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28 julho 2009

Terapia das doenças espirituais


Vale a pena visitar o blog do Padre Paulo Ricardo, para ouvir suas palestras. Aqui, destaco o "mini-curso" chamado "Terapia das doenças espirituais". Vale muito a pena! Ele pertence ao clero da Arquidiocese de Cuiabá (Mato Grosso – Brasil) e é reitor do Seminário Cristo Rei, de Cuiabá. Em 2002, a Santa Sé o nomeou consultor da Congregação do Clero, em assuntos de catequese. Você pode ouvir as palestras abaixo, ou baixá-las clicando aqui.

Introdução – Terapia das doenças espirituais
Introdução – Terapia das doenças espirituais


“Teologia: método e pecado”
O homem, criado para uma vocação divina, está marcado pelo pecado (filáucia). A investigação teológica deve levar isto em conta. Embora teoricamente possível, o método indutivo (teologia de baixo) tem produzidos mais males do que bem, especialmente nas atuais circunstâncias de crise eclesial.


01 – Filáucia
O homem, criatura de Deus, é, por sua própria natureza, bom e digno de ser amado. Podemos e devemos amar a nós mesmos. Mas o pecado original faz com que este amor próprio (a filáucia) seja mal orientado. A filáucia torna-se então “um amor de si contra si”, “uma paixão pelo corpo”, “um amor irracional” (São Máximo, o Confessor).


02 – As três doenças fundamentais
O amor desordenado por si mesmo (a filáucia) é causa de todas as doenças espirituais. Da filáucia nascem as três doenças fundamentais: a gula (gastrimargia), a avareza (filargíria) e a vanglória (cenodoxia). Com estes pensamentos passionais Jesus foi tentado no deserto por Satanás. A Igreja, na sua sabedoria, propõe o remédio das práticas quaresmais: o jejum, a esmola e a oração.


03 – Gastrimargia
A gula é um problema espiritual freqüentemente esquecido. Os Santos Padres salientam a sua importância como origem de vários outros males. Trata-se, sobretudo, de uma forma errada de relacionamento com os dons recebidos de Deus.


04 – Terapia da Gastrimargia
Para curar o homem das doenças espirituais, a ação terapêutica deve, em primeiro lugar, combater a paixão da gula: por um lado, porque esta paixão é a mais grosseira, a mais primitiva, por outro lado, porque da vitória sobre ela depende a luta contra as outras paixões.


05 - Revolução sexual e Marxismo
A derrocada da moral judaico-cristã no campo da sexualidade não foi obra do acaso, nem conseqüência da inevitável substituição de uma moral ultrapassa por outra mais moderna. Trata-se de um movimento político e revolucionário bastante articulado e com objetivos bem claros.


05b – Luxúria
A paixão da luxúria (pornéia) consiste no uso patológico que a pessoa faz da própria sexualidade. O sexo foi pensado por Deus como realidade sagrada e não pode ser vivido de forma adequada pela pessoa humana fora de seu significado espiritual originário.


06 – Terapia da Luxúria
A Luxúria (Pornéia) acontece quando o corpo consegue a hegemonia sobre a alma e o espírito. Isto se dá pelo domínio que a fantasia exerce sobre outras faculdades da alma. Para a cura da Luxúria é necessário moderar a fantasia e direcionar a faculdade do desejo (cor inquietum) para Deus.


07 – Avareza
A avareza (filargíria) e a ganância (pleonexia) são fruto do apego passional aos bens meteriais. São Máximo, o Confessor, nos ensina: “São três as causas do amor às riquezas: o amor ao prazer, a vanglória e a falta de fé; mais grave porém que as duas primeiras é a falta de fé” (Centúrias sobre a caridade III, 17).


08 – Terapia da Avareza
A avareza (filargíria) e a ganância (pleonexia) são insaciáveis. Como cura para estes males os Santos Padres nos propõem uma nova forma de olhar para os bens materiais sob a luz da fé. Além disso se sobressaem como remédio de suma importância a pobreza espiritual e a esmola.


09 – Tristeza
Há dois tipos de tristeza – lýpe – (cf. 2Cor 7,10). Trata-se sempre de um sofrimento pela perda da divindade, seja o Deus verdadeiro (“tristeza segundo Deus”), seja um falso ídolo (“tristeza segundo o mundo”). Sua origem pode estar no desejo ou na ira ou num espírito mau.


