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19 abril 2010

Papa Bento XVI chora ao conversar com vítimas de abusos em Malta

Esta foi a primeira vez que Bento XVI conversou com vítimas de abusos desde que o escândalo sobre pedofilia na Igreja se agravou, no início deste ano. O encontro foi um pedido das vítimas, que queriam "fechar esse capítulo doloroso" de suas vidas.

Valletta, Malta. Com lágrimas nos olhos, o Papa Bento XVI fez ontem sua maior declaração pessoal em resposta às acusações de pedofilia na Igreja: em Malta, o Pontífice disse que "não medirá esforços para proteger as crianças" no futuro, e que faria o possível para levar culpados à Justiça.
Em viagem de dois dias a Malta, o Papa se encontrou com oito vítimas de abusos sexuais cometidos por padres nas décadas de 1980 e 1990 no orfanato católico Saint Joseph Home, em Santa Venera. Esta foi a primeira vez que Bento XVI conversou com vítimas de abusos desde que o escândalo sobre pedofilia na Igreja se agravou, no início deste ano. O encontro foi um pedido das vítimas, que queriam "fechar esse capítulo doloroso" de suas vidas.
- Vi o Papa chorar -disse Lawrence Grech, uma das vítimas-. Bento XVI apoiou sua mão sobre a cabeça de alguns dos participantes, abençoando-os. Senti-me liberado e aliviado de um grande peso.
Grech, hoje com 35 anos, completou dizendo que agora se sente um "católico convicto", considerando o encontro com o Papa "o maior presente que recebi depois do nascimento da minha filha". O grupo foi recebido pelo Papa numa capela privada da Nunciatura Apostólica, em Rabat, após a celebração de uma missa na Praça dos Celeiros, em Floriana. As vítimas acusaram em 2003 quatro sacerdotes por pedofilia; o caso, no entanto, ainda não foi julgado. Três dos sacerdotes vivem em Malta e um em Roma.
Na missa, acompanhada por cerca de 40 mil pessoas, o Pontífice pregou que os homens precisam da "divina misericórdia" para curarem "feridas espirituais e feridas do pecado". Muitos fieis portavam cartazes e faixas desejando "boas-vindas" ao Papa; outros oraram por uma Igreja Católica "sem mancha nas futuras gerações". Em texto lido por uma menina, os católicos recordaram que Bento XVI completa cinco anos como Pontífice.
O porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi, disse que não sabia o que o Papa havia dito a cada uma das vítimas, porque tudo foi dito num tom de voz baixo, "com familiaridade e carinho".
Advogado da Califórnia defende Vaticano
A Igreja Católica tem recebido apoio inusitado, como o de um advogado de Berkeley especialista em direito comparado que decidiu ser o advogado do Papa nos Estados Unidos. Jeffrey Lena se empenhou em sua tese de como a Igreja deveria agir diante da crise moral e pode-se dizer que acabou influenciando a decisão do Vaticano de não tentar encobrir as acusações. Lena e´o porta-voz não-oficial do Vaticano nos Estados Unidos. O ex-professor de história evita os holofotes; diz que tem recebido ameaças por defender a Igreja, e que tem encontrado dificuldades em parceiros.
O último projeto do advogado é defender que o Papa Bento XVI não tentou omitir ou encobrir os casos de pedofilia na Igreja.
- O que é importante as pessoas saberem é que o Papa entende a gravidade das denúncias, e que seu coração está tocado. Ele verificou os arquivos e tomou providências muito antes de outros - disse.
Bento XVI concluiu ontem sua viagem ao arquipélago de Malta. Em Malta existem 45 religiosos e sacerdotes acusados de abusos. Em 1999 a Igreja maltesa formou uma comissão para analisar as denúncias de abuso sexual praticados por padres, mas a própria comissão absolveu metade dos membros do clero acusados. A Justiça, no entanto, ainda julga os casos de pedofilia, que contam com 10 testemunhas.

Fonte: Jornal O Globo, Caderno "O mundo", 19 de abril de 2010, p. 22.



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