a nível privado" .

T A família, baseada no matrimônio, é uma comunhão única de pessoas que Deus tornou no "elemento natural e fundamental da sociedade" . A televisão e os outros meios de comunicação dispõem de um poder imenso para sustentar e reforçar essa comunhão no âmbito da família, bem como a solidariedade com outras famílias e um espírito de serviço à sociedade.

U Grata pelo contributo para essa comunhão no seio das famílias e entre as famílias que a televisão, enquanto meio de comunicação, deu e poderá dar, a Igreja ela própria instrumento de comunhão na verdade e no amor de Jesus Cristo, Palavra de Deus aproveita o ensejo do Dia Mundial das Comunicações Sociais de 1994 para encorajar as próprias famílias, quantos trabalham no mundo das comunicações sociais e as autoridades públicas, a realizar plenamente a sua nobre vocação de reforçar e promover a primeira e mais vital comunidade da sociedade, que é a família.

Cidade do Vaticano, 24 de janeiro de 1994

22 janeiro 2009

A família cristã deve ser protagonista da ação apostólica e missionária


Trecho do discurso aos peregrinos da Arquidiocese de Sorrento-Castellammare di Stabia, Itália. Publicado no L'Osservatore Romano de 22 de janeiro de 1994.

Caríssimos Irmãos e Irmãs de Sorrento e Castellammare di Stabia

1A Bem-vindos, pois, à casa de Pedro! Uma cordial saudação a cada um de vós, em particular ao vosso Arcebispo, o querido Monsenhor Felice Cece, a quem agradeço as calorosas palavras que me quis dirigir.

2A Bem sei que a minha passagem por Sorrento e Castellammare constituiu, neste arco de tempo, objeto de reflexão e motivo de orientação do vosso empenho espiritual e apostólico. Estou grato ao Senhor por isto.

2B Quando fui ter convosco, na solenidade de São José, em 1992 , as minhas palavras tiveram como constante ponto de referência a fé do Protetor de Jesus, homem justo, chamado a viver em contemplação ativa, ao lado do Filho de Deus. Consenti-me tomar como ponto de referência, também hoje, este tema fundamental, perguntando-vos em que altura está o caminho da vossa fé. Este é o "princípio" do qual precisamos sempre recomeçar, como apraz recordar-vos o vosso Pastor. Estou certo de que os vossos esforços neste sentido não têm faltado. Todavia, repito de bom grado aquilo que tive oportunidade de afirmar na Catedral de Sorrento: "Estar com Jesus: seja este o vosso maior desejo... Falar-lhe de modo familiar, escutá-lo e segui-lo docilmente: esta é não só uma exigência compreensível para quem quer seguir o Senhor; é também condição indispensável de toda a evangelização autêntica e crível".

3A O caminho de fé possui, por sua natureza, uma dimensão eclesial. Na medida em que a experiência pessoal de Cristo se consolida, aumenta a consciência de que somos parte viva, responsável e operosa do seu Corpo Místico, cada qual segundo a própria vocação. E é a partir desta chave eclesial que eu quereria ressaltar hoje a específica vocação da família cristã.

3B Os valores ligados à família estão ainda bem arraigados na vossa cultura, e isto constitui uma riqueza inestimável. Todavia, é necessário que eles sejam objeto de sábia e eficaz pedagogia eclesial, não só para os defender das insídias que estão a enfrentar no hodierno relativismo ético, mas também para consentir aos núcleos familiares desenvolver as próprias potencialidades na vida pastoral. Portanto, exprimo-vos o meu mais vivo apreço pelo Encontro que realizastes recentemente, sobre o tema "Família e Catequese", que se enquadra muito bem no horizonte do Ano da Família, há pouco inaugurado. Prossegui com confiança, caríssimos, ao longo deste caminho. Salvai a família e salvareis a sociedade. Ponde-a no centro das vossas atenções, antes, tornai-a "protagonista" da vossa ação apostólica e missionária: deste modo, dareis um contributo fundamental para o futuro da Igreja.

