A família, "igreja doméstica", é chamada a refletir um raio da glória de Deus aparecida sobre a Igreja
No próximo domingo, celebramos a Epifania do Senhor. Aproveito para disponibilizar uma bela reflexão do Papa João Paulo II sobre essa solenidade, vinculando ao tema da família. Foi na Epifania de 1994, ano dedicado à família. Colhi esse texto diretamente do jornal L'Osservatore Romano. Nem no site do Vaticano esse texto está em português. Assim, aproveite!
"Entrando na casa (os Magos) viram o Menino com Maria, Sua mãe. Prostrando-se, adoraram-no" (Mt 2, 11).
Existe um ligame estreitíssimo entre a epifania e a família: é-me grato ressaltá-lo nestes primeiros dias do Ano da Família. É na casa onde habita a Sagrada Família que os Magos encontram e reconhecem o Messias esperado. Ali, estes sábios pesquisadores do mistério divino recebem a luz que ilumina e dá alegria. Diz-se, de fato, que, entrando em casa, os Magos adoraram o Menino e Lhe apresentaram os seus dons simbólicos, cumprindo com este seu gesto os oráculos messiânicos do Antigo Testamento, que prenunciavam a homenagem de todas as nações ao Deus de Israel (Cf. Nm 24, 17; Is 49, 23; Sl 72, 10-15).
Cristo revela-se deste modo, na humilde e oculta família de Nazaré, como a verdadeira luz das nações que, enquanto abrange a humanidade inteira, derrama um particular fulgor espiritual sobre a realidade da família mesma.
O tema da luz está no centro da liturgia da Epifania, que amanhã celebraremos solenemente.
O Concílio Vaticano II afirma, com uma imagem de eloquência extraordinária, que "no rosto da Igreja" se reflete "a luz de Cristo" (Lumen gentium, 1). Ora, no mesmo Documento afirma-se também que a família é "igreja doméstica" (Lumen gentium, 11): ela, por conseguinte, é por sua vez chamada a refletir, no calor das relações interpessoais dos seus membros, um raio da glória de Deus, aparecida sobre a Igreja (Cf. Is. 60, 2). Um raio, certamente, não é a luz toda, contudo é sempre luz: toda a família, com as suas limitações, a pleno título é sinal do amor de Deus. O amor conjugal, o amor paterno e materno, o amor filial, imersos na graça do Matrimônio, formam um autêntico reflexo da glória de Deus, do amor da Santíssima Trindade.
Na Carta aos Efésios, São Paulo fala do "mistério" que foi revelado na plenitude dos tempos (Cf. Ef 3, 2-6): mistério do amor divino que, em Cristo, oferece a salvação aos homens de todas as raças e de todas as culturas. Pois bem, na mesma Carta, o Apóstolo faz referência ao "mistério grande", a propósito também do Matrimônio, em relação ao amor que une Cristo à Igreja (Cf. Ef 5, 32).
A família cristã, portanto, quando é fiel ao dinamismo que é intrínseco ao pacto sacramental, torna-se sinal autêntico do amor universal de Deus. Sacramento de unidade aberto a todos, próximos ou distantes, parentes ou não, em virtude do novo ligame -mais forte do que o sangue- que Cristo estabelece entre quantos o seguem.
Um semelhante modelo de família é "epifania" de Deus, manifestação do seu Amor gratuito e universal e, enquanto tal, ela é em si missionária, porque anuncia, com o seu estilo de vida, que Deus é amor e quer a salvação de todos os homens. "A família cristã -diz sempre o Concílio Vaticano II-, nascida de um matrimônio que é imagem e participação da aliança de amor entre Cristo e a Igreja, manifestará a todos a presença viva do Salvador no mundo e a autêntica natureza da Igreja, quer por meio do amor dos esposos, quer pela sua generosa fecundidade, unidade e fidelidade, quer pela amável cooperação de todos os seus membros" (Gaudium et spes, 48).
O Evangelho da Epifania (Mt 2, 1-12) apresenta-nos os Magos que, vindos do Oriente guiados pela estrela, chegam a Belém, à "casa" (v. 11) onde habita a Sagrada Família, e se prostram diante do Menino. O centro da cena é Ele, Jesus: é Ele que é adorado, porque é Ele "o rei... que nasceu" (v. 2); é sua a estrela que os três sábios viram surgir de longe (v. 2); é Ele que, nascido em Belém da Judéia, está destinado a apascentar como chefe o povo de Deus (v. 6); a Ele os Magos oferecem os seus dons simbólicos.
