kkkkk
ççççç
Relacionamento familiar, educação, saúde, comportamento, e tudo aquilo que permite que nossas famílias sejam lugar de encontro com os irmãos e com Deus.
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28 maio 2008
24 maio 2008
Esse dia também é seu!
No Brasil, comemoramos hoje o dia nacional da adoção. Fui procurado pela TV Globo para uma entrevista, uma vez que nosso primeiro filho foi adotado (tivemos mais dois depois dele).
A repórter fez duas perguntas que me pareceram bem importantes. Compartilho com vocês aqui, pois nesse espaço posso falar com mais calma, já que na TV cada segundo é milimetricamente aproveitado e editado.
A primeira pergunta foi: há diferença entre o filho adotado e o biológico?
É uma pergunta difícil. Escolhi dar a resposta mais simples, pois o programa visa a alcançar um grande público. O amor não depende do fato biológico, não nasce automaticamente da biologia. Na verdade, o amor vem do alto, não de baixo.
Aliás, isso, como católicos, já sabemos há muito tempo: Jesus mesmo disse que Maria era bem-aventurada não porque seus seios o amamentaram, mas porque ela ouviu a palavra de Deus e a pôs em prática. Disse mais: quem cumpre a vontade do Pai, esse é seu irmão, sua irmã e sua mãe. Ele apontou uma outra forma de ser família, não limitada aos vínculos da biologia.
Depois do fato biológico, deve acontecer algo importante sem o qual não há amor paterno-filial: o filho nascido precisa ser acolhido, reconhecido como filho, amado. Em outras palavras: precisa ser adotado! Sim, toda criança precisa ser adotada, mesmo as que geramos biologicamente. Quantas crianças nasceram fisicamente de seus pais, mas não foram adotadas por eles! Adoção significa acolher a vida.
Nesse sentido, não vejo diferença entre filho biológico ou adotado, porque, naquilo que importa, todos os filhos precisam ser adotados. Se não forem adotados, também não serão amados mas apenas tolerados, como filhos de estranhos (isso é, infelizmente, tão comum!).
Claro que cada um tem uma história particular, e um dia o meu primeiro filho deverá encarar não somente o fato de que "não nasceu da barriga", mas também encarar o fato ainda mais decisivo de que ele foi, desde sempre, pensado por Deus como nosso filho, e nós fomos, desde sempre, pensados como seus pais. Quando chegar a época de ele procurar por sua identidade, também ele não poderá ficar apenas no campo da biologia, mas deverá alargar seu olhar para contemplar a realidade toda, que só pode ser vista quando estiver aberto ao transcendente e à escuta da vontade de Deus. Que o Senhor me ajude a ensinar a todos os meus filhos a ver o mundo com os olhos de Deus!
A segunda pergunta: o que você acha de toda a burocracia no processo de adoção?
Sinceramente, acho que a burocracia é necessária. Pode ser sempre aperfeiçoada, mas alguma burocracia me parece indispensável. O bem da criança exige que o poder público tome precauções para que a criança não sofra uma nova rejeição ou coisa ainda pior. Quando estamos em processo de adoção (o meu levou 2 anos), estamos particularmente sensíveis e ansiosos. Os pretendentes à adoção devem estar atentos a isso, para terem maior autodomínio.
Por outro lado, todos os demais envolvidos (juízes, promotores, assistentes sociais, psicólogos, serventuários da justiça) devem também estar sensíveis a esse momento especial para os pais. Devem tratá-los com cordialidade (no sentido mesmo dessa palavra, que tem a ver com "coração").
A repórter fez duas perguntas que me pareceram bem importantes. Compartilho com vocês aqui, pois nesse espaço posso falar com mais calma, já que na TV cada segundo é milimetricamente aproveitado e editado.
A primeira pergunta foi: há diferença entre o filho adotado e o biológico?
É uma pergunta difícil. Escolhi dar a resposta mais simples, pois o programa visa a alcançar um grande público. O amor não depende do fato biológico, não nasce automaticamente da biologia. Na verdade, o amor vem do alto, não de baixo.
Aliás, isso, como católicos, já sabemos há muito tempo: Jesus mesmo disse que Maria era bem-aventurada não porque seus seios o amamentaram, mas porque ela ouviu a palavra de Deus e a pôs em prática. Disse mais: quem cumpre a vontade do Pai, esse é seu irmão, sua irmã e sua mãe. Ele apontou uma outra forma de ser família, não limitada aos vínculos da biologia.