10 – Terapia da Tristeza
O principal remédio da tristeza segundo o mundo (lýpe) é a tristeza segundo Deus (pénthos), o arrependimento de nossas idolatrias. Com esta conversão torna-se verdade a palavra do evangelho: “Bem-aventurado os que choram, porque serão consolados” (Mt 5,4).


11 – Acídia
“Atonia da alma”. Assim Evágrio Pôntico, monge que viveu no século IV, define a acídia (akedía), doença cujo nome é praticamente intraduzível nas línguas modernas e que indica a situação do espírito atingido por um mal-estar em cujos matizes estão incluídos o desgosto pela vida, o tédio, o desânimo, a preguiça, a sonolência, a melancolia, a náusea, a indecisão, a tristeza, a desmotivação…


12 – Terapia da Acídia
A acídia tem a peculiaridade de envolver todas as faculdades da alma. Por isto, ao contrário das outras paixões, ela não pode ser curada por nem substituída por uma virtude que lhe seja especificamente contrária. Quem deseja a perfeição deve “combater o espírito pernicioso da acídia em todas as frontes” (São João Cassiano).


13 – Ira
A capacidade de nos irarmos foi criada por Deus e faz parte da natureza humana. Mas, através do pecado, o homem desviou esta faculdade de sua finalidade primeira: lutar contra a tentação e buscar o bem. A paixão da ira (orgé) nasce do uso desordenado da faculdade irascível (thymós).


14 – Terapia da Ira
A terapia da ira consiste no esforço de não utilizar a cólera contra o nosso próximo e utilizá-la contra os demônios e os pecados. Não tem verdadeiro amor pelo bem quem não possui um correlativo ódio contra o mal. Além disto, a oração, a paciência e a caridade são caminhos seguros para alcançar a mansidão de um coração semelhante ao de Cristo.


15 – Vanglória
Há dois tipos de vanglória (cenodoxia). O primeiro consiste em se gloriar das realidades materiais; o segundo se gloriar das virtudes e dons espirituais. Assim, a vanglória se manifesta como um fenômeno universal e especialmente perigoso, já que nos leva a uma visão delirante da realidade.


16 – Orgulho
O orgulho ou soberba (hyperefania) é muito semelhante à vaidade. Na tradição latina esta oitava doença está fora da lista dos sete pecados capitais, por estar acima dos outros e é a raiz de todos. Este, que é o pecado de Satanás, faz com que as pessoas não vejam os próprios pecados e que deles se esqueçam.


17 – Terapia da Vaidade e do Orgulho
Chegamos à conclusão do nosso curso com a terapia da vaidade e do orgulho. Embora distintas, as duas doenças possuem uma terapia muito semelhante. Trata-se de o homem se reconciliar com a verdade a respeito de si mesmo e aceitar a sua miséria e a misericórdia de Deus.

27 julho 2009

Amigos do céu: blog recomendado para crianças


Recomendo que você visite com seu filho o Blog Amigos do Céu. É um dos blogs da Canção Nova, com vídeos, desenhos para colorir, historinhas e tudo mais para a criançada aprender sobre nossos irmãozinhos mais velhos, os santos.

Resto do Post

22 julho 2009

Sombras pastorais


Os principais perigos que podem afetar a pastoral familiar ou qualquer outra pastoral, segundo Dom Orlando Brandes, Arcebispo de Londrina, PR: messianismo, ativismo, perfeccionismo, burocracia, carreirismo, dentre outros.

1. Messianismo. É a mania de fazer planos pastorais sem consultar a vontade de Deus. Daí vem o estrelismo das pessoas que se projetam a si mesmas. Deus fica em segundo lugar, serve de estepe para que nossos planos não falhem, segundo nossa vontade, nossas ideologias e nossas óticas.

2. Ativismo. Pouca oração e muita agitação. Vale o que eu faço, e não o que eu sou. A pastoral vira profissão, burocracia. O ativismo leva à impaciência apostólica. É fruto do vazio interior e da vaidade pessoal.

