Colocar o filho na cama é um martírio para uma parcela grande de pais. A criança barganha até o último minuto para ficar na sala, reluta para ficar sozinha no escuro ou levanta no meio da noite, pedindo companhia. Nessas horas, por cansaço, a vontade que dá é dividir o cobertor com o pequeno, o que é um erro, segundo especialistas.
Ensinar a criança a dormir sozinha é uma arte e inclui uma mudança na dinâmica da família toda, como afirma o pediatra e especialista em medicina do sono Gustavo Moreira, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). E o termo, ele diz, é realmente "ensinar", " e não 'fazer' a criança dormir", esclarece.
A dificuldade tem origem nos primeiros meses de vida. Em primeiro lugar, não há luz na barriga da mamãe, portanto é natural que leve algum tempo até relacionar o sono ao período da noite. Além disso, o bebê é acostumado a dormir no colo da mãe, depois de mamar, e habituar a criança a dormir sozinha, mais tarde, vira um desafio.
A principal regra para que a criança durma sem sofrimento é estabelecer um ritual. Isso significa que, pelo menos uma hora antes de dormir, é preciso puxar o freio e diminuir o ritmo da casa. Então é preciso definir um roteiro, que será repetido toda noite, inclusive nos fins de semana: ir para o quarto, colocar o pijama, ir para o banheiro, escovar os dentes, dar um beijo nos pais e deitar, não necessariamente nessa ordem.
"A criança deve ser colocada no berço ou na cama acordada", ensina o médico. Contar uma história ou cantar uma música são práticas úteis para estimular o sono. Mas é preciso estabelecer limites, pois o filho sempre pede mais.
Deixar a criança dormir com um ursinho ou boneca é outro costume bem-vindo, segundo Moreira. "O brinquedo passa a ser associado ao sono e vira um substituto para a presença dos pais", comenta. O leitinho antes de dormir também pode ajudar, mas é fundamental que a criança escove os dentes depois, mesmo as menores.
O ambiente também conta para evitar problemas: "Não pode haver nenhum eletroeletrônico no quarto", diz o médico. Se houver a necessidade de manter alguma luz acesa, porque a criança tem medo do escuro, a lâmpada azul, de intensidade fraca, é a opção mais indicada, para não prejudicar a secreção da melatonina, o hormônio do sono.
Outro ponto importante é o horário. O especialista enfatiza que a criança tem que estar na cama antes das nove da noite. "Dormir além desse horário pode até aumentar o risco de obesidade", alerta.
Se a criança levantar no meio da noite e for até a cama dos pais, é preciso ser firme e levá-la de volta ao quarto. "Todo mundo acorda no meio da noite, vira para o lado e volta a dormir. Isso é o que a criança precisa aprender a fazer também", diz o médico. "Se os pais forem seguros, ela vai obedecer", garante.
Doenças do sono
Algumas doenças podem prejudicar o sono dos pequenos, por isso fique atento se seu filho ronca. Isso pode ser um indício de apneia do sono, síndrome caracterizada pela interrupção da respiração e afeta cerca de 2% das crianças. Ao contrário dos adultos com o problema, que apresentam sonolência diurna, os sintomas mais comuns nos pequenos são irritabilidade, falta de atenção e baixo rendimento na escola.
Em geral, a apneia infantil é tratada com uma cirurgia simples para retirada das amígdalas e das adenoides. Embora a ideia preocupe os pais, nesse caso é uma questão de custo-benefício: "A apneia pode resultar em alterações cardíacas e cerebrais", justifica o especialista.
Outro problema comum é a respiração bucal, síndrome que ocorre em cerca de um quarto das crianças e que pode prejudicar o desenvolvimento. Se o problema for constante, é recomendável procurar um especialista.
Já o sonambulismo, comum na infância, em geral não exige tratamento, a não ser que ocorra todas as noites. Mas lembre-se de proteger a criança de possíveis acidentes, com precauções como tirar objetos pontiagudos do quarto, colocar grade na janela e portão na escada.
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