05 janeiro 2009

A família, "Igreja Doméstica", é chamada a refletir um raio da glória de Deus, aparecida sobre a Igreja

Continuamos com a publicação dos textos do Papa João Paulo II no Ano da Família, para comemorar os 15 anos daquela ano. O presente texto já havia sido publicado pelo Família de Nazaré em 05 de janeiro de 2007, mas agora é re-publicado como parte integrante dos textos do Ano da Família.



Catequese. Alocução da Audiência geral de quarta-feira, 5 de janeiro de 1994.



1A "Entrando na casa (os Magos) viram o Menino com Maria, Sua mãe. Prostrando-se, adoraram-no" .

1B Existe um ligame estreitíssimo entre a epifania e a família: é-me grato ressaltá-lo nestes primeiros dias do Ano da Família. É na casa onde habita a Sagrada Família que os Magos encontram e reconhecem o Messias esperado. Ali, estes sábios pesquisadores do mistério divino recebem a luz que ilumina e dá alegria. Diz-se, de fato, que, entrando em casa, os Magos adoraram o Menino e Lhe apresentaram os seus dons simbólicos, cumprindo com este seu gesto os oráculos messiânicos do Antigo Testamento, que prenunciavam a homenagem de todas as nações ao Deus de Israel .

1C Cristo revela-se deste modo, na humilde e oculta família de Nazaré, como a verdadeira luz das nações que, enquanto abrange a humanidade inteira, derrama um particular fulgor espiritual sobre a realidade da família mesma.

2A O tema da luz está no centro da liturgia da Epifania, que amanhã celebraremos solenemente.

2B O Concílio Vaticano II afirma, com uma imagem de eloquência extraordinária, que "no rosto da Igreja" se reflete "a luz de Cristo" . Ora, no mesmo Documento afirma-se também que a família é "igreja doméstica" : ela, por conseguinte, é por sua vez chamada a refletir, no calor das relações interpessoais dos seus membros, um raio da glória de Deus, aparecida sobre a Igreja . Um raio, certamente, não é a luz toda, contudo é sempre luz: toda a família, com as suas limitações, a pleno título é sinal do amor de Deus. O amor conjugal, o amor paterno e materno, o amor filial, imersos na graça do Matrimônio, formam um autêntico reflexo da glória de Deus, do amor da Santíssima Trindade.

3A Na Carta aos Efésios, São Paulo fala do "mistério" que foi revelado na plenitude dos tempos : mistério do amor divino que, em Cristo, oferece a salvação aos homens de todas as raças e de todas as culturas. Pois bem, na mesma Carta, o Apóstolo faz referência ao "mistério grande", a propósito também do Matrimônio, em relação ao amor que une Cristo à Igreja .

3B A família cristã, portanto, quando é fiel ao dinamismo que é intrínseco ao pacto sacramental, torna-se sinal autêntico do amor universal de Deus. Sacramento de unidade aberto a todos, próximos ou distantes, parentes ou não, em virtude do novo ligame -mais forte do que o sangue- que Cristo estabelece entre quantos o seguem.

3C Um semelhante modelo de família é "epifania" de Deus, manifestação do seu Amor gratuito e universal e, enquanto tal, ela é em si missionária, porque anuncia, com o seu estilo de vida, que Deus é amor e quer a salvação de todos os homens. "A família cristã -diz sempre o Concílio Vaticano II-, nascida de um matrimônio que é imagem e participação da aliança de amor entre Cristo e a Igreja, manifestará a todos a presença viva do Salvador no mundo e a autêntica natureza da Igreja, quer por meio do amor dos esposos, quer pela sua generosa fecundidade, unidade e fidelidade, quer pela amável cooperação de todos os seus membros" .

4A O Evangelho da Epifania apresenta-nos os Magos que, vindos do Oriente guiados pela estrela, chegam a Belém, à "casa" onde habita a Sagrada Família, e se prostram diante do Menino. O centro da cena é Ele, Jesus: é Ele que é adorado, porque é Ele "o rei... que nasceu" ; é sua a estrela que os três sábios viram surgir de longe ; é Ele que, nascido em Belém da Judéia, está destinado a apascentar como chefe o povo de Deus ; a Ele os Magos oferecem os seus dons simbólicos.