3. Perfeccionismo. Busca-se o êxito, o sucesso, o resultado. A confiança não está na graça de Deus, mas nos planos e ações bem escritas nos livros pastorais e nas pessoas envolvidas. Tudo deve dar certo.

4. Mutismo. Consiste em calar verdades, omitir correções e falar só o que agrada. As grandes verdades silenciadas são: a castidade, o purgatório, o inferno, a infidelidade conjugal, a renúncia. O que importa é agradar. Por isso, há falta de profetismo.

5. Pessimismo. Pregam-se problemas, incertezas, azedumes e queixas. A Palavra de Deus não é proclamada. No seu lugar estão as dúvidas, suspeitas e vazios do pregador, do catequista, do pastoralista. Jogam-se sobre o povo problemas pessoais não resolvidos.

6. Falta de esperança. É o pecado do reducionismo, que consiste em reduzir a esperança, não crer na ressurreição, na eternidade, na vida futura. Tudo fica reduzido a este mundo, à matéria, à ciência experimental. Sem esperança não há consistência.

7. Burocracia. As pessoas são deixadas de lado e esquecidas. Cumprem-se as leis, marca-se o ponto, tudo vira pura burocracia eclesiástica e administração. O burocrata cumpre o dever, mas abandona as pessoas, os pobres, os sofredores. O que importa é o funcionamento da máquina eclesial.

8. Discriminação. Uns são privilegiados e outros descartados. Uns bem recebidos, outros rejeitados. Faz-se acepção de pessoas. Os ricos, os amigos, os privilegiados têm vez, os outros são discriminados.

9. Sectarismo. É a falta de abertura, de pluralismo e de ecumenismo. Sectário é quem secciona, busca o que lhe interessa e agrada. É o grupismo. Só meu grupo, minha espiritualidade, meu movimento, minha pastoral, meu interesse é que vale. O sectário ignora o outro, o diferente e o despreza, critica e combate. Falta o espírito de comunhão e de unidade. É a pastoral de gavetas e sem articulação que acaba no paroquialismo.

10. Carreirismo. É quem busca promoção. Fecha-se na sua experiência e desfaz a experiência dos outros. Eu é que estou certo, os outros estão errados. O carreirista acha-se insubstituível e infalível. Não solta os cargos. Perpetua-se no poder. É grudado na sua função. Mata a pastoral pelo apego ao poder. Não quer mudança nem transferência. Não dá lugar para os outros.

11. Individualismo. É quem espera gratificações, recompensas, aplausos e louvores. Precisa toda hora de elogios, pois do contrário cai em aflição e na crítica azeda. O que vale é a sua imagem, sua fama, a projeção de si.

12. Perda da alegria. Faz tudo por obrigação, cai na rotina, vive na superficialidade. Não tem entusiasmo, perdeu a alegria e o humor. Vem a amargura e a dramatização da vida.

13. A mesmice. É quem perdeu a criatividade, caiu na instalação, na mediocridade. Faz tudo sem amor, instala-se nos próprios defeitos e os justifica. Tem explicação para todos os seus erros e desleixos. Não muda e não se dispõe a mudar.

14. Vitimismo. É quem se acha injustiçado, rejeitado e por isso vive na apatia, arranja doenças, apega-se a defeitos psicológicos para justificar o vitimismo. Vive mais cuidando de si do que da pastoral do rebanho.

15. A inveja pastoral. Consiste em menosprezar o trabalho dos outros, aumentar seus defeitos, competir e tratar os outros com cinismo. O invejoso procura bloquear o sucesso alheio. Acontece aqui a "contradição dos bons", ou seja, não recebemos apoio e incentivo dos nossos colegas, amigos, irmãos de caminhada: pelo contrário, somos invejados, incompreendidos e criticados.

Para uma sadia evangelização, precisamos de "conversão pastoral", pela qual venceremos as sombras pastorais, como aponta o Documento de Aparecida.

Fonte: O Lutador, n. 3663, 11 a 20 de julho de 2009.

21 julho 2009

Palestra sobre o amor conjugal

Palestra em áudio sobre o amor entre o homem e a mulher, por Ricardo e Eliana Sá, no acampamento para casais da Canção Nova, neste último final de semana.