Depois do fato biológico, deve acontecer algo importante sem o qual não há amor paterno-filial: o filho nascido precisa ser acolhido, reconhecido como filho, amado. Em outras palavras: precisa ser adotado! Sim, toda criança precisa ser adotada, mesmo as que geramos biologicamente. Quantas crianças nasceram fisicamente de seus pais, mas não foram adotadas por eles! Adoção significa acolher a vida.
Nesse sentido, não vejo diferença entre filho biológico ou adotado, porque, naquilo que importa, todos os filhos precisam ser adotados. Se não forem adotados, também não serão amados mas apenas tolerados, como filhos de estranhos (isso é, infelizmente, tão comum!).
Claro que cada um tem uma história particular, e um dia o meu primeiro filho deverá encarar não somente o fato de que "não nasceu da barriga", mas também encarar o fato ainda mais decisivo de que ele foi, desde sempre, pensado por Deus como nosso filho, e nós fomos, desde sempre, pensados como seus pais. Quando chegar a época de ele procurar por sua identidade, também ele não poderá ficar apenas no campo da biologia, mas deverá alargar seu olhar para contemplar a realidade toda, que só pode ser vista quando estiver aberto ao transcendente e à escuta da vontade de Deus. Que o Senhor me ajude a ensinar a todos os meus filhos a ver o mundo com os olhos de Deus!
A segunda pergunta: o que você acha de toda a burocracia no processo de adoção?
Sinceramente, acho que a burocracia é necessária. Pode ser sempre aperfeiçoada, mas alguma burocracia me parece indispensável. O bem da criança exige que o poder público tome precauções para que a criança não sofra uma nova rejeição ou coisa ainda pior. Quando estamos em processo de adoção (o meu levou 2 anos), estamos particularmente sensíveis e ansiosos. Os pretendentes à adoção devem estar atentos a isso, para terem maior autodomínio.
Por outro lado, todos os demais envolvidos (juízes, promotores, assistentes sociais, psicólogos, serventuários da justiça) devem também estar sensíveis a esse momento especial para os pais. Devem tratá-los com cordialidade (no sentido mesmo dessa palavra, que tem a ver com "coração").
Da minha parte, recomendo a todos que cogitem da possibilidade de adotar. Não só criança pequena, mas também um pouco maior.
E falando especialmente para católicos eu acrescentaria: lembremos que Jesus também quis ter um coração de filho adotivo. Não me surpreenderia -antes, me parece bastante humano- que sua relação filial com José tenha influenciado decisivamente na forma como aprendeu a amar ao Pai com coração humano. Se queremos ser felizes, precisamos ter um coração como o de Jesus. Isso significa também ter um coração de filhos adotivos. Do contrário, como chamar a Deus de "Pai"?
E falando especialmente para católicos eu acrescentaria: lembremos que Jesus também quis ter um coração de filho adotivo. Não me surpreenderia -antes, me parece bastante humano- que sua relação filial com José tenha influenciado decisivamente na forma como aprendeu a amar ao Pai com coração humano. Se queremos ser felizes, precisamos ter um coração como o de Jesus. Isso significa também ter um coração de filhos adotivos. Do contrário, como chamar a Deus de "Pai"?
08 maio 2008
07 maio 2008
Contribuições da Igreja Católica para o Direito do século XX
Aqui está o áudio de uma palestra muito boa proferida pelo Bispo Auxiliar de Niterói-RJ, na Universidade Católica de Petrópolis. Você pode ouvir aqui mesmo no site, ou pode baixar aqui (10,003Kb).
06 maio 2008
House: relação entre televisão e bioética
A notícia não é muito recente, mas vale a pena pelos temas de fundo. Agradeço ao Silvio, por ter me enviado essa notícia.
ROMA, segunda-feira, 10 de setembro de 2007 (ZENIT.org).- Existe uma curiosa relação entre televisão e bioética, explica o Dr. Carlos Valério Bellieni, do Departamento de Terapia Intensiva Neonatal da Policlínica Universitária «Le Scotte», de Siena, e membro da Academia Pontifícia para a Vida.
Constatando o enorme êxito que as séries de médicos e hospitais têm, o especialista em bioética analisou com Zenit, em particular, a série «House», estreada nos Estados Unidos em 2004 pela rede Fox, e entre 2006 e 2007 em vários países de língua espanhola e também portuguesa.
