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02 outubro 2006

Paternidade máxima.

No outro domingo, saí da missa e fui compartilhando com minha esposa sobre a leitura do Evangelho. Procurava entender o nexo entre todo o relato e o seu desfecho, que me pareceu, a princípio, dissonante do conjunto.

Era a leitura de Mc 9, 35-37. Depois de uma discussão entre os apóstolos sobre quem seria o maior dentre eles, Jesus adverte que é maior aquele que serve aos demais, apontando que a grandeza do cristão está no serviço. Até aí, o relato transcorre normalmente, mas, de repente, Jesus toma uma criança em seu braço e afirma: "Quem receber uma criança em meu nome, é a mim que recebe".

Qual seria a relação entre as duas idéias, ou seja, "o maior é aquele que serve" e "quem acolhe uma criança em meu nome é a mim que acolhe"?

Eu e minha esposa continuávamos a caminhar e a pensar nessas coisas. O chamado ao serviço é colocado em termos bem concretos pelo Senhor. Ele não faz grandes discursos teóricos, nem aponta qualquer serviço extraordinário, mas sim o serviço cotidiano da paternidade/maternidade.

Depois de uma rápida parada na padaria para comprar biscoito de polvilho para o nosso bebê, continuamos o diálogo. Acolher o filho em nome do Senhor é viver o serviço de maneira bastante concreta. É um caminho largo para "sermos grandes".

Não é muito fácil para nossa cultura reconhecer no serviço um ideal de vida. Pelo contrário, o que parece contar é o sucesso, o prestígio, o poder. Somos ciosos de nossa liberdade, entendendo-a como ausência de todo e qualquer vínculo que limite nossos desejos. É a "liberdade de" expressão, pensamento, imposições éticas, deveres conjugais, etc.

Não à toa, num contexto assim os filhos podem ser vistos como ameaça à liberdade. Por isso, ter um filho deve ser muito bem pensado, calculado com minúcias, planejado à exaustão. Brada-se por "paternidade responsável" (o que é corretíssimo), mas age-se na verdade à procura de uma "paternidade mínima".

Mínima não só na quantidade de filhos. Quem não conhece o comportamento dos pais que se desresponsabilizam da educação dos filhos, exigindo que esta seja prestada originariamente pela escola? Encaram isso como um "direito do consumidor". Quem nunca viu um pai que não se dá ao trabalho de disciplinar os filhos, deixando todo o encargo à mãe? E se atua, é para a desautorizar. Quam já não ouviu as queixas de uma mulher, reclamando que não tem vida própria por causa dos filhos e marido? Ou o pai que chega em casa, depois de um longo dia de trabalho e trânsito intensos, querendo se ver "livre de" exigências, filhos, tarefas? E, pelo amor de Deus, que a mulher dê um jeito nessas crianças!

Minha mulher sorriu ironicamente para mim. Bem, continuemos... O Senhor Jesus aponta um caminho novo para a auto-realização, para sermos de fato grandes. Esse caminho novo exige que abandonemos a falsa idéia da "liberdade de", e descubramos a "liberdade para o outro". É essa liberdade que pode fazer de nossas famílias verdadeiras "comunidades de vida e amor", como foi a Família de Nazaré. E então teremos a alegria de experimentar a "paternidade máxima" (essa, sim, responsável), vivendo intensamente a vida cotidiana em família.

Quando os apóstolos discutiam sobre quem seria o maior, na verdade acho que eram motivados por um desejo legítimo do coração humano, feito à imagem e semelhança do próprio Deus: o desejo de sermos grandes, de sermos maiores. Se, de fato, fomos feitos para para compartilhar da vida da Trindade, é claro que fomos feitos para sermos muito, mas muito grandes. A serpente parecia saber disso quando convidava nossos primeiros pais à desobediência, sussurrando em seu coração: "sereis como deuses". O desejo de poder e domínio é uma deturpação da nossa vocação de sermos filhos de Deus, porque Ele manifesta seu poder sobretudo no perdão, na misericórdia, no amor. Por isso, a grandeza da mulher e do homem passa pela capacidade de amor, ou seja, de fazer o dom de si, no matrimônio, na família, na sociedade e na Igreja.
Enquanto abríamos a porta de nosso apartamento, estávamos agradecidos a Deus por nos ter apontado a paternidade/maternidade como caminho para sermos grandes. Chegamos em casa. O caminho continua.

Um comentário:

  1. Olá!

    Tenho acompanhado este blog, e lido alguns textos.

    Bem, concordo q numa família deve existir o amor, a união e o perdão, q deve-se fazer o POSSÍVEL p/ se preservar um casamento, q se deve fazer com q, na medida do possível, fazer um esforço p/ q o ambiente familiar seja, acima de um mero conjunto de pessoas habitando nmo mesmo teto, um grande ninho de amor, afeto, carinho, etc. Mas tenho em mente q cada um escolhe o q fazer da sua vida no tocante
    a se casar ou não e ao número de filhos q se deseja ter, até pq cada um sabe de si e aonde dói os próprios calos, bem como os as suas limitações econômicas e psicológicas. Quem desejar - e achar q pode - ter 5, 7, 8 filhos, q os tenha e seja feliz, quem quiser ter 2, q tenha e seja feliz, e quem não quiser ter nenhum, q não os tenha e seja feliz tb, afinal, tenho certeza de q Jesus nunca julgará alguém pelo número de filhos q cada um tenha.

    Abraços a todos e q Deus os abençoe e ilumine sempre!

    Eneida.

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