20 julho 2009

Substitua um comportamento por outro


Em vez de dizer a uma criança para não fazer algo, tente lhe dizer o que deve fazer. Depois de se acostumar com essa prática, tente se concentrar cada vez mais em O QUE FAZER. A criança gosta de aprender coisas novas. Diga-lhe que é assim que papai e mamãe fazem, e depois a elogie entusiasticamente por fazer a coisa dessa maneira. Com isso, você obterá resultados muito mais agradáveis -e mais rapidamente- do que se dissesse apenas: "Não!"
Seu pequeno artista de circo quer ficar pulando no alto do sofá? Diga: "Se você pular aí, pode se machucar. Venha pular desta banqueta". Diga-o com naturalidade e finja que está pulando da banqueta. E se seu pequeno rato de biblioteca começou a arrancar as páginas com desenhos dos livros? Se você disser apenas: "Não rasgue seus livros!" ele passará de uma atividade excitante para nenhuma atividade. Mas, se você disser: "Não é bom rasgar seus livros, porque depois não vamos poder lê-los. Experimente virar as páginas devararinho, assim", então você estará apresentando a seu filho um desafio que poderá lhe trazer elogios no lugar de reprimendas. Diga: "Pegue o cachorrinho com cuidado", em vez de: "Não puxe o rabo do cachorro!" Ou então: "Se você puxar o rabo do cãozinho, ele vai ficar machucado; ele gosta de carinho. Olhe, é gostoso fazer isso".

Procure evitar a palavra "não". Crianças pequenas podem não compreendê-la e acabam se concentrando no resto da frase. Quando você diz: "Não fique de pé na cadeira", ela pode ouvir uma palavra que não compreende direito -o 'não'- seguida de: "Fique de pé na cadeira". Em vez disso, tente usar um comando afirmativo, como "Sente-se". Use comandos breves, imediatos e bastante claros. Depois, explique a razão do pedido.

Penelope Leach afirma: "(...) as crianças acham muito mais fácil compreender e gravar instruções positivas do que negativos, o que devem fazer do que o que não devem e preferem agir a não agir. Procure dizer: 'Assim, sim', em vez de: 'Não quero assado', e tente dizer: 'Sim' e 'Continue' pelo menos com a mesma frequencia com que diz: 'Não' e 'Pare com isso'".

Fonte: 101 maneiras de fazer uma criança feliz

13 julho 2009

Moda feminina: quando o menos é mais


"Para andar na moda, mas não ser dela escrava ou vítima, basta usar o bom senso e ter como regra que o menos é mais. Por incrível que pareça, não é preciso muito dinheiro para andar bem vestida, e sim disposição para procurar boas peças e estar antenada para as ofertas que surgem". Leia mais aqui.

10 julho 2009

Ensinando as crianças a pensar e a conviver

Acabo de ler um livro que procura dar a pais e professores algumas pautas para ensinar as crianças a conviver. Queria, aqui, fazer um rápido resumo dos três primeiros capítulos dessa interessante obra.


SEGURA, Manuel. Como ensinar as crianças a conviver. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009.

O autor é doutor em Pedagogia, Ciências da Educação e Filosofia, tendo estudado em Barcelona e na Inglaterra. Foi professor de Psicologia Educativa na Universidade de La Laguna, Espanha, e ministra a professores de ensino fundamental e médio diversos cursos sobre competência social.

Para o autor, um programa educacional eficaz deve levar em conta quatro aspectos em conjunto: cognição, habilidades sociais, emocional e crescimento moral. O aspecto da cognição retrata a importância de aprender a pensar: "Mais do que propor muitos conteúdos e informações, o importante é ensinar os filhos e os alunos a pensarem". O aspecto das habilidades sociais é o treinamento em diversos hábitos importantes para a convivência, especialmente a assertividade. "Ser assertivo quer dizer ser justo e eficaz na relação interpessoal, evitando os dois extremos: o da passividade tímida (que é nos calar e não fazer nada quando deveríamos falar ou agir), e o da agressividade violenta (que é insultar ou agredir os outros, sem respeitar sua dignidade e seus direitos)". O aspecto emocional em um programa educacional dá atenção à educação emocional. "O trabalho educacional na família e na escola não pretende reprimir as emoções, mas conhecê-las, saber utilizá-las para o desenvolvimento e a motivação pessoal e também para aprender a controlá-las quando forem se tornar uma ameaça para nós". Finalmente, o quarto aspecto, o do crescimento moral, dá atenção à educação em valores morais.