4B E, entretanto, tudo isto acontece "na casa", onde eles, tendo entrado, "viram o Menino com Maria, Sua mãe" . E José? Aqui Mateus -que também noutros episódios da infância o põe em grande relevo- parece querer deixá-lo no escondimento. Por que? Talvez para que o nosso olhar, como o dos Magos, se fixe naquele que é, sem dúvida, o autêntico ícone do Natal: o Menino no regaço da Virgem Mãe.

4C Enquanto contemplamos esse ícone, compreendemos como José, longe de ser excluído da cena, está pelo contrário, a seu modo, a participar nela plenamente. Quem de fato, senão ele, José, acolhe os Magos, quem os faz entrar na casa, e com eles, ou melhor, antes deles, se prostra diante de Jesus, que a Mãe estreita entre os braços?

4D O quadro da Epifania sugere que toda a família cristã se nutre espiritualmente de um dúplice dinamismo interior, cujo primeiro momento é a adoração de Jesus, "Deus conosco", e o segundo é a veneração para com a sua Mãe Santíssima. Os dois aspectos estão juntos, são inseparáveis, porque constituem os dois momentos de um único movimento do Espírito, que hoje vemos exprimir-se profeticamente no gesto dos Magos.

5A Caríssimos Irmãos e Irmãs! Estamos no início do Ano da Família, um tempo mais do que nunca propício para refletir sobre o papel e a importância da família na vida da Igreja e da sociedade. Um ano de aprofundamento doutrinal, certamente, mas um ano sobretudo de oração, e de oração em família, para obter do Senhor o dom de redescobrir e valorizar plenamente a missão que a Providência confia a cada família neste nosso tempo.

5B A contemplação da cena dos Magos nos ajude a dar-nos sempre conta de que a inteira existência familiar só encontra o seu sentido pleno, se for iluminada por Cristo luz, paz e esperança do homem.

5C Com os Magos entramos também nós na pobre casa de Belém e, com fé, adoramos o Salvador que nasceu para nós. Reconhecemos n’Ele o Senhor da história, o Redentor do homem, o Filho da Virgem, "sol que surge" e veio até nós para "guiar os nossos passos no caminho da paz".

02 janeiro 2009

A família é protagonista da paz!


Angelus. Alocução de João Paulo II no domingo, 2 de janeiro de 1994, Ano Internacional da Família (em comemoração aos seus 15 anos).

Caríssimos Irmãos e Irmãs.

1A Ontem celebramos o Dia Mundial da Paz. Na Mensagem que publiquei para a circunstância, eu quis evidenciar o papel da família para a construção da paz. Os meus votos cordiais são por que o Ano da Família, iniciado a 26 de dezembro passado, festa da Sagrada Família, possa fazer refulgir ulteriormente essa sua preciosa e insubstituível função.

1B Não me passa despercebido que a família se mostra ela mesma, não raro, vítima da ausência da paz. Muitas famílias, por causa dos conflitos que se desencadeiam nalgumas regiões do mundo, "são obrigadas a abandonar casa, terra e bens, fugindo para o desconhecido; ou acabam, de qualquer modo, sujeitas a transes tão penosos, que põem em dúvida qualquer certeza" . E como não lamentar aquelas outras situações não menos dolorosas, que atentam contra o coração mesmo das relações familiares, porque originadas não tanto de causas exteriores, quanto da influência deletéria de "modelos de comportamento inspirados no hedonismo e no consumismo, que impelem os membros da família a buscar mais as gratificações pessoais do que uma serena e diligente vida comum" ? Em quantas famílias se enraíza o germe da divisão! Quantos casais vêem esmorecer o seu amor e resvalam pelo declive da incompreensão recíproca até à separação; quantas chegam até ao divórcio, que contradiz o vínculo querido por Deus como base indestrutível da vida familiar!