E, entretanto, tudo isto acontece "na casa", onde eles, tendo entrado, "viram o Menino com Maria, Sua mãe" (v. 11). E José? Aqui Mateus -que também noutros episódios da infância o põe em grande relevo- parece querer deixá-lo no escondimento. Por que? Talvez para que o nosso olhar, como o dos Magos, se fixe naquele que é, sem dúvida, o autêntico ícone do Natal: o Menino no regaço da Virgem Mãe.
Enquanto contemplamos esse ícone, compreendemos como José, longe de ser excluído da cena, está pelo contrário, a seu modo, a participar nela plenamente. Quem de fato, senão ele, José, acolhe os Magos, quem os faz entrar na casa, e com eles, ou melhor, antes deles, se prostra diante de Jesus, que a Mãe estreita entre os braços?
O quadro da Epifania sugere que toda a família cristã se nutre espiritualmente de um dúplice dinamismo interior, cujo primeiro momento é a adoração de Jesus, "Deus conosco", e o segundo é a veneração para com a sua Mãe Santíssima. Os dois aspectos estão juntos, são inseparáveis, porque constituem os dois momentos de um único movimento do Espírito, que hoje vemos exprimir-se profeticamente no gesto dos Magos.
Caríssimos Irmãos e Irmãs! Estamos no início do Ano da Família, um tempo mais do que nunca propício para refletir sobre o papel e a importância da família na vida da Igreja e da sociedade. Um ano de aprofundamento doutrinal, certamente, mas um ano sobretudo de oração, e de oração em família, para obter do Senhor o dom de redescobrir e valorizar plenamente a missão que a Providência confia a cada família neste nosso tempo.
A contemplação da cena dos Magos nos ajude a dar-nos sempre conta de que a inteira existência familiar só encontra o seu sentido pleno, se for iluminada por Cristo luz, paz e esperança do homem.
Com os Magos entramos também nós na pobre casa de Belém e, com fé, adoramos o Salvador que nasceu para nós. Reconhecemos n’Ele o Senhor da história, o Redentor do homem, o Filho da Virgem, "sol que surge" e veio até nós para "guiar os nossos passos no caminho da paz" (Lc 1, 79).
"Entrando na casa (os Magos) viram o Menino com Maria, Sua mãe. Prostrando-se, adoraram-no" (Mt 2, 11).
Existe um ligame estreitíssimo entre a epifania e a família: é-me grato ressaltá-lo nestes primeiros dias do Ano da Família. É na casa onde habita a Sagrada Família que os Magos encontram e reconhecem o Messias esperado. Ali, estes sábios pesquisadores do mistério divino recebem a luz que ilumina e dá alegria. Diz-se, de fato, que, entrando em casa, os Magos adoraram o Menino e Lhe apresentaram os seus dons simbólicos, cumprindo com este seu gesto os oráculos messiânicos do Antigo Testamento, que prenunciavam a homenagem de todas as nações ao Deus de Israel (Cf. Nm 24, 17; Is 49, 23; Sl 72, 10-15).
Cristo revela-se deste modo, na humilde e oculta família de Nazaré, como a verdadeira luz das nações que, enquanto abrange a humanidade inteira, derrama um particular fulgor espiritual sobre a realidade da família mesma.
O tema da luz está no centro da liturgia da Epifania, que amanhã celebraremos solenemente.
O Concílio Vaticano II afirma, com uma imagem de eloquência extraordinária, que "no rosto da Igreja" se reflete "a luz de Cristo" (Lumen gentium, 1). Ora, no mesmo Documento afirma-se também que a família é "igreja doméstica" (Lumen gentium, 11): ela, por conseguinte, é por sua vez chamada a refletir, no calor das relações interpessoais dos seus membros, um raio da glória de Deus, aparecida sobre a Igreja (Cf. Is. 60, 2). Um raio, certamente, não é a luz toda, contudo é sempre luz: toda a família, com as suas limitações, a pleno título é sinal do amor de Deus. O amor conjugal, o amor paterno e materno, o amor filial, imersos na graça do Matrimônio, formam um autêntico reflexo da glória de Deus, do amor da Santíssima Trindade.