O aspecto cognitivo é abordado nos três capítulos iniciais de que trata esse resumo. Saber pensar, ter uma forma de ver as coisas com objetividade, e saber expressar isso é muito importante. Especialmente, diante dos inevitáveis conflitos da vida cotidiana.

O aspecto cognitivo

Não há um único tipo de inteligência, mas oito. "Todos nós temos essas oito inteligências, pelo menos no embrião, mas o normal é termos três ou quatro mais desenvolvidas". Para nos relacionarmos bem, precisamos desenvolver duas delas: a inteligência intrapessoal e a inteligência interpessoal (os outros tipos de inteligência são as inteligências linguística, matemática, espacial, cinestésica, musical e ecológica).

A inteligência intrapessoal é a capacidade de se entender a si mesmo, controlar-se e motivar-se. Eu diria que se trata do autoconhecimento, condição prévia para o autodomínio. Sem ela, não é possível desenvolver a inteligência interpessoal, que, segundo o autor, é especificamente aquela que nos auxilia na resolução dos conflitos da vida e na boa convivência. A inteligência interpessoal é a capacidade de se colocar no lugar dos outros e de se relacionar bem com eles.

Deve ficar claro para pais, professores, adolescentes, crianças, que ser inteligente não é só ser capaz de produzir conhecimentos técnicos ou científicos, mas também ser capaz de conviver bem ou de resolver conflitos. “Também é inteligência levar uma boa relação de casal durante toda a vida”, diz o autor.

Conviver bem supõe a capacidade de solucionar conflitos, porque esses são inerentes à vida. Uma boa casa não é uma casa sem conflitos, mas onde os conflitos se resolvem. Resolver conflitos nos amadurece, mas para isso é necessário saber pensar. A literatura sobre resolução de conflitos é, segundo o autor, quase unânime em apontar cinco passos para um reto pensar diante dos conflitos. Um resumo desses cinco passos está logo abaixo, sempre intercalados com a minha experiência de pai com essa cor aqui.

1. Pensamento causal: é necessário diagnosticar bem um problema, assinalar quais as suas verdadeiras causas. Exemplifico: se falta dinheiro, talvez o problema não seja o descontrole da esposa, mas a ocorrência de gastos imprevistos. Se o pai não levou o filho no parque, talvez o problema não seja que o pai não quis levá-lo, mas que tenha chovido no dia. Para diagnosticar bem o problema, é fundamental ter informação e saber interpretá-la.

Para isso, precisamos de maturidade e objetividade. Daí a necessidade de treinarmos, nós mesmos e nossos filhos ou alunos, a separar muito bem o que é um fato do que é uma opinião, ou algo que imaginamos, ou um desejo, ou um medo. Precisamos distinguir o que é o problema em si, do que é o problema em mim (aquilo que eu sinto, aquilo que eu suponho, aquilo que eu gostaria, etc.). Em termos interpessoais, “temos de prestar muita atenção aos detalhes, às palavras que nos dizem, ao tom com que são ditas, e ao rosto que as pessoas têm quando nos dizem essas palavras. Precisamos de informação e precisamos saber ‘lê-la’ com objetividade”.

Para ir ajudando meu filho a ter esse pensamento causal, sempre lhe pergunto: "Por que isso aconteceu?" Se ele derrubou suco de uva em sua camisa, por que isso aconteceu? Se a irmãzinha está chorando, por que isso aconteceu? Se eu estou nervoso, por que isso aconteceu?

2. Pensamento alternativo: é a capacidade de imaginar diversas causas e diversas soluções para o problema, e não apenas uma ou duas. “Sempre existem várias soluções possíveis [e causas possíveis] para qualquer problema ou conflito”. Pode também ser chamado de pensamento criativo, pela capacidade de imaginação que supõe. Embora elencado em segundo lugar, o autor afirma que o pensamento alternativo é “com certeza” o mais importante e o primeiro de que precisamos para atingir uma relação humana correta. É necessário para diagnosticar bem o problema, para não nos apegarmos à primeira ideia que pode nos vir à cabeça quando procuramos descobrir as causas de um problema e, por isso, é mais básico do que o pensamento causal.

