"Algo que muita gente secretamente acreditava foi confirmado: você, na verdade, não precisa de um cérebro para trabalhar em um departamento tributário".
Assim começa a reportagem do site Spiegel Online. Um homem, atualmente com 44 anos e funcionário da Receita francesa, leva uma vida normal apesar do tamanho de seu cérebro, muito menor do que o esperado. O caso veio a público depois de que neurologistas da Universidade de Marselha descreveram o fato no jornal científico Lancet, na última sexta-feira.
A mesma matéria pode ser encontrada no site da Reuters em inglês, do qual destaco a expressiva declaração: "'O que eu acho incrível é como o cérebro pode lidar com algo que se pensa ser incompatível com a vida', comentou Dr. Max Muenke, um pediatra especialista em cérebro defeituoso do Instituto Nacional de Pesquisa sobre Genoma Humano".
Quando criança, foi descoberto e tratado seu quadro de hidrocefalia, sendo colocada uma válvula para drenar a água no cérebro. A válvula foi retirada aos 14 anos e o homem seguiu sua vida normalmente, inclusive se casando e tendo dois filhos.
A reportagem termina afirmando que existem outros casos de pessoas com cérebros incrivelmente pequenos, e suas poucas células nervosas são capazes de conseguir aquilo que, em outros casos, milhares de células fazem.
Esses casos nos fazem ver que o valor de uma pessoa não está em sua capacidade laborativa, não está em suas aptidões, não está em sua produtividade ou utilidade. O ser humano tem valor porque é transcendente, porque há algo nele que o torna qualitativamente mais valioso do que tudo o que há neste mundo. Não perde o valor porque lhe falta uma parte do corpo, nem tem mais valor por ser mais saudável.
Não fica muito claro se o caso é de hidrocefalia ou anencefalia, mas de qualquer maneira nos convida a refletir no valor da vida humana nessas condições.
Os casos de anencefalia nos questionam. Quando um casal descobre que vai ter um filho, enche-se de esperança pelo futuro, imaginando o que seu filho será ou fará. A sombra da morte parece não fazer parte deste cenário, e quando uma doença é diagnosticada, toda aquela esperança dá lugar à angústia e ao medo. É humanamente natural que esse sofrimento surja num primeiro instante, mas se encaramos a realidade tal como ela é (especialmente, a realidade total, que inclui a transcendência e a eternidade, dimensão que não pode faltar numa compreensão adequada e realista da vida), poderemos compreender a vocação de nossos filhos. Pois todos estão chamados a se realizar na presença de Deus, todos mesmo: sua esposa, seu vizinho, seu patrão, as pessoas que você ama ou não, e também os anencéfalos. Cada um é chamado a ocupar o seu próprio lugar na criação, sem cair na tentação de achar que seu lugar é mais ou menos importante. Lembremos que Cristo, a pedra angular, se humilhou até a morte, e morte de cruz.
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