Na Carta aos Efésios, São Paulo fala do "mistério" que foi revelado na plenitude dos tempos (Cf. Ef 3, 2-6): mistério do amor divino que, em Cristo, oferece a salvação aos homens de todas as raças e de todas as culturas. Pois bem, na mesma Carta, o Apóstolo faz referência ao "mistério grande", a propósito também do Matrimônio, em relação ao amor que une Cristo à Igreja (Cf. Ef 5, 32).
A família cristã, portanto, quando é fiel ao dinamismo que é intrínseco ao pacto sacramental, torna-se sinal autêntico do amor universal de Deus. Sacramento de unidade aberto a todos, próximos ou distantes, parentes ou não, em virtude do novo ligame -mais forte do que o sangue- que Cristo estabelece entre quantos o seguem.
Um semelhante modelo de família é "epifania" de Deus, manifestação do seu Amor gratuito e universal e, enquanto tal, ela é em si missionária, porque anuncia, com o seu estilo de vida, que Deus é amor e quer a salvação de todos os homens. "A família cristã -diz sempre o Concílio Vaticano II-, nascida de um matrimônio que é imagem e participação da aliança de amor entre Cristo e a Igreja, manifestará a todos a presença viva do Salvador no mundo e a autêntica natureza da Igreja, quer por meio do amor dos esposos, quer pela sua generosa fecundidade, unidade e fidelidade, quer pela amável cooperação de todos os seus membros" (Gaudium et spes, 48).
O Evangelho da Epifania (Mt 2, 1-12) apresenta-nos os Magos que, vindos do Oriente guiados pela estrela, chegam a Belém, à "casa" (v. 11) onde habita a Sagrada Família, e se prostram diante do Menino. O centro da cena é Ele, Jesus: é Ele que é adorado, porque é Ele "o rei... que nasceu" (v. 2); é sua a estrela que os três sábios viram surgir de longe (v. 2); é Ele que, nascido em Belém da Judéia, está destinado a apascentar como chefe o povo de Deus (v. 6); a Ele os Magos oferecem os seus dons simbólicos.
E, entretanto, tudo isto acontece "na casa", onde eles, tendo entrado, "viram o Menino com Maria, Sua mãe" (v. 11). E José? Aqui Mateus -que também noutros episódios da infância o põe em grande relevo- parece querer deixá-lo no escondimento. Por que? Talvez para que o nosso olhar, como o dos Magos, se fixe naquele que é, sem dúvida, o autêntico ícone do Natal: o Menino no regaço da Virgem Mãe.
Enquanto contemplamos esse ícone, compreendemos como José, longe de ser excluído da cena, está pelo contrário, a seu modo, a participar nela plenamente. Quem de fato, senão ele, José, acolhe os Magos, quem os faz entrar na casa, e com eles, ou melhor, antes deles, se prostra diante de Jesus, que a Mãe estreita entre os braços?
O quadro da Epifania sugere que toda a família cristã se nutre espiritualmente de um dúplice dinamismo interior, cujo primeiro momento é a adoração de Jesus, "Deus conosco", e o segundo é a veneração para com a sua Mãe Santíssima. Os dois aspectos estão juntos, são inseparáveis, porque constituem os dois momentos de um único movimento do Espírito, que hoje vemos exprimir-se profeticamente no gesto dos Magos.
Caríssimos Irmãos e Irmãs! Estamos no início do Ano da Família, um tempo mais do que nunca propício para refletir sobre o papel e a importância da família na vida da Igreja e da sociedade. Um ano de aprofundamento doutrinal, certamente, mas um ano sobretudo de oração, e de oração em família, para obter do Senhor o dom de redescobrir e valorizar plenamente a missão que a Providência confia a cada família neste nosso tempo.
A contemplação da cena dos Magos nos ajude a dar-nos sempre conta de que a inteira existência familiar só encontra o seu sentido pleno, se for iluminada por Cristo luz, paz e esperança do homem.
Com os Magos entramos também nós na pobre casa de Belém e, com fé, adoramos o Salvador que nasceu para nós. Reconhecemos n’Ele o Senhor da história, o Redentor do homem, o Filho da Virgem, "sol que surge" e veio até nós para "guiar os nossos passos no caminho da paz" (Lc 1, 79).
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