Mas também é necessário para tomar as decisões, para escolher entre as diversas possibilidades de ação. Para exercitar esse pensamento, pode-se colocar em alguma situação, real ou imaginária, e anotar o maior número de decisões que podem ser tomadas (inclusive o não fazer nada). Uma vez expostas todas as decisões possíveis, é necessário escolher a melhor ou a menos pior, à luz dos critérios da eficácia e da justiça: eficácia, para tomar a decisão que de fato resolva o problema, e não para varrê-lo para debaixo do tapete; justiça, para que a decisão não fira direitos ou a dignidade de alguém.

Descobri uma maneira boa para treinar isso com meu filho. Suponha que ele tenha acabado de chegar da videolocadora com um filme novo. Eu, que estava em casa, não percebo, e pergunto a ele se ele quer tomar banho. Ele diz "Não!" Mas, descobri que, na verdade, não é que ele não queira tomar banho, apenas não quer tomar banho naquela hora. Daí eu pergunto: "que tal ver o filme agora e depois tomar banho?"

Situação curiosa: isso se voltou noutro dia contra mim. Eu estava com muito sono, e queria fazê-lo dormir logo. Eu já tinha me preparado para ler história para ele, na esperança de ele dormir logo, e de repente ele pede: "Papai, faz um leitinho para mim?" Eu, um pouco irritado pelo cansaço, disse: "João Paulo, você escolhe: ou a história ou o leite!" E ele respondeu: "Papai, que tal o leite e depois a história?"

E já vi que ele tem usado esse tipo de pensamento alternativo nos momentos em que os colegas querem impor uma brincadeira. Ele cede e diz: "Que tal essa sua brincadeira e depois a minha?", e isso resolve os problemas.

3. Pensamento de consequência: através dele, procura-se imaginar, “com a maior exatidão possível, quais vão ser minhas reações depois de dizer ou de fazer tal coisa, e quais serão as reações dos outros”. São as possíveis consequências que determinam qual a melhor solução entre todas as alternativas. “Será melhor a que tiver consequencias mais benéficas ou pelo menos mais aceitáveis, ou menos ruins para mim e para as outras pessoas”. Esse tipo de pensamento se aprimora com a maturidade. Com crianças pequenas, podemos brincar de perguntar “o que aconteceria se...”, começando com consequencias físicas (“o que aconteceria se eu colocasse a mão no fogo?”), mas depois passando para o interpessoal (“o que aconteceria se nós disséssemos sempre a verdade?”).

Temos obstáculos culturais a serem vencidos aqui. “A televisão, a internet, os videogames, a procura pela gratificação imediata (que se vê tanto nas crianças pequenas e nos drogados, e que está em todos), não facilitam muito o pensamento de consequencia. Estamos nos acostumando a não ver o que pode ser visto e ficamos cegos diante do futuro”, tanto o mais imediato quando o mais distante.

Na convivência com as meninas da casa (a mamãe e a irmãzinha, de 1 ano), é muito fácil pedir ao meu filho para imaginar qual será a reação delas se ele gritar, ou se ele deixar o sapato fora do lugar, etc. Ele tem apenas 3 anos e meio, mas já está aprendendo que as pessoas reagem às suas atitudes.

4. Pensamento de perspectiva: é a capacidade de se colocar no lugar do outro. “Consiste em ver as coisas do ponto de vista do outro, da perspectiva do outro”. Não se trata de ceder ao que o outro pensa ou deseja, mas apenas de ver como o outro vê para entender seu ponto de vista e suas reações (e ceder apenas se isso for mais correto). É, “sem dúvida alguma, a mais importante condição para nos relacionarmos bem”.