2A Mas, apesar destas ameaças exteriores e interiores, a família permanece a instituição que responde de modo mais imediato à natureza do ser humano e é portanto chamada, por vocação nativa, a tornar-se protagonista da paz . A despeito de todas as insídias, ela "permanece a mais completa e mais rica escola de humanidade, na qual se vive a experiência mais significativa do amor gratuito, da fidelidade, do respeito recíproco e da defesa da vida" .

2B Tudo isto, obviamente, não acontece de modo automático. Urge, precisamente a partir das famílias, uma renovada consciência ética, no reconhecimento de que da observância da lei moral depende o verdadeiro bem-estar da humanidade e a autenticidade mesma da liberdade, como recordei na Encíclica Veritatis splendor. Uma família, que se preocupa por viver segundo a lei moral, faz no seu interior a primeira e fundamental experiência de paz, e torna-se foco de paz para o resto da sociedade.

3A Invoquemos Maria, Rainha da Paz!

3B Ela, durante a sua vida terrena, conheceu não poucas dificuldades, ligadas à fadiga cotidiana da existência. Mas jamais esmoreceu a paz do coração, fruto também da santidade e da serenidade daquele singular lar doméstico. Digne-se Ela indicar às famílias do mundo inteiro o caminho seguro do amor e da paz.

01 janeiro 2009

Da família nasce a paz da família humana

Como comemoração dos 15 anos em que a Igreja comemorou o Ano da Família, nosso blog vai publicar todos os textos (discursos, homilias, etc.) do Papa João Paulo II naquela ocasião. Começamos com a Mensagem para a celebração do XXVII Dia Mundial da Paz, em 1º de janeiro de 1994.

Esse texto já havia sido publicado no FN em 30 de dezembro de 2006, mas voltamos a publicá-lo, tendo em vista que agora fará parte de um conjunto de textos.

1A O mundo anela pela paz, tem extrema necessidade de paz. E, no entanto, guerras, conflitos, violência crescente, situações de instabilidade social e de pobreza endémica continuam a ceifar vidas inocentes e a gerar divisões entre os indivíduos e os povos. Às vezes, a paz parece uma meta verdadeiramente inacessível! Num clima enregelado pela indiferença ou mesmo envenenado pelo ódio, como esperar o advento duma era de paz, que apenas sentimentos de solidariedade e amor podem propiciar?

1B Mas não devemos render-nos. Sabemos que a paz, apesar de tudo, é possível, porque inscrita no projeto divino original.

1C Deus quis para a humanidade uma condição de harmonia e de paz, colocando o seu fundamento na própria natureza do ser humano, criado "à sua imagem". Esta imagem divina realiza-se não só no indivíduo, mas também naquela singular comunhão de pessoas que é formada por um homem e uma mulher, de tal modo unidos no amor que se tornam "uma só carne" . Assim está escrito: "Criou-o à imagem de Deus; Ele os criou homem e mulher" . A esta comunidade específica de pessoas, confiou o Senhor a missão de dar a vida e dela cuidar formando uma família, e contribuindo assim de maneira decisiva para a tarefa de administrar a criação e prover ao futuro mesmo da humanidade.

1D A harmonia inicial foi quebrada pelo pecado, mas o plano original de Deus mantém-se. A família permanece, por isso, o verdadeiro fundamento da sociedade , constituindo, como se diz na Declaração Universal dos Direitos do Homem, o seu "núcleo natural e fundamental" .

1E O contributo que aquela pode oferecer para a salvaguarda e promoção da paz é tão determinante que quereria aproveitar o ensejo que me é proporcionado pelo Ano Internacional da Família para dedicar esta Mensagem do Dia Mundial da Paz à reflexão sobre a íntima ligação existente entre a família e a paz. Espero, com efeito, que o referido Ano constitua para todos quantos intentam contribuir para a busca da verdadeira paz —Igrejas, Organismos Religiosos, Associações, Governos, Instâncias Internacionais— uma válida ocasião para estudarem juntos o modo de ajudar a família a cumprir plenamente a sua insubstituível missão de construtora de paz.