«É uma série que mostra algo interessante: saindo do rebanho, o médico não se deixa levar pelos elogios aos bem conhecidos jargões do relativismo ético na Medicina», que Bellieni descreve assim: «o paciente é último tribunal; o médico um 'provedor de um serviço'; não existe capacidade alguma para emitir juízos morais sobre os comportamentos na Medicina».
Politicamente incorreto
House, com sua autonomia de juízo, é «politicamente incorreto» – «ainda que com alguma exceção» –, acrescenta o cientista. O interessante é que esses juízos procedem de uma personagem «em constante luta com o mundo».
«A força da série está precisamente na transformação do protagonista, em suas dúvidas e seus limites.»
O seriado parece ser uma apologia da frieza ante o paciente: narra a história de um médico (Gregory House) misantropo e antipático, que não quer ter contato humano com os pacientes.
«Esta distância, devida a seu próprio sofrimento existencial e físico, é, contudo, só aparente. Ainda permanecendo descortês e anti-social, em cada momento e com insistência ele procura chegar ao fundo da pessoa que deve curar», explica o Dr. Bellieni.
«Parte de seu próprio sofrimento consiste em reconhecer o dos demais, e às vezes é justamente esta reflexão que o faz ver coisas que não são vistas por aqueles que o rodeiam.»
«Fala de maneira brusca com os pacientes para convencê-los de que aceitem um determinado tratamento, não para agradá-los. Sabe que existe um bom comportamento médico e um equivocado, e quer que seus pacientes escolham o bom.»
Paternalismo?
Alguns poderiam acusar o doutor House de paternalismo. Mas seu colega na vida real considera que este defeito poderia ser muito melhor «que quem deixa o paciente sozinho ante um diagnóstico feito de palavras e números, 'livre' para escolher se quer morrer ou viver».
«Em resumo: com freqüência as palavras, e certas palavras doces e piedosas muito na moda – diz-nos com um paradoxo o autor do seriado –, servem para disfarçar a distância entre as pessoas», declara.
«Tudo isso – constata o especialista em bioética – se sublinha muito bem com a trilha sonora, muito rica em música de tema religioso, e que mostra a insatisfação de uma vida sem sentido; entre as peças musicais estão, por exemplo, a belíssima 'Desire' de Ryan Adams ou 'Hallellujah', de Jeff Buckley», indica.
Valores
Bellieni percebeu valores nesta série. O primeiro, explica, é que «o médico não é o 'provedor de um serviço', para quem cada petição de um paciente é igual a qualquer outra, mas que sabe distinguir entre uma boa resposta e uma má, e sabe encontrar a força para não proporcionar a segunda».
Por exemplo, explica, «House mantém o músico de jazz entubado, apesar de todos terem medo de transgredir seu 'testamento biológico'; e também sua colega 'Cuddy' faz algo similar: ao pedido de uma injeção de morfina, na realidade lhe injeta um placebo».
Em segundo lugar, recorda, «a relação entre médico e paciente nunca tem um só sentido. Não está somente o que dá (o médico) e o que recebe (o enfermo), mas o médico, ou se coloca em atitude de aprender do enfermo, de sua força e de seu empenho – percebendo os sinais escondidos que lança ... –, ou do contrário daria um tratamento truncado, ineficaz».
«House cura uma criança autista conseguindo, só ele, entrar em contato com o menino; e não só isso, mas, ao final – quando parece deixar-se envolver pelo pensamento de que talvez curar uma criança autista, que é muito difícil de guiar, seja uma espécie de obstinação terapêutica –, a criança se aproxima dele, olha nos seus olhos e lhe dá seu brinquedo...»
«Surpreende todos – uma criança autista dificilmente fixa o olhar em outro nem mantém relações – e alegra seus pais, apesar da certeza da grandíssima dificuldade; inclusive dá ao doutor House a ocasião de refletir sobre si mesmo.»
«O protagonista vai inclusive falar com uma mulher da empresa, deprimida, que espera que a coloquem na lista de espera para um transplante de coração, e lhe pergunta gritando: 'Mas você quer viver? Diga-me, porque mesmo eu ainda não sei!'. E não o faz para que ela faça um 'testamento biológico', mas para despertar nela (em si mesmo!) o amor à vida.»