É uma capacidade mais desenvolvida nas mulheres, e há quem afirme que essa é a razão de a mulher cometer menos delitos do que o homem (12% contra 88%, estatística norteamericana). Estudiosos procuram entender o motivo de essa capacidade estar mais desenvolvida nas mulheres, sendo que o autor apresenta duas hipóteses adotadas pelos pesquisadores: porque historicamente é ela quem toma conta de outras pessoas mais frequentemente do que o homem, ou porque historicamente foi mais dominada e quem está nessa situação cria estratégias mentais para entender as reações do seu senhor (essa segunda hipótese se baseia em outra constatação, a de que os negros americanos têm essa capacidade de perspectiva mais aguçada do que os brancos, talvez pelo mesmo motivo de terem sido dominados). O fato é que tais hipóteses revelariam que essa não é uma característica natural na mulher, mas cultural. E, sendo assim, os homens também podem ser educados a desenvolver, tanto quanto as mulheres, essa capacidade. Segundo o autor, o pensamento em perspectiva “não é uma qualidade feminina e sim uma característica humana, plenamente humana”.

Alguns afirmam que essa capacidade só se desenvolve depois dos cinco anos, razão pela qual eu não estou utilizando metodicamente com meu filho.

5. Pensamento meio-fim: é a capacidade que temos de nos colocar objetivos claros, de priorizá-los segundo uma boa hierarquia de valores e de saber procurar os meios para atingi-los. Citando M. Csikszentmihalyi, “viver é ter objetivos e conviver é compartilhar objetivos”. Quando não temos objetivos claros, perdemos muito tempo. Quando não os priorizamos adequadamente, corremos o risco de não fazer o que é mais importante. “Eu acho, diz o autor, que a nossa época é um tempo de muitos meios (os meios técnicos, por exemplo, são cada vez mais frequentes em todos os campos das nossas vidas), mas não se encaixam em objetivos claros”. E eu acrescentaria que essa pode ser uma das razões mais profundas do consumismo marcante em nossa cultura. Note como esse pensamento, bem como os anteriores, supõe a inteligência intrapessoal: saber quais os objetivos mais importantes para mim supõe saber quem eu sou.

É importante ensinar os filhos e alunos a identificar os seus valores, pois isso é essencial para que eles identifiquem seus objetivos na vida. A partir daí, ensiná-los a planejar. Otimismo e pessimismo diante dos desafios são coisas que as crianças aprendem, por isso devemos ensiná-las a ser otimistas.

Por enquanto, não tenho visto oportunidades para ajudar meu filho a fazer isso. Alguma idéia aí?

06 julho 2009

Dê opções para seu filho

Permitir que a criança faça escolhas aumenta a autoestima. Veja dicas simples para ajudar seu filho, sem que o feitiço se volte contra o feiticeiro.

Certa vez, Tucker, então com quase dois anos, ficou muito frustrado porque o vento não lhe obedecia. Ele compreendia o que era o vento e normalmente se encantava com ele, mas nesse dia ele estava dizendo: "Vento, pare!" e fazendo gestos. Mas o vento não queria cooperar, e Tucker não estava gostando disso. O vento era apenas uma das muitas coisas que ele queria controlar, mas não podia fazê-lo.

As crianças pequenas desejam muito exercer algum tipo de autoridade sobre seu mundo. Você pode ajudá-las a sentir que têm um pouco de controle sobre suas vidas dando-lhes opções sempre que possível. Diante da geladeira: "Você prefere empanados de frango ou de peixe?". No parquinho: "Você quer brincar primeiro no escorregador ou no balanço?" Ao se vestir: "Hoje você quer pôr a camisa azul ou a vermelha?" Você pode lhe dar opções até no supermercado, perguntando: "Que melancia parece mais bonita, esta ou aquela?"

Basta ter o cuidado de só oferecer opções quando ele puder realmente decidir. Não diga: "Muito bem, filho, pronto para seu banho?" se você estiver decidida a mergulhá-lo na banheirinha naquele exato momento, independentemente do que ele diga. Se ele disser não e você não respeitar essa opção, ele vai se sentir muito pior do que se você dissesse apenas: "Hora do banho!" Não faça perguntas a menos que espere realmente uma resposta. Fazer uma pergunta e depois menosprezar a resposta serve apenas para ressaltar o fato de que a criança está impotente diante de uma situação.

Fonte: 101 maneiras de fazer uma criança feliz

04 julho 2009

A educação cristã dos filhos

Minha participação no programa Em Movimento, da Rádio Imperial de Petrópolis. Ouça. E, se tiver interesse, visite meu podcast.