A família: comunidade de vida e de amor

2A A família, enquanto fundamental e indispensável comunidade educadora, é o veículo privilegiado para a transmissão daqueles valores religiosos e culturais que ajudam a pessoa a adquirir a própria identidade. Baseada no amor e aberta ao dom da vida, a família leva em si o futuro mesmo da sociedade; tarefa sua muito particular, é a de contribuir eficazmente para um futuro de paz.

2B Isso será conseguido, antes de mais, mediante o amor recíproco dos cônjuges, chamados à plena e total comunhão de vida pelo sentido natural do matrimônio, e mais ainda, se cristãos, pela sua elevação a sacramento; e, depois, através do adequado cumprimento do dever educativo, que empenha os pais a formarem os filhos para o respeito da dignidade de cada pessoa e para os valores da paz. Tais valores, mais do que "ensinados", devem ser testemunhados num ambiente familiar que viva, em seu seio, aquele amor oblativo capaz de acolher o outro na sua diversidade, assumindo as suas necessidades e exigências e fazendo-o participante dos próprios bens. As virtudes domésticas, que se baseiam no respeito profundo da vida e da dignidade do ser humano e concretizam-se na compreensão, na paciência, no encorajamento e no perdão mútuo, dão à comunidade familiar a possibilidade de viver a primeira e fundamental experiência de paz. Fora deste contexto de afetuosas relações e de operosa e recíproca solidariedade, o ser humano "permanece para si próprio um ser incompreensível, e a sua vida é destituída de sentido, se não lhe for revelado o amor, (...) se o não experimenta e se o não torna algo seu próprio" . Um tal amor, aliás, não se identifica com uma emoção passageira, mas é uma intensa e duradoura força moral que procura o bem alheio, inclusive à custa do próprio sacrifício. Além disso, o amor verdadeiro sempre inclui a justiça, tão necessária à paz. Aquele debruça-se sobre quantos se encontram em dificuldade: os que não têm família, as crianças privadas de assistência e afeto, as pessoas abandonadas e marginalizadas.

2C A família que vive, mesmo se ainda de modo imperfeito, este amor, abrindo-se generosamente à restante sociedade, constitui o agente primário dum futuro de paz. Uma civilização de paz não é possível, se falta o amor.

A família: vítima da ausência de paz

3A Em contraste com a sua original vocação de paz, a família revela-se, infelizmente e tantas vezes, lugar de tensão e prepotência ou, então, vítima inerme das numerosas formas de violência que caracterizam a sociedade atual.

3B Tensões registram-se, às vezes, nas relações entre os seus membros. Freqüentemente, ficam-se a dever ao esforço por harmonizar a vida familiar, quando o trabalho mantém os cônjuges separados um do outro, ou a sua falta e precariedade os constringe à angústia da sobrevivência e ao íncubo de um futuro incerto. Não faltam, ainda, tensões originadas por modelos de comportamento inspirados no hedonismo e no consumismo, que impelem os membros da família a buscar mais as gratificações pessoais do que uma serena e diligente vida comum. Brigas freqüentes entre os pais, recusa da prole, abandono e maus tratos de menores são os tristes sintomas de uma paz familiar já seriamente comprometida, e que não pode ser restituída, por certo, pela lamentável solução da separação dos cônjuges, e, menos ainda, pelo recurso ao divórcio, verdadeira "epidemia" da sociedade atual .

3C Depois, em muitas partes do mundo, há nações inteiras arrastadas na espiral de cruentos conflitos, dos quais, tantas vezes, as primeiras vítimas são as famílias: ou vêem-se privadas do principal, quando não único, membro que ganha, ou são forçadas a abandonar casa, terra e bens, fugindo para o desconhecido; ou acabam, de qualquer modo, sujeitas a transes tão penosos que põem em dúvida qualquer certeza. Como não recordar, a propósito disto, o sangrento conflito entre grupos étnicos, que perdura ainda na Bósnia Herzegovina? E é apenas um caso entre tantos cenários de guerra espalhados pelo mundo!