Um homem com erros
«Certamente, House, como pessoa, não é um santo, e às vezes se equivoca em suas decisões morais. Mas se fosse um santo, seria surpreendente assim ouvi-lo argumentar, como de fato acontece, contra a droga ou o sexo incestuoso, ou contra a fundação heteróloga [na qual participa uma terceira pessoa diferente aos pais legais, ndr]? Seria tão 'forte' ouvi-lo fazer-se perguntas sobre a humanidade de um feto?»
«Em alguns momentos, os comentários positivos vêm de outras personagens da série. Por exemplo, quando, frente ao cinismo de House, a ajudante pergunta: 'Mas é preciso ser religioso para compreender que um feto é vida?'. Ou a colega – a quem perguntam por uma menina que perderá o braço, 'que qualidade de vida terá' e ela responde: 'A vida tem sempre qualidades'.»
Estupor ante o paciente
«O doutor House se deixa surpreender. Equivoca-se, mas sabe reconhecer o humano quando o encontra. Este é um aspecto importante, com freqüência esquecido na atividade médica: o estupor ante a misteriosa humanidade de um paciente.»
«House se deixa abraçar pela menina com tumor, a quem prolongou a vida por um ano, e impressionado pela força moral da pequena, chega a mudar seu estilo de vida.»
«Fica maravilhado ante a mãozinha do feto que sai do útero materno, durante uma operação, e toca a sua. Fica o dia todo olhando o dedo com o qual tocou a mãozinha, perguntando-se quem é essa vida que ninguém conhece como humana (talvez nem sequer ele), mas que o acariciou».
«Seu estupor é a base de sua habilidade para curar», revela Bellieni.
«House parece não estar nunca disponível para os pacientes... Não é um médico bondoso, está cheio de dor; mas guarda uma exigência de significado que não lhe permite desesperar-se. Por isso impressiona, em um momento no qual parece que só o próprio capricho tem valor, em especial na Medicina», conclui o especialista em bioética.
ROMA, segunda-feira, 10 de setembro de 2007 (ZENIT.org).- Existe uma curiosa relação entre televisão e bioética, explica o Dr. Carlos Valério Bellieni, do Departamento de Terapia Intensiva Neonatal da Policlínica Universitária «Le Scotte», de Siena, e membro da Academia Pontifícia para a Vida.
Constatando o enorme êxito que as séries de médicos e hospitais têm, o especialista em bioética analisou com Zenit, em particular, a série «House», estreada nos Estados Unidos em 2004 pela rede Fox, e entre 2006 e 2007 em vários países de língua espanhola e também portuguesa.
«É uma série que mostra algo interessante: saindo do rebanho, o médico não se deixa levar pelos elogios aos bem conhecidos jargões do relativismo ético na Medicina», que Bellieni descreve assim: «o paciente é último tribunal; o médico um 'provedor de um serviço'; não existe capacidade alguma para emitir juízos morais sobre os comportamentos na Medicina».
Politicamente incorreto
House, com sua autonomia de juízo, é «politicamente incorreto» – «ainda que com alguma exceção» –, acrescenta o cientista. O interessante é que esses juízos procedem de uma personagem «em constante luta com o mundo».
«A força da série está precisamente na transformação do protagonista, em suas dúvidas e seus limites.»
O seriado parece ser uma apologia da frieza ante o paciente: narra a história de um médico (Gregory House) misantropo e antipático, que não quer ter contato humano com os pacientes.
«Esta distância, devida a seu próprio sofrimento existencial e físico, é, contudo, só aparente. Ainda permanecendo descortês e anti-social, em cada momento e com insistência ele procura chegar ao fundo da pessoa que deve curar», explica o Dr. Bellieni.
«Parte de seu próprio sofrimento consiste em reconhecer o dos demais, e às vezes é justamente esta reflexão que o faz ver coisas que não são vistas por aqueles que o rodeiam.»
«Fala de maneira brusca com os pacientes para convencê-los de que aceitem um determinado tratamento, não para agradá-los. Sabe que existe um bom comportamento médico e um equivocado, e quer que seus pacientes escolham o bom.»
Paternalismo?
Alguns poderiam acusar o doutor House de paternalismo. Mas seu colega na vida real considera que este defeito poderia ser muito melhor «que quem deixa o paciente sozinho ante um diagnóstico feito de palavras e números, 'livre' para escolher se quer morrer ou viver».
