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04 outubro 2006

Pudor e dignidade

Chuquinho. Buzanga. Pokemón. Docinho. Fofucho. Você já reparou como os casais são criativos em imaginar apelidos para se tratarem um com o outro?

Todos esses apelidos soam doces a marido e mulher, mas causam risos a quem os ouve. Por que reações tão diversas?

Não é difícil arriscar uma resposta. Para os namorados, esses apelidos estão imersos em afeto e muitas vezes correspondem a momentos especiais vividos pelo casal. Mas para "os outros" o apelido é visto descontextualizado, sem fazer referência à história de vida, à intimidade dos dois.

Os que se amam ouvem o apelido dentro de um contexto maior. Os "outros", têm uma visão parcial e por isso não alcançam seu verdadeiro significado. Os que amam vêm o apelido desde dentro, pois é com o coração que o teceram. Os "outros" o tomam desde fora, e por isso não conseguem ver tudo aquilo que o apelido significa, tudo aquilo que ele é.

Diante dessa flagrante diferença de percepções, os que se amam costumam colocar entre si uma questão: devemos nos tratar publicamente com os apelidos íntimos? Duas alternativas: ou falam abertamente, sujeitando-se ao riso dos outros, ou reservam certo modo de se tratar, de se expor, para a intimidade, para os olhos que podem ver o profundo e não apenas a superfície. Esses olhos são os daquele que vive um nível maior de comunhão.

Há aqueles que pouco se importam com o que vão pensar os "outros". Mas são muitos os amantes que têm um senso maior da dignidade de seu amor a ponto de estarem dispostos a contingenciar certas expressões, reservando-as para momentos apropriados.

Isso é pudor! Tem a ver com o senso de dignidade da pessoa diante do olhar externo, parcial, sem amor dos "outros".

Descobrir a profunda relação entre o pudor e a dignidade é absolutamente necessário para que possamos oferecer aos nossos filhos uma educação sadia e equilibrada.

Com relação ao pudor do corpo, essa dignidade já fora expressa por S. Paulo, quando ensinava: "O corpo foi feito para o Senhor". Cobrimos o corpo não porque seja sujo ou indecente, mas pelo senso de dignidade humana que lhe é inerente. O olhar externo, sem amor, não é capaz de colher o sentido profundo do corpo, que é pessoal, mas o vê apenas como um objeto. Objeto de comparações estéticas (se está gordo, magro, alto demais, etc.), de cobiça, de desejo erótico. O "outro" não vê o corpo de alguém, não vê o seu corpo, o meu corpo. Enxerga apenas um corpo, e por isso é um olhar radicalmente indiferente à pessoa. Pouco lhe importa quem seja a pessoa. Não consegue compreender o sentido maior do corpo, que é epifania da pessoa, como gostava de dizer o Papa João Paulo II (querendo dizer que o corpo é manifestação da pessoa). O que o "outro" pensa ter diante de si é algo despersonalizado, nada muito diferente de um cadáver.

Também existe o pudor nas conversas. É preciso compreendermos que certas coisas mais íntimas não podem ser faladas para uma pessoa que não tenha um grau de amizade especial conosco. Às vezes, não nos damos conta disso. Na ânsia de falarmos, acabamos revelando para certas pessoas algumas coisas íntimas da nossa vida (ou, pior, da vida do esposo, da esposa!), sem que essa pessoa possa objetivamente ajudar em nada. O mais provável é que ela acabe comentando sobre isso com alguma outra amiga, e até podendo se transformar em motivo de fofoca ou piada. Os salões de beleza são locais muito apropriados para esse tipo de violência à intimidade. É que certas coisas não podem ser faladas ao "outro", mas só a um amigo.

Sempre me pareceu bonito ver como a Igreja trata o Santíssimo Sacramento, mesmo quando em traslado: cobre-o de véus. Isso faz todos perceberem como é digno o que ali está presente. Por mais paradoxal que possa parecer, o véu revela algo que nossos olhos não podem enxergar: o significado daquilo que se vê.

Dignidade e pudor andam juntos: nas vestimentas, nas conversas, no comportamento, em todos os aspectos da vida. Num momento histórico difícil, em que se reestruturam os espaços do "público" e do "privado", devemos reconsiderar uma e outra vez nossa dignidade e as conseqüências de nossa nobreza.

Como diz um amigo meu: "Você só faz streep-tease para alguém que tenha dinheiro para pagar".

Um comentário:

  1. Achei belíssima e gostaria de colocar no meu blog.

    Parabéns!

    Vocês conhecem a teologia do corpo do Papa JPII?

    www.teologiadocorpo.com.br

    PAX

    Julie Maria

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