3D Face a estas tristes realidades, a sociedade mostra-se, freqüentemente, incapaz de oferecer uma válida ajuda, ou mesmo culposamente indiferente. As carências espirituais e psicológicas de quem sofreu os efeitos dum conflito armado são tão urgentes e graves como as necessidades de alimento ou de um lar. Fariam falta estruturas específicas, tendentes a desenvolver uma ação de apoio às famílias atingidas por imprevistas e dilacerantes desgraças, de modo que elas, apesar de tudo, não cedam à tentação do desânimo e da vingança, mas sejam capazes de inspirar os seus comportamentos no perdão e na reconciliação. Muitas vezes, de tudo isso nem vestígios, infelizmente!

4A Não se deve esquecer, ainda, que a guerra e a violência não constituem forças desagregadoras apenas no sentido de enfraquecer e destruir as estruturas familiares; mas exercem uma influência nefasta também sobre os ânimos, chegando a propor e quase a impor modelos de comportamento diametralmente opostos à paz. A propósito disto, há que denunciar um dado bem triste: hoje infelizmente, adolescentes —senão mesmo crianças— de ambos os sexos, tomam parte, realmente e em número sempre maior, nos conflitos armados. Vêem-se obrigados a arrolar-se em milícias armadas e têm de combater por causas que nem sempre compreendem. Noutros casos, vivem imersos numa verdadeira e própria cultura da violência, onde a vida pouco conta e matar não parece imoral. No interesse da sociedade inteira, há que fazer com que estes jovens renunciem à violência e se encaminhem pela via da paz, mas isso supõe uma paciente educação, conduzida por pessoas que creiam sinceramente na paz.

4B Neste ponto, não posso deixar de mencionar outro sério obstáculo ao desenvolvimento da paz, na nossa sociedade: muitas, tantas crianças vivem privadas do calor de uma família. Umas vezes, esta, de fato, está ausente: dominados por outros interesses, os pais abandonam os filhos a si mesmos. Outras vezes, a família pura e simplesmente não existe: há, assim, milhares de crianças que não têm outra casa senão a estrada, e não podem contar com qualquer outro recurso além de si mesmas. Algumas destas crianças da rua encontram tragicamente a morte. Outras são encaminhadas para o consumo ou mesmo o tráfico da droga, para a prostituição, e não raro acabam nas organizações criminosas. Não é possível ignorar situações assim escandalosas e, no entanto, tão difusas! Está em jogo o próprio futuro da sociedade. Uma comunidade que rejeita as crianças, as marginaliza ou reduz a situações sem esperança, jamais poderá conhecer a paz.

4C Para poder contar com um futuro de paz, é preciso que cada pequenino ser humano experimente o calor de um afeto carinhoso e constante, e não a traição ou a exploração. E, se o Estado muito pode fazer fornecendo meios e estruturas de apoio, insubstituível permanece o contributo da família para assegurar aquele clima de certeza e confiança, que tanta importância tem para induzir as crianças a olharem com serenidade o futuro e prepará-las para, quando adultas, participarem responsavelmente na edificação de uma sociedade de autêntico progresso e de paz. As crianças são o futuro já presente no meio de nós; é necessário poderem experimentar o que significa paz, para serem capazes de criar um futuro de paz.

A família: protagonista da paz

5A Uma ordem duradoura de paz precisa de instituições que exprimam e consolidem os valores da paz. A instituição que corresponde, de modo mais imediato, à natureza do ser humano é a família. Só ela garante a continuidade e o futuro da sociedade. Por isso, a família é chamada a tornar-se ativa protagonista da paz, graças aos valores que ela exprime e transmite no seu próprio seio e, mediante a participação de cada um dos seus membros, à vida da sociedade.