«Em resumo: com freqüência as palavras, e certas palavras doces e piedosas muito na moda – diz-nos com um paradoxo o autor do seriado –, servem para disfarçar a distância entre as pessoas», declara.
«Tudo isso – constata o especialista em bioética – se sublinha muito bem com a trilha sonora, muito rica em música de tema religioso, e que mostra a insatisfação de uma vida sem sentido; entre as peças musicais estão, por exemplo, a belíssima 'Desire' de Ryan Adams ou 'Hallellujah', de Jeff Buckley», indica.
Valores
Bellieni percebeu valores nesta série. O primeiro, explica, é que «o médico não é o 'provedor de um serviço', para quem cada petição de um paciente é igual a qualquer outra, mas que sabe distinguir entre uma boa resposta e uma má, e sabe encontrar a força para não proporcionar a segunda».
Por exemplo, explica, «House mantém o músico de jazz entubado, apesar de todos terem medo de transgredir seu 'testamento biológico'; e também sua colega 'Cuddy' faz algo similar: ao pedido de uma injeção de morfina, na realidade lhe injeta um placebo».
Em segundo lugar, recorda, «a relação entre médico e paciente nunca tem um só sentido. Não está somente o que dá (o médico) e o que recebe (o enfermo), mas o médico, ou se coloca em atitude de aprender do enfermo, de sua força e de seu empenho – percebendo os sinais escondidos que lança ... –, ou do contrário daria um tratamento truncado, ineficaz».
«House cura uma criança autista conseguindo, só ele, entrar em contato com o menino; e não só isso, mas, ao final – quando parece deixar-se envolver pelo pensamento de que talvez curar uma criança autista, que é muito difícil de guiar, seja uma espécie de obstinação terapêutica –, a criança se aproxima dele, olha nos seus olhos e lhe dá seu brinquedo...»
«Surpreende todos – uma criança autista dificilmente fixa o olhar em outro nem mantém relações – e alegra seus pais, apesar da certeza da grandíssima dificuldade; inclusive dá ao doutor House a ocasião de refletir sobre si mesmo.»
«O protagonista vai inclusive falar com uma mulher da empresa, deprimida, que espera que a coloquem na lista de espera para um transplante de coração, e lhe pergunta gritando: 'Mas você quer viver? Diga-me, porque mesmo eu ainda não sei!'. E não o faz para que ela faça um 'testamento biológico', mas para despertar nela (em si mesmo!) o amor à vida.»
Um homem com erros
«Certamente, House, como pessoa, não é um santo, e às vezes se equivoca em suas decisões morais. Mas se fosse um santo, seria surpreendente assim ouvi-lo argumentar, como de fato acontece, contra a droga ou o sexo incestuoso, ou contra a fundação heteróloga [na qual participa uma terceira pessoa diferente aos pais legais, ndr]? Seria tão 'forte' ouvi-lo fazer-se perguntas sobre a humanidade de um feto?»
«Em alguns momentos, os comentários positivos vêm de outras personagens da série. Por exemplo, quando, frente ao cinismo de House, a ajudante pergunta: 'Mas é preciso ser religioso para compreender que um feto é vida?'. Ou a colega – a quem perguntam por uma menina que perderá o braço, 'que qualidade de vida terá' e ela responde: 'A vida tem sempre qualidades'.»
Estupor ante o paciente
«O doutor House se deixa surpreender. Equivoca-se, mas sabe reconhecer o humano quando o encontra. Este é um aspecto importante, com freqüência esquecido na atividade médica: o estupor ante a misteriosa humanidade de um paciente.»
«House se deixa abraçar pela menina com tumor, a quem prolongou a vida por um ano, e impressionado pela força moral da pequena, chega a mudar seu estilo de vida.»
«Fica maravilhado ante a mãozinha do feto que sai do útero materno, durante uma operação, e toca a sua. Fica o dia todo olhando o dedo com o qual tocou a mãozinha, perguntando-se quem é essa vida que ninguém conhece como humana (talvez nem sequer ele), mas que o acariciou».
«Seu estupor é a base de sua habilidade para curar», revela Bellieni.
«House parece não estar nunca disponível para os pacientes... Não é um médico bondoso, está cheio de dor; mas guarda uma exigência de significado que não lhe permite desesperar-se. Por isso impressiona, em um momento no qual parece que só o próprio capricho tem valor, em especial na Medicina», conclui o especialista em bioética.