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24 maio 2008

Esse dia também é seu!

No Brasil, comemoramos hoje o dia nacional da adoção. Fui procurado pela TV Globo para uma entrevista, uma vez que nosso primeiro filho foi adotado (tivemos mais dois depois dele).

A repórter fez duas perguntas que me pareceram bem importantes. Compartilho com vocês aqui, pois nesse espaço posso falar com mais calma, já que na TV cada segundo é milimetricamente aproveitado e editado.

A primeira pergunta foi: há diferença entre o filho adotado e o biológico?

É uma pergunta difícil. Escolhi dar a resposta mais simples, pois o programa visa a alcançar um grande público. O amor não depende do fato biológico, não nasce automaticamente da biologia. Na verdade, o amor vem do alto, não de baixo.

Aliás, isso, como católicos, já sabemos há muito tempo: Jesus mesmo disse que Maria era bem-aventurada não porque seus seios o amamentaram, mas porque ela ouviu a palavra de Deus e a pôs em prática. Disse mais: quem cumpre a vontade do Pai, esse é seu irmão, sua irmã e sua mãe. Ele apontou uma outra forma de ser família, não limitada aos vínculos da biologia.

Depois do fato biológico, deve acontecer algo importante sem o qual não há amor paterno-filial: o filho nascido precisa ser acolhido, reconhecido como filho, amado. Em outras palavras: precisa ser adotado! Sim, toda criança precisa ser adotada, mesmo as que geramos biologicamente. Quantas crianças nasceram fisicamente de seus pais, mas não foram adotadas por eles! Adoção significa acolher a vida.

Nesse sentido, não vejo diferença entre filho biológico ou adotado, porque, naquilo que importa, todos os filhos precisam ser adotados. Se não forem adotados, também não serão amados mas apenas tolerados, como filhos de estranhos (isso é, infelizmente, tão comum!).

Claro que cada um tem uma história particular, e um dia o meu primeiro filho deverá encarar não somente o fato de que "não nasceu da barriga", mas também encarar o fato ainda mais decisivo de que ele foi, desde sempre, pensado por Deus como nosso filho, e nós fomos, desde sempre, pensados como seus pais. Quando chegar a época de ele procurar por sua identidade, também ele não poderá ficar apenas no campo da biologia, mas deverá alargar seu olhar para contemplar a realidade toda, que só pode ser vista quando estiver aberto ao transcendente e à escuta da vontade de Deus. Que o Senhor me ajude a ensinar a todos os meus filhos a ver o mundo com os olhos de Deus!

A segunda pergunta: o que você acha de toda a burocracia no processo de adoção?

Sinceramente, acho que a burocracia é necessária. Pode ser sempre aperfeiçoada, mas alguma burocracia me parece indispensável. O bem da criança exige que o poder público tome precauções para que a criança não sofra uma nova rejeição ou coisa ainda pior. Quando estamos em processo de adoção (o meu levou 2 anos), estamos particularmente sensíveis e ansiosos. Os pretendentes à adoção devem estar atentos a isso, para terem maior autodomínio.

Por outro lado, todos os demais envolvidos (juízes, promotores, assistentes sociais, psicólogos, serventuários da justiça) devem também estar sensíveis a esse momento especial para os pais. Devem tratá-los com cordialidade (no sentido mesmo dessa palavra, que tem a ver com "coração").

Da minha parte, recomendo a todos que cogitem da possibilidade de adotar. Não só criança pequena, mas também um pouco maior.

E falando especialmente para católicos eu acrescentaria: lembremos que Jesus também quis ter um coração de filho adotivo. Não me surpreenderia -antes, me parece bastante humano- que sua relação filial com José tenha influenciado decisivamente na forma como aprendeu a amar ao Pai com coração humano. Se queremos ser felizes, precisamos ter um coração como o de Jesus. Isso significa também ter um coração de filhos adotivos. Do contrário, como chamar a Deus de "Pai"?

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