5B Núcleo originário da sociedade, a família tem direito a todo o apoio do Estado, para cumprir plenamente a sua missão peculiar. Por isso, as leis estatais devem ser orientadas para a promoção do seu bem-estar, ajudando-a a realizar as tarefas que lhe competem. Perante a tendência, hoje cada vez mais insistente, de legitimar, como sucedâneos da união conjugal, formas de união que, pela sua intrínseca natureza ou intencional transitoriedade, não podem de modo algum exprimir o sentido e assegurar o bem da família, é dever do Estado encorajar e proteger a autêntica instituição familiar, respeitando a sua fisionomia natural e os seus direitos congênitos e inalienáveis . Fundamental dentre eles, é o direito dos pais decidirem livre e responsavelmente, com base nas suas convicções morais e religiosas e na sua consciência adequadamente formada, quando chamar à vida um filho, e depois educá-lo segundo tais convicções.

5C Um papel relevante tem ainda o Estado na criação das condições que permitam às famílias prover às suas necessidades primárias de maneira consentânea à dignidade humana. A pobreza, antes, a miséria —ameaça perene à estabilidade social, ao progresso dos povos, à paz— atinge hoje tantas famílias. Sucede, às vezes, que, por falta de meios, os casais jovens retardam a constituição de uma família ou vêem-se mesmo impedidos de a formar, enquanto que as famílias a braços com a indigência não podem participar plenamente na vida social ou são constrangidas a uma situação de total marginalização.

5D Mas, o dever do Estado não isenta o simples cidadão: a verdadeira resposta às mais graves solicitações de cada sociedade é assegurada efetivamente pela solidariedade concorde de todos. De fato, ninguém pode sentir-se tranquilo enquanto o problema da pobreza, que grava sobre famílias e indivíduos, não tiver encontrado uma solução adequada. A indigência é sempre uma ameaça para a estabilidade social, para o desenvolvimento econômico, e conseqüentemente, em última análise, para a paz. Esta permanecerá insidiada, enquanto pessoas e famílias se virem obrigadas a lutarem pela sua própria sobrevivência.

A família: ao serviço da paz

6A Quereria, agora, dirigir-me diretamente às famílias; em particular, às famílias cristãs.

6B "Família, torna-te aquilo que és!" —escrevi na Exortação Apostólica Familiaris consortio . Ou seja, torna-te "íntima comunidade da vida e do amor conjugal" , chamada a dar amor e a transmitir a vida!

6C Família, tens uma missão de primária importância: a de contribuir para a construção da paz, bem indispensável ao respeito e desenvolvimento da própria vida humana . Consciente de que a paz não se obtém duma vez para sempre , nunca te deves cansar de a procurar! Com a própria morte na cruz, Jesus deixou à humanidade a sua paz, assegurando a sua presença perene . Exige esta paz, reza por esta paz, trabalha por esta paz!

6D A vós, pais, compete a responsabilidade de formar e educar os filhos para serem pessoas de paz: para isso, sede vós mesmos, primeiro, construtores de paz.

6E Vós, filhos, lançados para o futuro com o ardor da vossa idade jovem, repleta de projetos e sonhos, apreciai o dom da família, preparai-vos para a responsabilidade de a construir ou promover, segundo a respetiva vocação, no amanhã que Deus vos conceder. Cultivai aspirações de bem e desígnios de paz.

6F Vós, os avós, que, com os outros membros da casa, representais na família laços insubstituíveis e preciosos entre as gerações, dai generosamente o vosso contributo de experiência e testemunho para ligar o passado ao futuro num presente de paz.

6G Família, vive concorde e plenamente a tua missão!

6H Como esquecer, enfim, tantas pessoas que, por vários motivos, se sentem sem família? Quereria dizer-lhes que, também para elas, existe uma família: a Igreja é casa e família para todos . Ela abre de par em par as portas para acolher todos quantos vivem sozinhos e abandonados; neles, vê os filhos prediletos de Deus, independentemente da idade, e quaisquer que sejam as suas aspirações, dificuldades e esperanças.

6I Possa a família viver em paz, de modo que dela brote a paz para a família humana inteira!

6J Eis a prece que, por intercessão de Maria, Mãe de Cristo e da Igreja, elevo Àquele, "do Qual toda a paternidade, nos Céus como na Terra, toma o nome" , na aurora do Ano Internacional da Família.